Introdução: Das raízes e dos abraços
Por Eduardo Serique –
A volta do piano navegador ao rio dos Arapium
Esta é mais uma história nostálgica, uma história de retorno para casa. Mas, diferentemente da história de Ulisses, na Odisséia, de Homero, não é o herói aquele que parte e retorna à terra natal, mas a sua imagem em forma de filme documentário registrando a aventura de Carla Ruaro e seu sonho de levar o som do piano às comunidades ribeirinhas do rio Arapiuns, no coração da Amazônia. O herói, o curumim da beirada do rio, esse permanece em casa, na sua comunidade, pescando, tomando banho, brincando de pira, ouvindo histórias de boca da noite e sonhando com o curupira, o jurupari, o boto, a Iara e os Encantados do rio e da floresta que rodeiam a sua comunidade.
Foi em 2017 que a decidida pianista erudita Carla Ruaro e sua parceira de empreitada, a primeira pessoa a abraçar a ideia, Tatiana Cobbett, bailarina, cantora e compositora das melhores, a Tatá, surgem num barco e aportam na praia da comunidade ribeirinha do Curi, no rio Arapiuns, trazendo a bordo um piano. O herói, curioso, aproxima-se lentamente e em pouco tempo, como num passe de mágica, escapando da precisão inútil da Matemática, já é dezenas de curumins, incontáveis curumins que, assentados no chão de areia da praia, se deixam encantar pelo som do piano de Carla. Dia novo chega e é hora de visitar outros heróis nas comunidades próximas, rio acima. O documentário que resulta dessa aventura percorre o mundo: Finlândia, Itália, Inglaterra, Marrocos, sempre arrebatando prêmios nos festivais de cinema em que concorre. Cinco anos depois, Carla retorna para apresentar ao nosso herói o registro fílmico desse encontro. Desta feita, em lugar do piano, um telão, um projetor de cinema, caixas de som. Cada tomada, a alegria de se ver e ver o irmão, o parente, o amigo na tela. Estampados no rosto do nosso herói e seus múltiplos, o encantamento, o riso. No rosto de Ruaro e Tatá, a felicidade por se verem testemunhas de tão comovente cena.
Mas agora (como de regra em toda história nostálgica), esse curumim já não é mais o mesmo: as crianças que ele era se tornaram adolescentes, os adolescentes se tornaram jovens, os jovens se tornaram adultos, e outros curumins vieram ao mundo. A equipe de Carla também cresceu: cinegrafistas, músicos, novos parceiros, tudo para tornar o reencontro algo indelével no coração e na mente de cada um de nós.
O momento da despedida, como era de se esperar, é marcado pelo longo e apertado abraço.
Muito mais que membros do corpo, braços são como raízes da alma. Há uma diferença clara entre o aperto de mão e o abraço, dois atos humanos que marcam os encontros e as despedidas, ambos efetivados por esses ditos “membros superiores”: no aperto de mão utilizamos apenas um dos braços em sua parte mais extrema. Ele nos permite olhar o outro “olho no olho”, como que para conhecê-lo. No formalismo do aperto de mão, no encontro com o outro, vemos uma promessa de conexão. Se a promessa não se cumpre, a despedida é outro aperto de mão. Já no abraço utilizamos os dois membros completos. Com eles envolvemos o corpo do A-MIGO. Olhos fechados para indicar que não precisamos conhecê-lo mais do que já o conhecemos, que confiamos nele. No abraço restabelecemos com o outro uma conexão que nunca deixou de existir e que, malgrado tempo e distância vividos, jamais se deixou abalar. Abraços vêm sempre acompanhados de risos e lágrimas, como a regar as raízes de uma árvore plantada nos corações dos abraçantes.
Carla e sua equipe talvez partissem para registrar o reencontro com as outras comunidades, rio acima. Mas haveria fôlego para isso? Melhor voltar pra casa, recarregar as baterias e aguardar a poeira das emoções se assentar.
Por outro lado, o nosso herói permanece na sua comunidade, estampando no rosto o mesmo sorriso encantador, a mesma alegria, o mesmo olhar de AD-MIRAÇÃO. De novidade, apenas a lembrança dessa aventura que decerto ficará, agora entremeando as histórias contadas à boca da noite, ao redor das fogueiras.
Raízes e a trama de um pé de piano que saiu para navegar na Amazônia
Por Patrícia Kalil –
Sabia a petricor. O tempo todo as raízes deste pé de piano estavam conectadas com outras raízes, formando uma imensa rede de colaboração em vários locais do planeta, em um processo contínuo de retroalimentação e transmissão de conhecimentos. Uma teia global de raízes, micorrizas e rizomas.
A pianista gaúcha Carla Ruaro foi para a Europa em 2004 e, de lá, a um oceano de distância, teve seu primeiro contato com a música feita para piano por compositores contemporâneos da Amazônia.
Na época, Ruaro fazia mestrado em performance musical na Goldsmith University. Ao lado do violinista gaúcho Felipe Karam e do violoncelista paraense Diego Carneiro, integrou o único trio brasileiro do programa Live Music Now, levando concertos para pessoas com acesso reduzido à música.
Na pauta, organizações de sons da Amazônia. Composições musicais dos paraenses Luiz Pardal, Lucia Uchôa (macapaense que reside no Pará), Albery e Thiago Albuquerque, Vicente Malheiros da Fonseca, Altino Pimenta e Wilson Fonseca foram apresentadas em hospitais, asilos, presídios, centros de recuperação e fundações de diversas cidades europeias e do Oriente Médio.
Ruaro dedilhava a vida da floresta e a música aproximava essas pessoas em situação de exclusão da natureza. Nota a nota pintava uma paisagem sonora: a primeira arte criada no ambiente da mais rica biodiversidade da Terra. Os tímpanos vibravam. O martelo do piano ecoava no martelo do ouvido. Bigornas e estribos ampliavam o som para cada caracol, emitindo sinais para as redes neurais do cérebro. Células arranjadas numa extensa retícula se conectavam a múltiplas outras, nossas redes radiculares internas, enviando sinais com informações sonoras.
“Diretores dos institutos contavam que depois da nossa apresentação, o público ficava em um estado de encantamento e descoberta. Até então, eles não tinham conhecimento sobre a música da Amazônia”.
Aylton Krenak diz que é preciso provocar o surgimento de uma experiência de florestania. “Temos que reflorestar o nosso imaginário e, assim, quem sabe, a gente consiga se reaproximar de uma poética que devolva a potência da vida”. E tanto se ouve sobre a importância de preservar a floresta em pé, mas tão pouco se escuta de sua cultura viva. O trio foi reconhecido e premiado pelo trabalho de divulgação da música amazônica contemporânea. Contemplado pela Funarte, veio em 2014 para uma turnê em 14 municípios paraenses no entorno de Belém.
“Os compositores moram na nossa imaginação. Imaginamos o que Beethoven, Bach pensavam quando estavam compondo suas peças. Nessa viagem ao Pará, eu tive pela primeira vez a oportunidade de conhecer os compositores que faziam a música que eu tocava, no ambiente deles, na floresta.”
A partir desse encontro, a vida de todos mudou. Ruaro, a convite de Diego Carneiro e ao lado de outros parceiros de Londres fundaram a AmazonArt, organização não-governamental com o objetivo de organizar concertos beneficentes para apoiar projetos de educação musical no Brasil, principalmente na região de Belém e suas ilhas. Em 2015, Ruaro foi para Lisboa, decidida a fazer uma pesquisa de doutorado sobre a música da Amazônia para piano.
Em 2017, ela conheceu a compositora, cantora e bailarina brasileira Tatiana Cobbett depois de uma apresentação da artista em Setúbal, a 48km de Lisboa. Conexão instantânea. Cobbett também tem raízes atlânticas, entre Brasil, Inglaterra e Portugal. Em conversas contínuas, Ruaro compartilhou com Cobbett seu sonho de levar um piano de verdade para apresentar concertos em comunidades ribeirinhas da Amazônia.
“Um pianista não consegue levar seu instrumento para muitos lugares, porque o piano é grande, pesado e delicado ao mesmo tempo. Um piano não viaja facilmente. Como eu poderia carregar um piano nas costas? Tatiana ouviu tudo o que contei e viajou comigo. Ela foi a primeira que acreditou que era possível”, conta Carla.
Cobbett tinha bagagem amazônica. Apresentou-se como artista em diversas ocasiões nos teatros de Belém e Manaus. Em outro momento, morou na capital do Amazonas com seu companheiro, o jornalista, escritor e documentarista Paulo Markun, que havia sido convidado para criar o Jornal do Norte.
A cantora e bailarina também conhecia comunidades ribeirinhas de outros rincões do país. Em 1974, quando fazia parte da companhia Ballet Stagium, desceu o Rio São Francisco, de Pirapora a Juazeiro, com o projeto Barca da Cultura. O espetáculo de dança foi feito para ser executado em uma embarcação, carregando muito mais que os 300 quilos de um piano, mas um corpo de baile inteiro com orquestra. A bordo desta aventura também estavam Egberto Gismonti e Gonzaguinha. Os bailarinos dançavam sobre um tablado montado no convés da Barcaça Juarez Távora, enquanto os músicos tocavam para um público surpreso.
Anos mais tarde, na Amazônia, Cobbett apresentou um espetáculo sobre o poema “Os Estatutos do Homem (Ato Institucional Permanente)”, de Thiago de Mello, onde ficou “decretado que o dinheiro não poderá nunca mais comprar o sol das manhãs vindouras. Expulso do grande baú do medo, o dinheiro se transformará em uma espada fraternal para defender o direito de cantar e a festa do dia que chegou”. No estatuto, só uma coisa fica proibida: “amar sem amor”.
Cobbett ouviu Ruaro, conectou-se com as raízes do piano e amou o que viu, com amor.
“Era fundamental levar o piano e o concerto de Carla para comunidades ribeirinhas amazônicas. As pessoas de lá tinham que ouvir as músicas feitas por compositores de lá, músicas nascidas lá, crescidas lá, com raízes lá. Por causa da minha experiência na Barca da Cultura, sabia que era possível. Apesar do piano ser um instrumento que exige uma educação musical para ser tocado, ser caro, pesado e por isso tudo ter uma certa empáfia, via neste sonho a possibilidade de redescoberta da ligação do piano com a natureza”, lembra Cobbett.
Filha do diretor de cinema William Cobbett e da produtora-executiva de cinema Eliana Cobbett, donos da Tabajara Filmes (a primeira empresa importadora de filmes russos para o Brasil e produtora do Cinema Novo), desde criança ajudou em grandes produções. É uma multi-artista que guarda também, desde jovem, seu DRT de produtora raiz.
Tempo de revolver a terra e descobrir redes radiculares e rizomáticas ancestrais do matriarcado Pindorama, do nosso DNA mitocondrial. Ainda de Portugal, as duas começaram a pesquisar a história do Brasil e de Portugal, a partir da independência.
Do auriverde pendão, de onde fora apagado o amor por princípio e sobre a qual o poeta romântico baiano Castro Alves versou narrando a covardia que foi a escravidão, as duas prenderam-se à estrela solitária na parte superior do céu azul. Pois no círculo da bandeira brasileira, a estrela no alto do incompleto lema positivista corresponde ao estado acima do paralelo do Equador, o Grão Pará. Essa antiga capitania representava todo território do Império das Amazonas.
Se a perspectiva histórica hoje permite ver que a proclamação da independência foi uma atuação da elite ruralista do Sul e Sudeste e da corte de Portugal para fazer uma mudança que não mudava nada (continuaríamos uma monarquia; no trono, com um rei português e ainda sem abolir as pessoas escravizadas), naquela época, o forte sentimento de raiz fez com que muitos contestassem essa nova estratégia de “recolonização”.
Com as raízes da floresta vibrando toda a sabedoria ancestral e as guerreiras Icamiabas de peito partido, o Grão-Pará foi a última província colonial a aceitar que um suposto grito às margens do Ipiranga teria unificado um território continental chamado Brasil. A imensa província só se rendeu em agosto de 1823, quase um ano depois da proclamação, com mais de mil mortos.
Há muito o que se estudar sobre o matriarcado Pindorama e as marcas da colonização na Amazônia travada por jesuítas e seus métodos de inculturação da fé. Também sobre a proibição pombalina de se falar tupi no coração da floresta, forçando a língua portuguesa como oficial desde 1758.
O Pará guarda dezenas de cidades homônimas às portuguesas: Alenquer, Almeirim, Alter do Chão, Aveiro, Barcarena, Beja, Belém, Boim, Bragança, Chaves, Faro, Melgaço, Monte Alegre, Nazaré, Óbidos, Odivelas, Oeiras, Ourém, Porto de Mós, Salvaterra, Santarém, Soure, Vila do Conde e Viseu.
Pesquisa vai, pesquisa vem, as duas começaram a traçar a viagem. Definiram um roteiro para levar um piano a bordo de uma embarcação pelo rio Arapiuns, afluente do rio Tapajós, nas comunidades ribeirinhas da região de Santarém. Nascia assim a expedição “Raízes, um piano na Amazônia”, projeto idealizado por Ruaro e com direção artística de Cobbett.
Apresentaram o material para diversas instituições e possíveis patrocinadores. Todos se encantavam, mas consideravam a viagem com um piano a bordo de um barco um desvario. Sem dar chance para o desânimo, tiveram a ideia de pedir apoio via plataformas de financiamento coletivo. Colocaram o projeto em dois sites: um para o público europeu que conhece o trabalho das artistas e outro para o público no Brasil.
“A resposta foi imediata e pudemos sentir o amor das pessoas e a importância que todos dão para a Amazônia. A maior parte do financiamento veio de gente como a gente, que se apaixonou imediatamente pela imagem de levar um piano para comunidades isoladas no coração da floresta. Esse tipo de apoio fortalece a arte independente e essa é a diferença entre arte sustentável e arte sustentada”, se emociona Cobbett.
Que rede enorme de conexões e apoios! Os recursos arrecadados permitiam fazer a expedição na ponta do lápis, com produção própria e muitos profissionais voluntários. Buscaram uma embarcação em Santarém e encontraram, via indicações, um astrólogo disposto a levá-las em seu barco. Essa primeira tentativa, no entanto, revelou-se uma cilada assim que entraram a bordo. Contam elas que imediatamente perceberam que algo estava errado. O piano já estava dentro da embarcação e a equipe prisioneira. O sujeito atuava como dono da ideia e chefe da equipe. Inclusive, havia apresentado o projeto na prefeitura como se fosse dele.
Como explica o cientista Antonio Nobre, “na natureza impera a colaboração, porque só ela permite complexidade e um sistema auto-regulado. Existe um amor incondicional na natureza e esta é a maior força do universo. Nós precisamos cultivar o amor. O crescimento do indivíduo para si só é uma anomalia na natureza. Se alguma célula resolver não colaborar mais tem um nome, é um tumor. A linha mestra de funcionamento do sistema natural é cuidar do próximo para gerar mais vida. Quando surge egoísmo no sistema é porque algo não está funcionando direito”.
Escolada nos desafios de produção, Cobbett falou que precisava respirar. Desceu do barco, conectou raízes no chão e pensou: “Vou achar a Secretaria de Cultura de Santarém”. Foi perguntando até chegar ao prédio da prefeitura. Lá encontrou o secretário Luiz Alberto Pixica e explicou a enrascada em que se meteram. Conectaram-se.
“Pixica me acolheu de coração aberto. A prefeitura estava com o projeto Cinema na Comunidade. Ele falou que eu precisava apenas encontrar um novo barco e que a prefeitura nos daria suporte humano, com funcionários que poderiam nos ajudar. Voltei o mais rápido que pude para falar com Carla. Saímos naquela mesma tarde em busca de um outro barco na orla”, lembra Cobbett.
Viram uma placa de ‘freta-se’ na cabine do barco Jorge Olinto. A essa altura, as duas já haviam investido quase tudo que tinham na outra embarcação. Tinham apenas 4 mil reais para o resto da viagem. Ligaram para o número na placa. Do outro lado da linha, alguém atendeu. O capitão Joaquim estava a metros de distância delas, dentro da cabine de comando, ajoelhado, desesperado para pagar uma dívida, rezando por um milagre. Caminhos cruzados. “Nos encontramos na hora certa”, conta Cobbett.
Em questão de horas, Jorge Olinto tornou-se a casa flutuante do piano com todas as suas raízes entrelaçadas com as de Ruaro, de Cobbett, de João Santos (na direção de fotografia), de Wanderson Souza, conhecido como Bambam (arte-educador), de Joana Pereira (arte-educadora), da fotógrafa Pamella Herpio, da dona Marina na cozinha, de seu Olavo (como prático) e, claro, de Seu Joaquim, o providencial capitão. Sem profissional para captação de som direto, já planejavam gravar em estúdio as composições para inseri-las durante a edição do filme.
O barco circulou por um mês no rio Arapiuns, parando em 14 comunidades e restabelecendo antigas conexões. Além da apresentação do concerto de piano à noite para todos os moradores, em cada comunidade Ruaro ministrava entre 2 e 4 oficinas para as crianças. Contava sobre a origem do piano, sua mecânica, afinação (algo que Ruaro aprendeu a fazer para conseguir afinar o instrumento sozinha durante a viagem) e depois explicava a escala de dó, o conjunto de sete notas, a nota oitava acima e as músicas dos compositores amazônicos.
Expedição feita, agora faltava ver todo o material filmado, editar e montar o filme. Foram para Portugal na sequência. O jornalista Paulo Markun, companheiro de Cobbett, assumiu o roteiro e costurou a história. As 14 comunidades visitadas na viagem uniram-se para mostrar como se fosse um dia num vilarejo secreto amazônico. O filme começa com a primeira luz da manhã e vai até o anoitecer, fechando com o concerto do meio do rio. Enquanto isso, o violeiro capixaba Gustavo Roriz, companheiro de Ruaro, assumiu a direção musical das gravações em estúdio do repertório tocado na expedição. O filme ficou pronto em 2018.
Inscreveram o filme em festivais, ganhando o prêmio de Melhor Fotografia e Menção Honrosa na Finlândia (2019), Melhor Documentário Curto no Festival de Cinema de Alter do Chão (2019), Melhor Média-metragem no Festival de Cinema Cawcine, do Rio de Janeiro (2021). Também foi exibido na seleção oficial de dois festivais italianos de cinema, o Intimalente Visual Ethnographic e o Rome Prisma Independent Film Award (2019), de dois festivais britânicos, o Lift-Off First Time Filmmakers (2019) e o London International Motion Picture Awards (2020) e no festival africano de cinema Morocco Adventure Film Festival (2019).
Ruaro queria mostrar o resultado nas comunidades que conheceu a bordo do Jorge Olinto, reencontrar as crianças que foram as estrelas dessa história. Enquanto o filme corria festivais, já planejava o retorno. Mas em 2020 o mundo entrou em pausa, a pandemia de Covid-19 alastrava-se por todos os cantos. Isolamentos.
Foi necessário esperar. Só no começo deste ano, com o vírus da Covid sob controle graças à vacina, Ruaro e Cobbett planejaram a viagem para exibir o filme nas comunidades do rio Arapiuns. Outra viagem independente e agora sem captação de recursos, financiada pela própria artista.
Íntima e grandiosa viagem de retorno. A bordo de uma pequena embarcação, dessa vez navegaram juntos também o violeiro Gustavo Roriz, o jornalista Paulo Markun, o secretário de Cultura Luis Alberto Figueira (Pixica), na produção do som e imagem Paulinho Jofre, Wanderson Souza (Bambam) e o chef de cozinha Christian Schimidt.
A crônica do cabôco escritor Eduardo Serique (https://www.eduardoserique.com), convidado especial para escrever a abertura desta reportagem, narra como foi a recepção do filme no Curi: “Esse curumim já não é mais o mesmo: as crianças que ele era se tornaram adolescentes, os adolescentes se tornaram jovens, os jovens se tornaram adultos, e outros curumins vieram ao mundo…” (acima).
Toda essa trama e rede de conexões mostra que quando nos unimos, podemos tornar sonhos realidade. Como explica o ambientalista Ernst Gotsch, “cada um de nós sabe o que é certo e o que é bom. Em vez de explorar, produzir e saquear, vamos nos perguntar primeiro: o que eu posso fazer e como posso interagir para ser querido e útil no sistema? Todos os outros seres fazem isso. Devemos agir de tal maneira que os princípios utilizados nas nossas interações sejam aplicados a nós mesmos. Eu não vou matar a mãe natureza que me nutre, eu não sou suicida. Vou cuidar dela.”
Para o final de 2023, Ruaro e Cobbett já planejam uma nova viagem. “A Grande Expedição” levará um piano em outra embarcação de Santarém a Manaus, com concerto final no Teatro Amazonas. Que essa grande rede continue!
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