Por Reinaldo Canto* –  

O que mais temos assistido nessa campanha é um triste e reprovável deserto de ideias e projetos que efetivamente contribuam para o enfrentamento dos principais problemas nacionais.

Na esfera dos presidenciáveis o que viceja é um rol sem fim de acusações que tem o objetivo de descredenciar adversários mais do que pensar o futuro e os caminhos a serem trilhados nos próximos quatro anos. O problema também se estende a campanha a governadores e senadores pelo país afora. Muitas agressões e poucas proposições.

Se tal descalabro domina o cenário de candidaturas majoritárias imagine como se dá a praticamente ausente campanha de deputados federais? Eram outros tempos quando o ex-deputado e ex-presidente da Câmara dos Deputados, Ulysses Guimarães afirmou: “Se vocês acham esse Congresso ruim, esperem pelo próximo”. Pois é o que temos visto eleição após eleição.

E essa piora constante no nível dos deputados é inversamente proporcional ao aumento de sua relevância, vide a aprovação do orçamento secreto e o rápido desmonte de leis ambientais que demoraram anos para serem discutidas e aprovadas. Uma boiada tem passado sem dó na atual legislatura jogando por terra o que foi construído a duras penas e muitas negociações.

Temos no atual Congresso Nacional deputados e senadores que mais parecem “vereadores federais” incapazes de uma visão de Brasil e apenas trabalham para aprovar leis polêmicas e a destinação pontual de recursos para os seus redutos.

São pessoas absolutamente despreparadas muitas por ausência de compromisso com os brasileiros, mas em muitos casos também simplesmente ignoram suas responsabilidades, pois a elas, nunca foi exigido que se preparassem para essa nobre e fundamental função.

Se ainda levarmos em conta que tanto na eleição passada quanto nesta, preconceitos, crenças e achismos tomaram o lugar da ciência, das pesquisas e dos debates capazes de analisar em profundidade os temas sem conotações ideológicas e religiosas, teremos mais quatro anos de terra arrasada no nosso arcabouço legal, independente do próximo Presidente da República que for assumir em 2023.

Portanto, nós, eleitores, somos capazes de contribuir para mudar essa realidade observando com cuidado a quem iremos destinar nosso voto para os próximos representantes do Congresso Nacional. Ao invés de olharmos apenas aspectos superficiais dos candidatos é preciso também conhecer sua história, suas bandeiras em detalhes e não nos atermos apenas a slogans eloquentes e frases de efeito. Quais os compromissos desse candidato, por exemplo, com a proteção ambiental e o enfrentamento das mudanças climáticas; com o combate a desigualdade e a fome e, que tipo de colaboração verdadeira irá imprimir para construir um Brasil mais justo e sustentável para todos?

Se o eleitor encarar essas eleições gerais como uma oportunidade de fazer valer sua voz, as suas escolhas poderão romper com visões limítrofes as quais batem repetidamente na tecla de que “todo político é igual”, “ninguém presta mesmo” e “nada vai mudar”. Votar conscientemente é o melhor caminho para mudar esse estado de coisas e para qualificar nossos futuros representantes.

*Jornalista especializado em Sustentabilidade e Consumo Consciente, diretor de projetos especiais do Instituto Envolverde, foi gerente de comunicação do Greenpeace no Brasil, também responsável pela comunicação do Instituto Ethos e do Instituto Akatu, além de outras organizações da sociedade civil.