Por Alon Lavi* –
Em Israel, costuma-se brincar que a primeira startup israelense na área de água surgiu quando Moisés tirou água da pedra para matar a sede do povo hebreu durante a jornada de 40 anos no deserto de volta a Israel, desde o Egito.
Com mais de 60% de área deserta, por milhares de anos Israel tem sido influenciado pela escassez de água. E, sem poder usar a “tecnologia” utilizada por Moisés, o país precisou se reinventar e desenvolver soluções criativas para solucionar este problema – e foi bem-sucedido na tarefa, por isso, tem sempre o que celebrar no Dia Mundial da Água, comemorado em 22 de março.
Logo após o estabelecimento do Estado de Israel, a população cresceu rapidamente com o fluxo de imigrantes e, atualmente, são consumidos 45% mais água do que precipita de chuva. Para suprir essa necessidade, as autoridades nacionais, juntamente com o setor privado, desenvolveram uma série de iniciativas relacionadas à água em todo o país e a principal conquista do setor de água foi conseguir diminuir essa diferença de forma significativa e suprir a demanda de maneira sustentável. Isso foi feito economizando água, reutilizando as águas residuais e dessalinizando a água do mar e a água salobra, aumentando assim o suprimento disponível em mais de 1 bilhão de metros cúbicos anualmente. Com a introdução de água reciclada e dessalinizada, Israel já não depende mais exclusivamente de água natural fresca e renovável e, como resultado, desde 1967, o consumo per capita de água natural fresca e renovável caiu drasticamente.
Os padrões de qualidade para água e do esgoto usados em Israel, e o uso cada vez maior de água dessalinizada, torna seguro consumir a água da torneira em qualquer lugar do país. A expectativa é que a construção de centros adicionais de dessalinização aumente os suprimentos dessalinizados para aproximadamente 60% de todas as demandas nacionais de água potável até 2050. Já o tratamento de águas residuais permite que Israel reutilize efluentes para irrigação na agricultura e em jardins públicos e privados. A agricultura significa mais de 50% da demanda de água em Israel e, dos 91% do esgoto que é coletado e tratado, 75% são recuperados para a irrigação.
A irrigação por gotejamento, famosa invenção israelense, traz uma economia de 30% da água. A tecnologia utiliza a quantidade precisa de água, pois irriga a planta e não o solo, e otimiza as suas condições de umidade e aeração. Além disso, ela reduz a liberação de gazes na atmosfera e aumenta o rendimento e a produtividade.
Entre as tecnologias desenvolvidas no país, também é importante destacar o gerenciamento adequado dos sistemas de tubulação e bombeamento de água, que possibilitou a redução da perda de água em todo o país para menos de 10%.
Já como política pública, desde 2008, a água em Israel não é mais subsidiada pelo Governo, o que significa que o setor de água é um mercado economicamente estável e que o dinheiro arrecadado dos usuários finais cobre os investimentos necessários para o setor.
E essa bem-sucedida experiência não seria possível sem a colaboração da população. A conservação da água também passa por um programa de conscientização e educação. A Autoridade de água de Israel lançou uma série de programas para crianças que ensina como economizar água de forma simples para construir uma geração de cidadãos conscientes. A entidade também lançou campanhas de televisão, rádio e internet sobre escassez de água em Israel para incentivar a população a economizar este bem natural, conseguindo o resultado impressionante de redução de 18% no consumo de água nas áreas urbanas.
No entanto, os desafios na área de água em Israel estão longe de acabar, já que sua população só cresce, enquanto a precipitação está diminuindo em média 15% a cada 30 anos devido às mudanças climáticas. Para diminuir essa diferença nas próximas décadas, Israel continuará economizando água e aumentando o tratamento, a reciclagem e a dessalinização.
Por fim, Israel está aberto para compartilhar sua tecnologia e experiência com o objetivo de ajudar países do mundo inteiro, em especial, os do Oriente Médio, que sofrem das mesmas necessidades. No Brasil, a parceria é com o nordeste: Israel está ao lado do Brasil na luta contra a seca na região com as tecnologias de irritação e dessalinização.
* Cônsul Geral de Israel
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