Opinião

Nem sempre voto em mulher. Por quê?

Por Samyra Crespo – 

Li no O Globo, em setembro, quase um mês antes das eleições, que o mínimo de 30% de candidaturas femininas foi descumprido por 23 partidos, incluindo os que estão à direita, ao centro e à esquerda.

Ou seja, descumprimento geral.

No dia 1.o de outubro, véspera da votação, uma pesquisa foi também divulgada pelo O Globo.

Um certo Instituto Locomotiva afirmava que 80% da amostra não via diferença entre homens e mulheres – o que importaria mesmo: as propostas, caso a caso.

Outro dado da mesma pesquisa: 54% das mulheres gostariam de votar em candidatas mulheres, mas consideravam que tinham poucas chances de vencer o pleito.

E ainda 31% acham as mulheres menos preparadas que os homens para os cargos políticos.

A meta para a paridade de gênero no parlamento cresce a passos de cágado no Brasil.

Parece ainda distante, ainda que tenhamos tido algumas poucas candidatas à Presidência.

Dessa meia dúzia, só Dilma Roussef foi eleita, tendo como cabo eleitoral o Lula no auge de sua popularidade.

Fico pensando no bordão “mulher vota em mulher” e na boa frase da ativista norte-americana Maya Angelou que respondendo a um repórter por que era feminista, foi direto ao ponto: ‘As mulheres são a metade da população do Planeta, seria estranho não estar nessa metade”.

Fico pensando na minha própria atitude.

Procurei orientar meu voto para aqueles e aquelas que representam um melhor posicionamento – direto e indireto da agenda ambiental.

Mulheres em que gostaria de votar? Para deputada se estivesse em São Paulo, votaria em Marina Silva, sem dúvida. No Rio votei com prazer no ecolibertário, ambientalista histórico Carlos Minc .

Simpatizei com a candidatura da Lucélia Santos no Rio, mas resolvi apoiar a Tatiana Roque por seu compromisso com pesquisa, educação superior e C&T.

Talvez tivesse me deixado seduzir pela Simone Tebet se a terceira via fosse uma possibilidade viável. Tava na cara que não era.

Numa conclusão sem delongas, me acho naquele grupo que gosta de votar em mulheres, mas que não basta ser mulher para ter minha confiança nem meu voto.

Quase vomito quando tomo conhecimento de que Zaira Zambelli (notória adversária na pauta ambiental) sai consagrada das urnas em São Paulo.

Fico acabrunhada de tristeza com eleição de Tereza Cristina (uma Katia Abreu piorada) e de Damares ‘meninos de azul, meninas de rosa’.

O tema dá muito o que pensar e talvez uma boa estratégia para politicamente alavancar mulheres para o próximo pleito (de prefeitas e vereadoras) seja uma intensa campanha que inclua treinamento e visão dos partidos.

Para nós, ativistas do meio ambiente, a meta é claríssima: precisamos de prefeitos, vereadores cada vez mais comprometidos com a proteção da biodiversidade e com a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. É no lugar em que a gente mora que o bicho pega.

E antes que me esqueça – por que a legislação da cota de mulheres não está sendo cumprida?

Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”. Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.

 

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