Devastação deve ser muito maior do que a vista em 2019; queimadas prejudicarão vítimas da Covid
O desmatamento na Amazônia que será divulgado em novembro deste ano, será muito maior que o de 2019. As projeções, com base nos dados dos últimos quatro anos, indicam que a taxa deverá ficar entre 12 mil km2 e 16 mil km2, configurando uma escalada de aumento de destruição da maior floresta tropical do planeta só comparável aos piores momentos de sua história.
Será a consolidação do fim do longo período de reduções na perda da cobertura florestal obtidas com a implantação Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento da Amazônia, lançado em 2004.
Essa taxa, excessivamente alta para esse período do ano, será fortemente pressionada por dois fatores. O primeiro é que o desmatamento mensal medido pelo Deter foi muito maior que o verificado em todos os meses do ano anterior e maior que a média para esses meses nos últimos quatro anos. Ou seja, está configurada uma tendência de alta que não se alterou mesmo durante ou após a intervenção das forças armadas, por meio da GLO (Garantia da Lei e da Ordem), ocorrida em 2019.
Nos meses de agosto, setembro e outubro daquele ano o desmatamento cresceu 224,4%, 94,62% e 5,63%, respectivamente, a despeito da presença dos mais de 7.000 soldados na região. Pior, com a saída deles o desmatamento continuou crescendo a taxas superiores a 100%, ou seja, dobrando a cada mês em relação ao mesmo mês do ano anterior até fevereiro de 2020, quando as chuvas se intensificaram.
O segundo fator, ainda mais preocupante, é que estamos entrando no período de estiagem na Amazônia, que vai até outubro, dependendo das variações climáticas de cada ano. Como ocorre desde que o Prodes foi implantado, em 1988, os próximos meses registrarão um aumento acelerado do desmatamento e das queimadas, facilitados pela redução das chuvas que atrapalham as operação no campo.
Para além do inaceitável desastre socioambiental e suas consequências para o agravamento das mudanças climáticas e os impactos na regularidade das chuvas essenciais para a economia e o abastecimento de milhões de pessoas, neste ano o aumento de fumaça das queimadas que vêm após o desmatamento provocará um dano adicional: prejudicará diretamente o atendimento às vítimas da Covid-19 que se multiplicam rapidamente pela região. Segundo pesquisa da Fiocruz, no auge das queimadas de 2019 as internação de crianças por problemas respiratórios na Amazônia dobrou, chegando a ocupar 12% dos leitos nos hospitais.
Em meio a essa tragédia em curso, nossos deputados federais se envolvem na discussão de um projeto de lei que pretende flexibilizar a regularização fundiária na Amazônia, criando, mesmo que negado por alguns ingênuos bem intencionados, uma corrida especulativa e uma nova onda de grilagem e violência na região.
A soma de irresponsabilidade, falta de planejamento e a opção por medidas midiáticas,como a nova GLO recém-decretada, nos levará para uma situação de descontrole jamais vista na Amazônia.