Diversos

Como a cidade chega à comida e a comida à cidade?

Por Moritz Kaiser, especial para a Envolverde –

O fato de vivenciarmos uma tendência de urbanização em todo o mundo há décadas coloca grandes desafios à nossa coexistência e à logística da cidade. Fornecer alimentos e nutrição à população urbana é o desafio mais importante para a sobrevivência do ser humano. Dependendo dos contextos históricos, sociais e econômicos, as cidades encontram soluções e variam em seu grau de sucesso. Neste contexto, a nutrição para todas as pessoas, ou seja, o acesso a alimentos suficientes, diversos e saudáveis, constitui a base para um mundo mais justo.

Desde sua fundação em 1945, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) reconheceu o direito à alimentação adequada como um direito humano universal. Entretanto, em 2022, mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo, ou seja, aproximadamente uma em cada dez pessoas neste planeta, ainda sofrem de desnutrição. Contudo, a ONU quer alcançar o objetivo do SDG 2, “fome zero”, até 2030. O direito à alimentação também está firmemente ancorado na Constituição brasileira sob os direitos sociais. Ainda pior que o Brasil está listado no Mapa da Fome no ano 2022 e o número de pessoas subnutridas passou de 33 milhões.

Apesar destes números assustadores, há coragem para a esperança. Em 2015, foi criado o Milan Urban Food Policy Pact (MUFPP), uma iniciativa através da qual cidades, OSCs e ONGIs de todo o mundo se reúnem anualmente para debater como combater a fome. O objetivo do Pacto é proporcionar um fórum para compartilhar as melhores práticas, experiências e desenvolvimentos. Como o fórum se concentra na cidade, nas pessoas e na cidade em que vivem, os participantes estão particularmente preocupados com o papel que o setor público pode e deve desempenhar.

Este ano, 2022, o MUFPP foi realizado no Rio de Janeiro e, portanto, pela primeira vez na América do Sul. No seu discurso de abertura o prefeito Eduardo Paes deixou claro que a cidade pode sim, já contar e compartilhar lições de aprendizagem. Por exemplo, existem as “Hortas Cariocas”, jardins comunitários urbanos espalhados pela cidade que alcançam mais de 10 famílias, ou projetos carentes como o “Prato Feito”, que, como a “Cozinha Comunitária”, dá a cada residente acesso a refeições quentes. Com estas abordagens, o Rio mostra quais as cidades que se aproximam e serve de sinalização para outras cidades.

A conferência também deixou cada vez mais claro que a densificação dos espaços de vida das pessoas, o desenvolvimento das condições climáticas e a crescente rede global de cadeias econômicas estão levando a mais sobreposições de experiências entre si. Sem dúvida, os eventos climáticos extremos, o Covid 19 e a Guerra da Ucrânia continuam a deixar sua marca nas cidades de hoje, especialmente aumentando a pressão sobre as cadeias alimentares e, portanto, também a pressão sobre os preços. Isto tornou ainda mais clara para os participantes a necessidade de sistemas alimentares resilientes e sistemas tampão.

A fim de acabar com a fome global, a produção agrícola e uma distribuição justa dos produtos agrícolas são necessárias. Só neste contexto também significa promover a agricultura em pequena escala, ou seja, especialmente as fazendas familiares e também os alimentos orgânicos devem se tornar mais baratos. Por outro lado, o Pacto também deixa claro que a produção de alimentos pode ser diversificada através de produtos urbanos. A palavra-chave aqui é agricultura urbana, em várias formas, por exemplo, através da hidrofônica ou de sistemas que utilizam biogás de resíduos alimentares para gerar eletricidade.

Por fim, a educação é uma alavanca essencial para garantir que o direito à alimentação adequada para todos chegue não apenas no papel, mas também no prato. Começando com refeições escolares saudáveis, transmitindo conhecimento sobre a origem, produção e processamento dos alimentos e promovendo projetos de pesquisa em torno do tema nutrição. O trabalho das cidades é prerequista e indispensável para o sucesso da Agenda 2030.

#Envolverde