*Rafael Ferraz , head de Artes Brasil do British Council
Poucos colocam em dúvida a importância do Brasil como indutor de práticas sustentáveis para o mundo todo. Seja por meio da preservação do meio ambiente, do combate ao desmatamento ou da presença majoritária das energias renováveis em sua matriz energética, o país reúne todas as condições para exercer protagonismo global na adoção de soluções ecoeficientes, capazes de produzir avanços ambientais importantes.
Nós, brasileiros, temos lugar de fala quando o objetivo é fazer isso acontecer. É indiscutível a liderança global que o Brasil exerce na geração de energia limpa, por exemplo. Só em 2023, mais de 90% de toda a energia elétrica gerada em território nacional veio de fontes renováveis – ou seja, usinas hidrelétricas, eólicas, solares e de biomassa. Os dados foram levantados pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). No mesmo ano, o país conseguiu reduzir o desmatamento em 36% nas suas matas nativas e em 39% apenas no bioma amazônico, segundo a plataforma Global Forest Watch, do World Resources Institute.
No contexto do Dia Mundial da Terra, celebrado neste mês de abril, aproveito esse espaço para transmitir uma mensagem crucial para o nosso futuro: é urgente aproveitar o enorme potencial desses avanços para além dos debates ambientais e políticos. Precisamos incluir a cultura como elemento fundamental para a ação climática e para o desenvolvimento sustentável.
Tantas vantagens podem (e devem) se estender também para o crescimento econômico sustentável de diversos segmentos – inclusive onde os impactos ambientais podem não ser tão visíveis. Um deles é o pujante mercado brasileiro de festivais culturais. Se é verdade que o Brasil possui o compromisso, a capacidade e a vocação para contribuir com avanços importantes no campo da sustentabilidade, eu acredito na força dos festivais como plataformas de comunicação poderosas o suficiente para engajar o público na direção da conscientização e da ação climáticas, assim como para conduzir artistas, realizadores, fornecedores e patrocinadores para a adoção de práticas sustentáveis, catalisando uma transformação no setor cultural como um todo.
Conhecidos por celebrar a diversidade criativa e conectar comunidades, organizadores de festivais estão sendo desafiados a ir além da boa curadoria artística, assumindo compromissos também com uma operação com menos impacto ambiental. Felizmente, por meio de iniciativas como o programa Cultura Circular, do British Council, realizadores de festivais na América Latina e Caribe já têm aproveitado a chance de promover uma transformação sustentável em seus eventos, contribuindo para um futuro ambientalmente mais equilibrado.
Com uma clareza maior sobre suas responsabilidades socioambientais, carnavais e festivais podem rumar em direção ao crescimento sustentável. Tendo em vista a grande contribuição do segmento para o PIB, o reaquecimento da economia e a geração de emprego e renda, está mais do que na hora de fortalecer o compromisso do setor com a preservação do meio ambiente.
A transformação sustentável de festivais já está em curso ao redor do mundo. E, à medida que eventos culturais fortalecem a aliança entre avanços ambientais e o contexto socioeconômico dos territórios onde atuam, teremos uma transição justa e democrática.
*Rafael Ferraz é Head de Artes Brasil do British Council
Meu papel é promover um diálogo cultural entre Brasil e Reino Unido construindo parcerias com lideranças e organizações no segmento artístico para conectar comunidades e públicos de ambas as nações. Através de diversos projetos e atividades, crio espaços propícios às interações entre agentes culturais que compartilham ideias sobre desafios sociais e artísticos.