Opinião

Muito mais verdades incômodas

por Vilmar Berna, da REBIA – #midiasambientais – 

Não é por falta de informação ou de educação ambiental que a população joga esgoto e lixo nos rios, encostas, e muito menos escolhe viver em condições insalubres ou em áreas de risco.

Não é possível falar de problemas ambientais sem ir a raiz das causas desses mesmos problemas.

É fácil apontar o dedo sujo para a falta de educação do povo, ou para os pobres que “invadem” áreas de preservação ou escolhem se arriscar a viver em encostas perigosas ou na margem de rios que alagam.

Difícil é encarar que na raiz destas realidades estão a corrupção de mãos dadas com a concentração de riquezas e a falta de democratização da informação socioambiental, contribuindo para a alienação do povo.

As comunidades mais pobres são empurradas para as áreas de risco não por que tenham desamor pelo meio ambiente e prazer em arriscar as próprias vidas e de seus familiares, mas por leis invisíveis de mercado que se apropriam de políticas públicas através do financiamento de campanhas políticas, para que as leis favoreçam mais ao mercado que ao interesse público.

Tanto ricos quanto pobres são cidadãos e possuidores de direitos, e também pagam impostos. No caso dos pobres, a cobrança de impostos se dá da forma mais injusta: escondida no feijão, no arroz, nos alimentos, no preço do transporte, da água, da luz, etc.

Só para lembrar, enquanto salários são descontados na fonte, dos pobres e da classe média, os ricos estao isentos de pagar impostos sobre lucros, dividendos, doações e heranças! E o que isso tem a ver com meio amviente? As camadas mais ricas da população moram em bairros com infraestrutura de tratamento de esgoto, asfalto, coleta regular de lixo, enquanto as camadas.mais pobres, que efetivamente pagam por esses serviços, tem de conviver com valas de esgoto a céu aberto, lixo acumulado, vetores de doenças, alagamentos e deslizamento de encostas.

Seguramente, a questão ambiental é muito mais complexa que só os temas como fauna e a flora ou mudanças climáticas. (#Rebia – #Envolverde)

O jornalista Vilmar Berna é um dos únicos três Brasileiros a receber o Prêmio Global 500 oferecido pela ONU, junto com os ambientalistas Chico Mendes e Fabio Feldmann. É o criador do Jornal do Meio Ambiente e depois da Revista do Meio Ambiente. Lidera uma das mais antigas e importantes redes de cidadania ambiental no Brasil, a REBIA – Rede Brasileira de Informação Ambiental.