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Mudanças climáticas, conjuntura mundial e o agronegócio: desafios e perspectivas

Por *Mariana Lacerda – 

O agronegócio brasileiro está vivendo um momento extremamente desafiador. Apesar das boas notícias – em 2021, por exemplo, o país plantou uma área de mais de 40 milhões de hectares de soja em tempo recorde, fruto do avanço da tecnologia e do maior preparo dos agricultores nos últimos anos – nossa próxima safra deve sofrer as consequências da atual conjuntura mundial complicada e, principalmente, das mudanças climáticas.

Dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mostram que as temperaturas no Brasil estão mais altas, enquanto as chuvas, mais intensas. Como efeito das alterações no clima, fenômenos já conhecidos por aqui, como o La Niña, têm se manifestado mais fortemente, provocando cenários adversos em grandes áreas agrícolas, como Paraná e Mato Grosso do Sul. Por conta disso, os prognósticos para esta safra foram prejudicados: consultorias especializadas calculam, para 2021/2022, uma safra de 125 milhões de toneladas, cerca de 14% inferior aos 145 milhões de toneladas colhidos no período anterior.

Conforme destacou o Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU (IPCC), a atual crise é sem precedentes e, pior, irreversível. E o agronegócio, que no Brasil representa cerca de 27% do PIB, é um dos grandes prejudicados, sofrendo com perdas de safras e morte de animais. 

Uma solução para amenizar as perdas para os agricultores brasileiros seria uma aposta no seguro rural. Essa alternativa, no entanto, tem se tornado menos viável quanto mais obscuros se mostram os prognósticos em relação ao clima. Segundo dados do  Departamento de Gestão de Risco do Ministério da Agricultura, há demanda dos produtores rurais por seguros, porém as seguradoras não estão dispostas a entrar nesse ramo. Hoje, o país conta com 62 milhões de hectares agricultáveis, mas apenas 14 milhões de hectares são segurados. Das 200 empresas de seguro atuantes no Brasil, apenas 16 investem no agro. É fundamental que haja uma união do setor em torno de mudanças de práticas para melhorar a produtividade diante desse cenário irreversível e que se arrisca a piorar. 

Em um ano difícil como este, principalmente para os agricultores do Sul do Brasil, a ausência de água no solo e nas zonas de manejo são limitações a serem trabalhadas. Sendo assim, na busca por maior rentabilidade, a incorporação e uso de tecnologias que possam prover análises e um futuro planejamento agronômico tornam-se cada vez mais necessárias; tais como técnicas de produção de água via captação e recuperação de solo, manejo e enriquecimento via integração lavoura, pecuária e floresta, controle biológico de pragas, e outros. 

Já a atual conjuntura mundial, conturbada pela guerra entre Rússia e Ucrânia e pela situação delicada na área da Saúde, com a persistência no novo Coronavírus, lança efeitos diretos no comportamento dos preços dos insumos agrícolas em 2022. Basta dizer que o valor dos fertilizantes mais do que duplicaram no último semestre. 

O governo brasileiro busca o aumento de exportações de potássio de países como Canadá e Irã, já que enfrenta o bloqueio da Bielorrússia, maior produtor mundial e responsável por cerca de 20% do potássio utilizado em nosso país. As consequências do conflito entre Rússia e Ucrânia poderão acentuar esse impacto, sendo um ponto de atenção ainda neste primeiro semestre. Precisamos não só buscar jazidas alternativas existentes no sul e sudeste, como encontrar técnicas agroflorestais de mistura de lavoura para beneficiamento do solo.

Assim, mesmo diante de tantos desafios, é possível enxergar possibilidades. Apostar em profissionalização, pesquisa, qualificação e melhorias, tanto em termos técnicos como humanos, a fim de encarar as instabilidades do futuro pode se projetar como a luz no fim do túnel. Na futura safra 2022/2023 serão essas “ferramentas” que poderão auxiliar ainda mais o produtor e contribuir para um grande ano para o agronegócio brasileiro. Como grande potência agrícola, nosso país não deve perder a chance de lucrar com isso tornando nossa produção viável e atrativa no comércio internacional, ao mesmo tempo em que busca democratizar o acesso à alimentação com controle inflacionário. 

*Mariana Lacerda, advogada e gestora pública, é porta-voz (presidente) da Rede Sustentabilidade no Estado de São Paulo

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