Por Júlio Ottoboni*
O Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), sediado em São José dos Campos, é o pioneiro na América Latina em análise de descargas elétricas atmosféricas, conhecidas popularmente como raios. Esse núcleo de pesquisa também foi o primeiro a mostrar que o Brasil era o campeão mundial de raios no mundo, dada a sua posição geográfica equatorial e o tamanho de seu território.
Agora, o Elat começa nova campanha de alerta sobre os raios e seu potencial letal. O verão é o mês do maior número de acidentes durante todo o ano. O grupo analisou dados relativos às 1.792 mortes por raios constatadas durante os últimos 15 anos, entre 2000 e 2014. Segundo o coordenador do laboratório, Osmar Pinto Júnior, há sempre campanhas para que as pessoas se protejam das descargas e evitem o aumento no número de vítimas.
São Paulo é o estado com maior número de vítimas, seguido por Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pará, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Nos Estados que tem base econômica agrária, as vítimas são geralmente ligadas a atividade que exercem no campo.
No dia 01 deste mês, um vídeo exibido nas redes sociais mostrou uma jovem andando na praia em Itanhaém, no litoral paulista, durante uma tempestade no final de tarde, quando recebeu uma descarga elétrica. Ela teve parada cardiorrespitória e está internada em estado grave.
Em janeiro de 2014, no Guarujá e na Praia Grande cinco pessoas morreram instantaneamente com a queda de raios do mar. A água salgada é excelente condutora de energia e a eletricidade consegue caminhar por quilômetros dentro do superfície marítima sem perder intensidade.
A maior parte dos estudos feitos sobre o aquecimento global mostra que com o aumento das temperaturas no planeta e também que a poluição atmosférica afeta diretamente a incidência de raios, para cada grau a mais na atmosfera haverá um aumento entre 10 a 20% no volume de descargas. Isso em levar em consideração que elas tendem a ficar mais intensas e com maior poder de destruição.
O estudo do Inpe mostrou que as circunstâncias em que ocorre o maior número de óbitos por descargas elétricas são dentro dos meses de verão e as vítimas masculinas superar em quase cinco vezes as do sexo feminino. Os dados mostram que 43% das mortes acontecem durante o verão e a probabilidade de um homem morrer por raio é 4,5 vezes maior que a de uma mulher.
Outro dado interessante, a cada três mortes, duas ocorrem ao ar livre. Ou seja, mesmo sobre abrigos a pessoa não está inume aos efeitos dos raios. Tem aumentado muito, segundo a coordenação do Elat, o número de casos de vítimas dentro de casas. Por isso é aconselhável o fechamento de janelas e se abrigar longe delas.
Segundo o estudo do Inpe, as atividades agropecuárias liderando com maior número de vítimas. As mortes no campo representam 25% do total de óbitos por raio em todo o país, variando de um mínimo de 12% na região Norte a 25% na região Sul.
Um dado que impressiona, são que mortes que ocorrem dentro de casa estão em segundo lugar e representam 17%, variando de um mínimo de 7% no Sudeste e Centro-Oeste a 21% no Nordeste. A maioria das mortes, em geral, acontece na região Sudeste, com 28%, e as outras quatro regiões estão empatadas com 18%. O caso do Sudeste se deve a grande concentração populacional.
Em 2015 morreram 104 pessoas. Em 2016, as projeções preliminares indicam que o número de mortes deve ficar abaixo de 70 casos. Se confirmado, será o menor valor anual registrado desde o início do levantamento, em 2000. A média anual no período foi de 111 mortes. A incidência de mortes por raios na América Latina é 17 vezes maior do que na Europa e nos Estados Unidos. (#Envolverde)
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente. É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.