por Samyra Crespo –
A vida selvagem, ou silvestre, ou ainda as áreas ditas pristinas (intocadas pela atividade humana) estão cada vez mais raras e isso ameaça estruturalmente a biodiversidade do planeta.
Há rupturas dramáticas acontecendo.
Habitats crescentemente antropomorfizados, isto é, transformados em cidades ou áreas produtivas (monocultura e gado) expulsam os animais de seu ambiente, obrigando-os a buscar refúgios cada vez mais escassos.
Além disso, a caça ilegal, o tráfico e os grandes incêndios atuam para a ocorrência de morte e extinção de espécies em ritmo acelerado. E em grande número.
Não é só a fauna terrestre, mas a aérea e a que está sob o solo.
O empobrecimento de genes, seja de plantas ou animais significa um alto risco para a humanidade: ao alterar drasticamente cadeias alimentares construídas em escala de tempo evolucionária, liberamos no ambiente predadores e patógenos que atacam os seres humanos, causando doenças e debilitando a saúde das populações.
A diminuição de répteis como cobras, rãs e sapos, deixa sem predadores milhares de espécies de insetos que, na luta pela sobrevivência, vão buscar alternativas alimentares e hospedeiros nos seres humanos.
A vida se faz por colaboração, associação e competição. Cada processo interage com outro numa complexa teia de relações.
Temos interferido imprudentemente nessa lógica e nesses elos, com consequências nem todas previstas.
Em outras palavras, agimos levianamente.
Por isso, apoiar o conservacionismo, ciência e ativismo voltados para a conservação das espécies (de animais e plantas) é absolutamente necessário e decisivo no presente e nas próximas décadas. Há sinais de estresse e exaustão por todo lado.
A vida, tal como gerações passadas e presentes conhecem, está sendo reconfigurada em práticas predatórias e no fogo nada brando das mudanças climáticas.
Restaurar, revegetar, controlar desmatamento, apoiar projetos – em escala – de conservação é ação urgente.
Uma boa experiência aqui outra ali, é bonito, é poético mas não é suficiente.
Precisamos escalar. Avançar da consciência individual para a coletiva.
A hora é, portanto, de escala, lastro científico e decisões políticas que não podem ser mais adiadas.
Neste dia, tanto os animais quanto nós, somos um. Nos demais dias e anos também. Um só destino.
Pensemos nisso.
*Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.
Foi vice-presidente do Conselho do Greenpeace de 2006-2008.