Opinião

El Niño pode ser a salvação das represas do Sudeste e a desgraça das cidades

Por Júlio Ottoboni* 

Uma anomalia climática que sempre foi entendida como altamente prejudicial, está sendo vista pelo governo de São Paulo como a salvação para o colapso hídrico que a região sofre. O El Niño que ganha intensidade desde que ressurgiu no Oceano Pacífico, em março deste ano, durará pelo menos até o segundo trimestre de 2016. Além de longo, o aquecimento anormal das águas entre a Oceania até a costa do Peru, pode ser um dos mais intensos da história e trazer um volume de chuvas também anormal para São Paulo, amenizando a crise por falta d’água em suas represas.

Os reservatórios paulistas podem deixar o volume morto, principalmente alguns considerados cruciais para o abastecimento como de Paraibuna, Jaguari e da Cantareira. Embora as ilhas de calor existentes em toda a extensão do eixo Rio-São Paulo possam também levar as células de tempestades a se precipitarem com grande violência sobre as cidades. Como já vem ocorrendo em algumas localidades, antecipando uma caraterística típica do verão.

Os cientistas, entretanto, desconhecem os efeitos combinados entre o mega El Niño, os extremos climáticos surgidos com o aquecimento global e os níveis de degradação do meio ambiente natural, como a devastação da floresta amazônica e da própria Mata Atlântica, sobre o clima no sudeste do Brasil. Uma condição é certa, o volume de grandes tempestades tende a aumentar significativamente no verão.

As projeções sobre a intensidade do fenômeno El Niño são do Centro de Previsão do Clima (CPC), como a Administração Nacional de Oceanos e Atmosfera (NOAA), ambos dos Estados Unidos. Um novo relatório do serviço meteorológico britânico ( Met Office), um dos melhores do mundo, afirma que a associação do efeito estufa com essa anomalia oceânica provocará temperaturas muito elevadas em 2015 e 2016.

 Embora as ilhas de calor existentes em toda a extensão do eixo Rio-São Paulo possam também levar as células de tempestades a se precipitarem com grande violência sobre as cidades. Foto: Rosi Masiero.
Embora as ilhas de calor existentes em toda a extensão do eixo Rio-São Paulo possam também levar as células de tempestades a se precipitarem com grande violência sobre as cidades. Foto: Rosi Masiero.

 

Para os pesquisadores do Met Office, é quase certo que 2014, 2015 e 2016 sejam os anos mais quentes dentro dos registros científicos históricos e que servem de base para as projeções do clima. No último mês de agosto, a NOAA – que foi a pioneira mundial no estudo do El Niño – lançou o informe no qual os sete primeiros meses de 2015 foram apontados como os mais quentes dentro de suas aferições. Isso após ter veiculado que o ano anterior foi o período de maiores temperaturas no planeta em 135 anos.

Para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), as previsões dos modelos oceânicos para o Oceano Pacífico indicam que o fenômeno El Nino continuará intensificando até o último trimestre de 2015. Já o volume de chuvas estará entre as categorias “normal e acima do normal” em toda a Região Sul do país e no extremo sul de Mato Grosso do Sul e de São Paulo.

A temperatura em algumas zonas equatoriais do Pacífico, onde a anomalia aquece ás águas da superfície do mar, chegaram neste mês a apresentar até 2,1 graus Celsius acima do normal. Já houve edições da temperatura chegar na faixa de 4 a 5 graus no apogeu do fenômeno. Isso causa um transtorno imenso na circulação dos ventos, nas correntes marítimas e no equilíbrio térmico das águas. O resultado é uma alteração em todo clima terrestre.

Nos últimos 65 anos de medições da NOAA, foram registradas intensidades superiores a esse aquecimento em três outras edições do El Niño, nos anos de 1972-73, 1986-88 e 1997-98. Já os cientistas brasileiros estão preocupados com os efeitos climatológicos das bolsas de água quente que estão surgindo no Atlântico Sul e causando bloqueios atmosféricos que impedem o ingresso de frentes frias no continente ou acabam potencializando tempestades, que podem se tornar furacões.

Para o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) , na média, São Paulo e Mato Grosso do Sul têm maior possibilidade de terminar o verão com chuva acima da média, enquanto que Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso devem receber menos chuva que o normal. O Laboratório de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Inpe acredita que a potencialização das tempestades aumentará significativamente o número de raios sobre o país. (#Envolverde)

* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, pós graduado em jornalismo científico. Tem 30 anos de profissão, atuou na AE, Estadão, GZM, JB entre outros veículos. Tem diversos cursos na área de meio ambiente, tema ao qual se dedica atualmente.