Durante os quase dois anos de pandemia, o home office começou a ser seguido, fazendo com que muitas pessoas entrassem em uma onda de estresse; com este cenário, as empresas precisam pensar em medidas para tornar o ambiente de trabalho menos abusivo; especialistas listam dicas
O estresse excessivo no ambiente de trabalho afeta centenas de trabalhadores e merece atenção das empresas. Esses sintomas já são conhecidos pela Organização Mundial da Saúde como Síndrome de Burnout, onde é preciso procurar formas de implementar medidas no ambiente de trabalho tanto para evitá-la quanto para ajudar a tratá-la. Para se ter uma ideia, segundo uma pesquisa realizada pelo Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, os casos de burnout apresentaram um aumento expressivo durante a pandemia.
De acordo com a Mentora de Feminismo e Inclusão Mayra Cardozo, especialista em Direitos Humanos, as empresas estão sendo reconhecidas pelo potencial de não violarem a lei e os direitos humanos. “Mas também é preciso implementar uma política com um impacto transformador na sociedade, mudanças transformadoras. Antes, as empresas tinham um papel mais passivo em somente respeitar leis, e agora elas têm posturas mais ativas de implementar uma missão de proteção de direitos humanos para construir uma sociedade melhor”, explica.
Para a psicóloga Vanessa Gebrim, um ambiente de trabalho humanizado reúne condições dignas, confortáveis e, na medida do possível, divertidas para aliviar o estresse e a pressão por resultados. “A humanização é primordial para ajudar a prevenir o adoecimento devido ao estresse, sobrecarga, assédio moral, metas inatingíveis, cobrança excessiva e clima pesado. Para tanto, colaboradores de todos os setores devem ter espaço para se expressar, sugerir melhorias e dar feedbacks. A humanização melhora o clima organizacional, reduz o “turnover” nas empresas, contribui para a retenção de talentos, diminui o absenteísmo e presenteísmo (quando o colaborador está na empresa mas é incapaz de desempenhar suas tarefas) e melhora a produtividade e eficiência como um todo”, complementa.
Abaixo, as especialistas listam dicas para tornar a empresa menos abusiva em 2022:
Comunicação inclusiva: “Uma das maneiras das empresas terem essa abordagem menos abusiva é se atentar para a sua comunicação, essa é uma forma que o ser humano tem de expressar os seus sentimentos. Quando essa comunicação é abusiva e ignora certas identidades, ela acaba não reconhecendo que algumas pessoas existem, ou não dando direito dessas pessoas existirem dentro da corporação. Uma empresa pode ter vários danos quando não atua com esse tipo de comunicação, ou quando ela não está atenta a questões de diversidade e inclusão”, comenta Mayra Cardozo.
“Outro sinal é a falta de comunicação, as orientações equivocadas sobre tarefas a serem realizadas e até a falta de feedbacks e a ausência de diálogo na troca de informações”, diz Vanessa.
Treinamento de funcionários: “O colaborador precisa estar alinhado à política da empresa. Podemos citar como exemplo o caso da Zara, que usava código racista como sinal de alerta para impedir a entrada de negros na loja. A empresa precisa ter treinamentos para funcionários e políticas bem claras de que práticas discriminatórias são inaceitáveis. Treinamentos para evitar assédio, programas que incentivem os colaboradores a serem mais diversos, por meio de política de quotas, mas como um ambiente inclusivo, que todos se sintam parte da corporação também são práticas importantes. Precisa alcançar inclusão”, complementa Mayra.
Qualidade de vida aos colaboradores: “É preciso que a empresa ofereça um ambiente adequado, com atividades físicas, horários flexíveis, um bom clima para se trabalhar, uma cultura para celebrar as vitórias, conquistas, datas comemorativas e o investimento em programas de saúde, incluindo a saúde mental. Quando ela deixa de promover o bem-estar, pode prejudicar a qualidade de vida de um colaborador. Por isso, além de se atentar ao básico, é necessário enxergar as necessidades dos indivíduos. Além disso, um estudo da universidade de Warwick, no Reino Unido, confirma que colaboradores mais felizes e autoconfiantes são 12% mais produtivos. E para ter funcionários satisfeitos é preciso investir em um dia-a-dia que preze pela qualidade de vida e bem estar”, explica Vanessa Gebrim.
Respeitar o horário de descanso: “Outro fator é a falta de descanso, pois alguns líderes acabam não respeitando os horários de descanso e de lazer de seus colaboradores. A ausência de ferramentas adequadas para a execução também é um fator prejudicial, assim como a falta de treinamento adequado e o assédio moral ou sexual”, complementa Vanessa.
Consolidar projetos no intuito de trazer mais diversidade: “O colaborador pode ser mais inclusivo através da comunicação, não deixando as mulheres serem interrompidas durante as reuniões, coisas mais individuais nas posturas. Mas é muito difícil um colaborador que está abaixo da pirâmide, ele transformar toda uma organização. Quando falamos de política, diversidade e inclusão, ela tem que vir de top down, respaldada a nível de CEO para baixo, não de baixo para cima. O colaborador pode implementar posturas inclusivas mas não tem o poder de mudar a organização. Muitas vezes a sinalização dos abusos depende muito do tamanho da empresa. As empresas brasileiras ainda não perceberam o quanto é importante investir em justiça social, porque hoje o consumidor compra a marca”, conclui Mayra Cardozo.
Sobre Mayra Cardozo
Advogada especialista em Direitos Humanos pela Universidade Pablo de Olavide (UPO) – Sevilha. A professora de Direitos Humanos da pós-graduação do Uniceub – DF, é palestrista, mentora de Feminismo e Inclusão e Coach de Empoderamento Feminino. Membro permanente do Conselho Nacional de Direitos Humanos da OAB e do Comitê Nacional de Combate à Tortura do Ministério da Mulher e dos Direitos Humanos.
Sobre Vanessa Gebrim
Vanessa Gebrim é Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR, Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito cerebral. Atua também como Consteladora Familiar, com abordagem sistêmica que promove o equilíbrio e melhora relações interpessoais. Tem amplo conhecimento clínico, humanista, positivista e sistêmico e trabalha para provocar mudanças profundas que contribuam para a evolução e o equilíbrio das pessoas. Mais de 20 anos de atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e idosos, trata transtornos alimentares, depressão, bullying, síndrome do pânico, TOC, ansiedade, transtorno de estresse pós traumático, orientação de pais, distúrbios de aprendizagem, avaliação psicológica, conflitos familiares, luto, entre outros.
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