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Mineração e desamor à natureza: adeus!

Revista-Ecologico-edicao87Já está circulando a edição  87 da Revista Ecológico. Uma das principais publicações sobre temais socioambientais e a sustentabilidade do planeta, a Ecológico deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial.

Por Hiram Firmino* 

“É nossa triste e ingênua ilusão acharmos que um empresário da mineração poderia, um dia, agir idilicamente tal como os nossos irmãos índios, no passado: explorar e viver da natureza, mas de maneira reverente e respeitosa.”

A cada nova entranha política e técnica, até mesmo de desamor à causa da educação ambiental que se disseca nos bastidores pós-tragédia da Samarco, uma certeza vem à tona. Nunca mais os mineiros e capixabas aceitarão conviver com o modelo tradicional de mineração e suas perigosas e frágeis barragens de contenção de rejeitos perante a força descomunal da natureza.

Essa é a verdade dos fatos que continua vindo à tona, e vale repetir: fomos todos derrotados junto à Samarco, na qual nos espelhávamos tanto, como modelo de mineração sustentável a ser defendido e apoiado. Mas podemos sair melhor, caso seja aprendida a dura lição.

Que lição é essa?

Que o meio ambiente e a natureza, enfim, que nos protegem e ameaçam, vide as mudanças climáticas em curso, pouco importam na pauta da mineração tradicional, muito menos em seus organogramas e verbas. Acossados por seus acionistas que sempre querem mais e mais lucros, e ainda só veem a questão ambiental como despesa e estorvo, os executivos das grandes empresas de mineração precisam produzir, produzir e produzir. E às suas barragens, idem: encher, encher, encher até se romperem em novas e anunciadas tragédias.

É disso, do desamor atávico e capitalista desse setor à própria Mãe Natureza que lhe cede as suas montanhas, vales e rios sem a justa contrapartida em termos compensatórios, que continuamos falando nesta edição. Da nossa triste e ingênua ilusão de acharmos que um empresário da mineração poderia, um dia, agir idilicamente tal como os nossos irmãos índios, no passado: explorar e viver da natureza, mas de maneira reverente e respeitosa. Olhar uma montanha de ferro, pedir licença e agradecê-la, antes de explorá-la; e restitui-la depois, de maneira economicamente viável, ecologicamente correta e socialmente mais justa.

Mas, como sempre digo, nem tudo está perdido. A mineração aprenderá, agora pela dor, e na parte mais sensível, que é o bolso de seus acionistas, esse dever de casa que ela sempre negligenciou.

Que ela sobreviva assim, tal como os representantes de 195 países se comprometeram ao final da COP-21, em Paris, sob a batuta do governo brasileiro, leia-se da nossa ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira: salvarmo-nos todos do inferno do aquecimento global, fruto da nossa ignorância e orgulho besta, por não sabermos ainda, nem termos a humildade de aceitar, que o Criador de tudo que pulsa na Terra e no universo é melhor e capaz do que nós. Nem que seja com apenas 51% das ações, Ele continua majoritário!

É o que você também vai conferir nesta edição da sua Ecológico, incluindo a companhia de Chico Buarque, na sabedoria de seus 71 anos, injusta e recentemente hostilizado por patrulhas ideológicas no Rio de Janeiro. Tal como a injustiça nossa com o Rio Doce.

Boa leitura, enfim!

Até a próxima lua cheia, nas águas de 23 de março fechando o verão, quando acontecerá a solenidade de entrega do “VI Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”, adiado duas vezes ano passado em solidariedade ao meio ambiente agredido e às vítimas da tragédia de Mariana, que somos todos nós.  

* Hiram Firmino é diretor-geral e editor da Revista Ecológico (www.revistaecologico.com.br)