por Dal Marcondes –
Ignacy Sachs, ou simplesmente Inácio, como gostava de ser chamado nos deixou. Morreu em Paris, no país que o adotou como um dos principais intelectuais das ciências sociais e da economia da segunda metade do século 20. Nascido na Polônia em 1927, Ignacy tornou-se cidadão do mundo, como narra em seu livro “A terceira Margem”. De origem judaica em uma Europa conturbada por ideologias e preconceitos, perambulou por anos, sempre absorvendo histórias e conhecimentos. Tornou-se um dos mais respeitados economistas ligados a programas de desenvolvimento da ONU. Passou pela Índia, pela África e por diversos países da América Latina, até se apaixonar pelo Brasil.
Na abertura do programa Roda Viva, em 2007, o jornalista Paulo Markum apresenta Sachs como o mais importante pensador do ecodesenvolvimento e “o estrangeiro que mais estudou e conhece o Brasil”. Ele foi um apaixonado pelo Brasil e sempre acreditou que uma economia baseada na vida seria a redenção do país de suas renitentes espirais de pobreza, fome e subdesenvolvimento. Em suas aulas, principalmente na PUC de São Paulo, onde hoje existe a Cátedra Ignacy Sachs, ele apontava que o Brasil havia perdido todas as grandes revoluções tecnológicas dos últimos séculos. Não participou da revolução industrial, não esteve à frente de grandes movimentos das indústrias química e mecânica, não garantiu espaço na transição digital. “A bioeconomia é a revolução que o Brasil deve liderar”, sempre repetiu com vigor.
Amava o Brasil e tinha um carinho especial com as organizações e movimentos ligados à sustentabilidade no país. Eu o conheci em palestras e entrevistas especialmente promovidas pelo Instituto Ethos. Foi meu privilégio mediar debates em que participou com economistas e intelectuais brasileiros, como José Eli da Veiga, Ricardo Abramovay e Ricardo Young, entre outros. Como todos os grandes pensadores, Ignacy carregava a simplicidade de um ser humano cordial e cristalino em suas palavras e ideias.
Desenvolvemos um especial carinho quando a campainha de minha casa na Vila Madalena tocou e, na calçada estava um homenzarrão mais de 1,80 metro. Ignacy me disse que estava pensando algumas coisas e queria conversar com alguém com senso crítico. Talvez o maior elogio que já recebi na vida. Naquela tarde passamos horas conversando e foi o primeiro de alguns encontros informais. Conversar com alguém da estatura do Ignacy sem as amarras formais de uma entrevista é um privilégio.
Já fazia algum tempo que não nos falávamos. Exilou-se em seu apartamento em Paris e, pelo que ouvi dizer, recebia poucos amigos. A notícia de sua morte me pegou despreparado e me lançou em um poço de culpa. Estive recentemente em Paris para um trabalho e, na correria, não o procurei. Que idiota eu sou!
Dal Marcondes é jornalista com especializações em economia e Ciência Ambiental. É fundador e editor do Projeto Envolverde.