Em Tempos Difíceis, Soluções Inovadoras

Por Daniel Balaban, diretor e representante do WFP Centro de Excelência contra a Fome Brasil –   Atribuem a Einstein uma frase que nunca houve comprovação que ele tenha dito. Contudo, nem por isso ela está errada: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.

Atualizado em 25/03/2020 às 13:03, por Dal Marcondes.

Por Daniel Balaban, diretor e representante do WFP Centro de Excelência contra a Fome Brasil –  

Atribuem a Einstein uma frase que nunca houve comprovação que ele tenha dito. Contudo, nem por isso ela está errada: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Atualmente, por causa da pandemia de Covid-19, cerca de 300 milhões de crianças no mundo todo estão sem acesso às refeições escolares das quais dependem. Para resolver esse problema, precisamos de soluções inovadoras.

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Inovar significa explorar novos procedimentos para oferecer algo diferente a um público que precisará ser apresentado a novas modalidades de apoio para os beneficiários afetados. Inovar em tempos de crise não é apenas uma alternativa, mas, sim, uma necessidade. Uma decisão estratégica. Momentos de crise oferecem também oportunidades únicas para que os líderes e gestores públicos se concentrem em encontrar soluções mais adequadas às necessidades da população.

O WFP, Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas e maior agência humanitária do mundo, estima que, globalmente, mais de 860 milhões de crianças – aproximadamente metade da população estudantil do mundo – estão longe das escolas devido a paralisações destinadas a impedir a propagação do Covid-19. E esse número tem aumentado a cada dia.

Nos países onde as escolas estão fechadas e onde há presença de um escritório nacional do WFP, a organização  está avaliando possíveis alternativas com os governos nacionais. Isso inclui fornecer alimentos para levar para casa, entrega em domicílio de alimentos e fornecimento de dinheiro ou cartões para compra de alimentos.

Sem soluções alternativas, muitas crianças em todo o mundo, impedidas de frequentar a escola, passariam fome. Essa ideia de levar alimentos para casa beneficia não apenas as crianças, mas também suas famílias, uma vez que as crianças continuam tendo suas necessidades alimentares assistidas e reduz-se a pressão sobre as famílias. Os governos de alguns países como Argentina, China, EUA, Grã-Bretanha, França e Canadá também adotaram mecanismos especiais para garantir que estudantes mais vulneráveis não passem fome.

Daniel Balaban, Economista e Mestre em Relações Internacionais. Especialista em Políticas Públicas, Cooperação Internacional, Mobilização de Governos e Iniciativas Inovadoras.

Mas a situação é muito mais precária para crianças que vivem em países afetados por extrema pobreza, conflito armado e cujos sistemas de saúde são frágeis. O WFP trabalha para que as 18 milhões de crianças que dependem da organização  através de programas de alimentação escolar em 61 países continuem a receber alimentos, mesmo sem poder frequentar as escolas.

Várias maneiras alternativas de fornecer comida às crianças fora da escola estão sendo estudadas. E o nosso WFP Centro de Excelência, baseado no Brasil, está desenvolvendo opções para ajudar vários desses países que têm programas nacionais a buscarem soluções para a emergência do momento.

No Brasil, são mais de 40 milhões de estudantes que recebem alimentação escolar todos os dias e que podem ser afetados. Algumas opções estão à mão do governo brasileiro, que estuda estrategicamente qual a melhor solução para esta questão. Alternativas que possam incluir o aproveitamento dos estoques de alimentos já comprados pelos governos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar podem ser um caminho eficiente e eficaz: para evitar o desperdício de alimentos já adquiridos por estados e municípios; continuar comprando de agricultores familiares, gerando renda durante a crise; e permanecer alimentando as alunas e os alunos afetados.

Lembremo-nos que, para várias famílias brasileiras, a alimentação servida na escola é a principal, mais nutritiva e, para muitos, a única que o estudante recebe ao longo do dia.

Não sabemos ainda quanto tempo vai durar a reclusão até a vitória final contra a pandemia. Com certeza, será tempo demais para essas crianças. Temos que tomar medidas já.

O WFP Centro de Excelência do Brasil está em contato próximo para compartilhar ferramentas e ideias com outros países de como o governo do Brasil irá conduzir a crise em relação à alimentação escolar. Sabemos, contudo, que são soluções temporárias. Mas estamos em um momento de emergência. O que não podemos é não fazer nada e assistirmos a fome voltar a bater à porta dessas crianças e suas famílias. Como colocado pela diretora da Divisão de Alimentação Escolar do WFP, Carmem Burbano, nossas crianças até podem assistir a aulas virtuais, mas não podem se alimentar virtualmente.

Daniel Balaban é Diretor e Representante do WFP Centro de Excelência contra a Fome Brasil – Economista e Mestre em Relações Internacionais. Especialista em Políticas Públicas, Cooperação Internacional, Mobilização de Governos e Iniciativas Inovadoras.

 


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