por Dal Marcondes, da Agência Envolverde – #midiasambientais –
O mundo está de luto com a pandemia da COVID19 e seus milhares de mortos. O Brasil avança para a perda de cerca de 30 mil brasileiros e com a seta apontando para cima.
Neste cenário o ministro Celso de Mello, em seus últimos meses no Supremo Tribunal Federal, faz chegar ao público um vídeo de duas horas da reunião ministerial de 22 de abril no Palácio do Planalto. O objetivo inicial era verificar se o presidente Bolsonaro interferiu ou queria interferir na Polícia Federal. Após assistirmos o espetáculo escatológico podemos concluir que uma suposta interferência na PF é o menor dos problemas em relação a esse governo.
Um por um os ministros arrotaram seu fel enquanto Bolsonaro irrigava a reunião com palavrões e preocupações paroquiais. Ele deixou claro que deseja “armar a população”, o que significa autorizar que seus seguidores de todos os domingos, aqueles que querem fechar o Congresso e o STF, carreguem armas de fogo cada vez mais potentes. Para Bolsonaro o que realmente importa é o ataque sistemático a qualquer um que em sua visão tacanha possa ameaçar sua candidatura em 2022 e que não apoie sua ideia de combate à COVID19 à base de cloroquina e tubaína.
Waintraub, inquilino do Ministério da Educação, se fez de vítima por defender o presidente e dirigiu suas pestilências aos políticos em geral e ao STF em especial. Nenhuma palavra sobre projetos ou planos para superar os dilemas da educação nestes tempos de pandemia e quarentena. Damares, a da goiabeira, guinchou aquilo que seu chefe queria ouvir, que vai pedir a prisão de governadores e prefeitos. Recebeu o afago de que sua pasta irá receber mais recursos. Dinheiro que talvez venha da venda do Banco do Brasil, que segundo informou o “Posto Ipiranga Guedes” já está pronto para privatizar. Depois de afirmar que leu Keynes três vezes, e no original, jogou uma pá de cal sobre o plano defendido pelo chefe da Casa Civil, general Braga Netto: “Não chamem essa coisa de Plano Marshal”, vociferou.
A reunião era para apresentar um plano de recuperação econômica para o país pós pandemia. Disso, no entanto não se falou, nem da pandemia em si. Do ministro da Saúde Nelson Teich, o breve, ficou o olhar de espanto enquanto ouvia o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles explicar como estava planejando o estelionato ambiental sobre o patrimônio público sob o manto do silêncio promovido por 20 mil mortes de brasileiros. Salles explicitou que o governo deveria agir “enquanto a mídia está focada na COVID19” para fazer mudanças nas regras ambientais “de baciada”, abrindo caminho para passar “uma boiada” de mudanças nas regras não apenas de seu ministério, mas no da Agricultura e onde mais quisessem.
Salles ainda aguarda a sentença definitiva por improbidade administrativa cometida enquanto era secretário de Meio Ambiente em São Paulo, recentemente foi expulso do NOVO, o partido cujo nome é uma contradição explícita. Suas declarações são um auto confessional sobre os planos de seu estelionato sobre o patrimônio ambiental do Brasil e do Planeta. E isso com um alerta de seu viés de advogado: precisamos arranjar alguns pareceres e deixar a Advocacia Geral da União de sobreaviso”.
Enquanto Salles demitia técnicos e pesquisadores experientes do ICMbio e do Ibama e nomeava ex-policiais a sociedade amortecida parecia achar que isso iria fortalecer a fiscalização, Mas nos últimos dias estudos mostram que o mundo vai ter um recuo de 6% na emissão de gases de efeito estufa, dando um alívio às mudanças climáticas. O Brasil, no entanto, pode ter um aumento de 20% em suas emissões, mesmo com metade do país em quarentena e com a economia caindo cerca de 6% do PIB em 2020. Esse crescimento vem por conta dos incêndios e queimadas principalmente nos biomas Amazônia e Cerrado, que estão na mira de maus agricultores, madeireiros, grileiros e garimpeiros.
O crime não está em quarentena e o governo federal demonstrou nessa reunião escatológica que não está nem um pouco preocupado com isso, nem com a COVID19 e nem com o Ministério da Saúde, transformado em sucursal do Forte Apache. A expressão do ex-ministro Teich foi esclarecedora, cara de “onde fui amarrar meu burro”. Dias depois pegou o boné e foi para casa, ficar de quarentena que é o que todos nós devemos fazer.
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