Por Marcus Nakagawa* – 

A busca pelo ESG pelas empresas é evidente. Outro dia escutei um colega de uma outra área, que até então era bem cético sobre o tema, falando lindamente sobre a sustentabilidade e a responsabilidade social. Até então, este colega achava que o tema era somente para “abraçadores” de árvores, hippies e apoiadores de projetos de crianças. E que, no mundo dos negócios sempre foi necessário a agressividade de um guerreiro do filme Coração Valente.

Fiquei muito feliz por saber que as décadas de trabalho estão fazendo sentido e que este novo período da história da administração está acontecendo.

Esta sensação foi mais reforçada em meados deste mês, quando o maior fundo de investimento do mundo, a Black Rock, anunciou que, atualmente, 25% do seu portifólio está sendo investido em empresas que são emissores com science-based targets (SBTi) ou equivalentes. Segundo o Pacto Global da ONU no Brasil, o SBTi, ou Fundamentos para Definição de Metas Baseadas na Ciência, explica os fundamentos conceituais e técnicos para a elaboração das metas baseadas na ciência. A iniciativa SBTi mobiliza as empresas para que adotem metas para a redução de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), impulsionando a transição rumo a uma economia de baixo carbono.

A BlackRock inclusive assinou em 2021 o Net Zero Asset Managers Initiative e estão prevendo que, até 2030, pelo menos 75% dos ativos corporativos e soberanos serão investidos em emissores com metas baseadas na ciência ou equivalente.

O que está acontecendo é o efeito dominó deste movimento, a partir do fundo que tem em seu “comando”, o valor em dinheiro equivalente ao 3º PIB do mundo, atrás somente da China e dos EUA. As empresas que precisam de investimento para o seu desenvolvimento terão que se enquadrar nesta nova forma de gestão.

Ao encontro de todo este movimento, temos empresas brasileiras como o Itaú, que acabou de captar R$ 1 bilhão em letras financeiras ‘verdes’ com o International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial, para financiar a compra veículos elétricos, híbridos ou multicombustível. Ou a Renner, que alinhado ao SBTi, se comprometeu a cortar 75% até 2030 dos gases de efeito estufa de toda a sua cadeia produtiva, um grande desafio pois depende de empresas terceiras que não estão na sua gestão direta. Ou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que, em março, aprovou uma operação piloto para a aquisição de até R$ 10 milhões em crédito de carbono. Assim, apoiando o desenvolvimento do mercado voluntário para comercialização destes títulos, bem como chancelando padrões de qualidade para condução de projetos de descarbonização da economia.

O mercado do Não Carbono ou Net Zero é um dos frutos da sustentabilidade e do ESG, lembrando sempre que todos estes movimentos estão baseados na Agenda 2030 com os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Quando as megas empresas estão envolvidas com um tema, as grandes, médias e pequenas também vão seguindo nesta direção.

Um bom exemplo são as 343 startups que trabalham com o ESG, segundo mostra o relatório da ACE Cortex de 2021, todas elas desenvolvendo soluções com foco no meio ambiente, questões sociais ou em gestão de melhorias para as questões de governança das grandes empresas. Dentre elas, 180 que atuam com a área do meio ambiente, 130 possuem negócios de impacto social e 33 resolvem “dores” de governança das empresas de grande porte.

Em outra pesquisa do hub de inovação Distrito, chamado “Inside ESG Tech Report” de 2021, também foram mapeadas 740 startups em 28 diferentes setores trabalhando com ESG. Comparada às 14.956 startups citadas pela pesquisa, ainda é um número pequeno. Mesmo assim, estas startups de ESG já receberam juntas um total de U$ 991 milhões de dólares de investimento ao longo da última década, sendo que 90% deste valor foi investido nos últimos três anos.

Realmente o movimento e os investimentos em ESG estão decolando, porém ainda é necessário separar muito bem os aventureiros daqueles que realmente possuem o conhecimento e a resiliência necessária nesta área.

Marcus Nakagawa é professor da ESPM; coordenador do Centro ESPM de Desenvolvimento Socioambiental (CEDS); idealizador e conselheiro da Abraps; idealizador da Plataforma Dias Mais Sustentáveis; e palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida. Autor dos livros: Marketing para Ambientes Disruptivos, Administração por Competências e 101 Dias com Ações Mais Sustentáveis para Mudar o Mundo (Prêmio Jabuti 2019).

www.marcusnakagawa.comwww.diasmaissustentaveis.com  ;

@ProfNaka

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