Desde que ‘me entendo por gente’ – na minha vida adulta, portanto, acompanho os projetos para ‘desenvolver a Amazônia’.
Primeiro, foi ‘integrar para não entregar ‘ e este refrão tinha na sua essência a concepção da soberania sobre o território. Foi um projeto geopolítico militar, que divulgava para nós brasileiros, que o ‘vazio geográfico’ – Amazônia e adjacências, precisava ser ocupado. Anos 60 e 70′.
Depois veio o projeto de popular a Amazônia com incentivos a projetos agrários. Desmatar era a toada, era obrigatório e plantar o que desse por lá.
Sem prestar atenção na vocação da terra, ou mesmo sua titulação, foi incentivada a ocupação daquelas terras por grandes projetos desse tipo e também outros nega empreendimentos como o Jari e os de mineração.
Nos anos 80′, a professora Bertha Becker (UFRJ), geógrafa e expert na região, nos alertava para três coisas: ‘ a internacionalização é um fato, sobretudo do subsolo ‘ e ‘A Amazônia possui mais núcleos urbanos do que se pensa’.
Terceiro: ‘Ninguém pergunta nada aos amazônidas. Todos os projetos vêm de fora’.
Sobre os indígenas? Copiosas silêncios.
Indigenistas e antropólogos criaram o bordão ‘povos da floresta’, ‘povos tradicionais’ e começou a luta pela demarcação de áreas que pudessem conservar e sobreviver.
Somente nos anos 90 e muito depois de o Brasil se dar conta dos horrores que ocorriam n região amazônica (Serra Pelada, assassinato de Chico Mendes e desmatamento massivo) é que se cogitou em planos de desenvolvimento sustentável direcionados a um desenvolvimento menos predador.
Pós Rio-92 e com a criação do Ministério do Meio Ambiente, seguiram-se inúmeras tentativas. Sempre esbarrando nos empreendimentos criminosos da extração ilegal de madeira, garimpo ilegal e posseiros cada vez mais gananciosos.
Nossa Amazônia se tornou o farwest americano e por mais de três décadas assistimos projetos conflitantes dentro do próprio governo nascerem e morrerem sem nenhuma explicação.
No presente, a Amazônia tornou-se um hot spot de interesse mundial.
Capitaneia esse interesse a questão climática.
Muitas promessas flutuam na política sem que a questão indígenas tenha um horizonte claro – como o comprovam o debate em torno do ‘marco temporal’.
A bandidagem instalada na região também é internacional e difícil de erradicar. Criou sólidas raízes por lá.
Novos projetos virão engrossar o caldo de sonhos possíveis e impossíveis para a nossa Amazônia.
O período Bolsonaro – de nefasta memória – foi ilícito em cima de ilícito, amplamente permitidos por boa parte da população brasileira que o apoiou e ainda apoia.
Dia 5 de setembro é um dia para olharmos e refletirmos sobre nossas contradições e nossas ambições predatórias.
Na Amazônia – que não é só nossa – respira o drama da América Latina. E seu futuro geopolítico ainda é incerto. Como é incerto, ou multifacetado como queiram, o nosso compromisso com conservação do maior remanescente Florestal tropical do mundo.
Estes próximos anos serão decisivos.