Um biólogo falando sobre a proteção dos oceanos enquanto toma coca-cola com canudo de plástico. Uma engenheira ambiental estudando energias renováveis enquanto compra carne da empresa que está sendo acusada de desmatamento. Alunos de agronomia que nunca ouviram falar sobre sistemas agroflorestais. Pessoas hipotéticas ou não, uma mistura de algumas que cruzei pelo caminho e que nos mostram como a sustentabilidade ainda é encarada como algo externo para ser resolvido e não como uma transformação interna.
À medida que crescemos temos apenas um dever, escolher dentro daquilo que mais gostamos (se você tiver muita sorte de ter essa chance) o que nós podemos fazer para sermos úteis ao sistema. Nesse modelo vejo que amantes da natureza mesmo conhecendo a sua importância não conseguem enxerga-la muito além do que uma área técnica a ser estudada, o meio-ambiente é apenas protegido e preservado dentro do expediente de trabalho.
Não os culpo, tampouco me culpo por tanto tempo ter enxergado a vida em blocos, mas agora já é hora de entendermos que vivemos em um grande sistema conectado. Do que adianta conhecermos toda a importância do ecossistema se não compreendemos qual é o nosso papel dentro dele, e como pequenos comportamentos são também a causa de grandes impactos, seja por nossas ações individuais, seja por acabar apoiando indústrias duvidosas.
É necessário que as discussões saiam do mundo acadêmico e corporativo, e encontrem espaço no cotidiano das pessoas para que a sustentabilidade seja vista como um objetivo realmente coletivo, e não apenas assunto de governos e grandes corporações. Como nós cidadãos podemos ajudar para que os OD’s sejam colocados em prática? Como os profissionais do meio ambiente podem praticar as metas em sua vida particular?
Precisamos de mudanças de comportamento, de novas ou bem antigas (alô povos ancestrais) maneiras de enxergar como podemos nos relacionar com o mundo, entender que cada refrigerante que tomamos, cada carne que comemos, cada alimento que compramos, são as maneiras mais enraizadas de permitir que indústrias e países continuem atuando de forma predatória, usando nosso consumo como um aval para suas práticas.
O fato é que muitas empresas que nos entregam ótimos serviços, como as de tecnologia, são extremamente impactantes, mas talvez a gente não queira abrir mão do conforto que ela nos gera. E o que fazer nesse caso? Comece a questionar não apenas as maneiras de se fazer novas tecnologias para solucionar os problemas que criamos, busque também compreender onde está o início do pensamento que gera essa separação entre nós e o restante da matéria viva que existe no Planeta.
O primeiro passo para essa transformação é rever a maneira que você consome, eliminar os excessos e então começar a redirecionar o seu consumo para produtos mais sustentáveis, pequenas coisas que qualquer pessoa pode ter acesso. Elimine o seu lixo descartável, compre de agricultores orgânicos, reduza o seu consumo de carne vermelha de grandes frigoríficos e aumente o seu cardápio com mais variedades, substitua produtos de higiene e limpeza altamente industrializados por aqueles naturais que não impactam da mesma maneira nem em sua produção e nem em seu descarte.
Teremos vitórias reais no meio ambiente apenas quando a sustentabilidade deixar de ser uma matéria na universidade, um assunto para intelectuais, e passar a fazer parte da forma que enxergamos o mundo. Somos integrantes de uma rede sistêmica, onde toda pequena parte compõe algo maior, cada célula sua compõe seu corpo, que compõe a humanidade, que compõe as cidades, os países, o planeta, a galáxia, o universo. Se uma célula adoece o corpo inteiro pode não sentir, mas se a doença começa a se espalhar todo mundo sente. Comece modificando a pequena célula que você é e dê possibilidade das outras se influenciarem.
Renata G. Fereira – É graduada em psicologia e pós-graduada em Negócios da Moda, direcionou suas formações para a sustentabilidade, escrevendo artigos em blog e desenvolvendo projetos para moda sustentável.
Após conhecer algumas iniciativas no Brasil e na ânsia de descobrir novas, em 2018 iniciou o blog Por Um Recomeço, onde através de viagens e experiências registra projetos sustentáveis e aborda sobre mudanças de comportamentos necessárias para uma vida mais integrada.
Hoje ela vive em Paraty, onde toca um novo projeto de ecoturismo.
#Envolverde