Por Valdemiro A. M. Gomes –
Não é primeira vez que a igreja católica foca para o meio ambiente. Em 2007,o cardeal Paul Poupard, ao promover o plantar de árvores na Hungria, disse: “ o ambiente é um dever religioso”.
Hoje, o Papa Francisco, nome adotado de outro Francisco, que é dito ter ouvido quando meditava: “vai e repara minha casa, que, como vês, está em ruinas”, acaba de editar a Encíclica Laudato Si. Acaso? Coincidência? Energia superior, não ainda cientificada?
A Igreja católica parece acordar para um novo caminhar e crenças limitantes julgo serão excluídas pelo pastor. Ninguém é dono da verdade. O que você pensa ser a verdade é verdade para você. Dono da verdade é o fanático. Eu digo que só reconheço uma verdade: a da morte (pelo menos até hoje. Pode ser que depois de a experimentar nem mais essa o seja).
O momento é de pensar diferente. Momento para experimentar, inovar, inclusive para o partido verde, meu preferido. Gostaria de sentir, ver meu Brasil priorizar ser líder do verde, da não-violência aos seres e à sua Terra.
Visitei há dias as obras de Belo Monte e uma aldeia indígena na margem do rio Xingu, que em breve será outro. Viagem feita na companhia de ex-colegas da escola de engenharia, turma 1971, e de um encantado meio-índio, (será que existe meio-índio?), nascido no Xingu e que depois de ganhar prata nos cabelos, tornou-se escritor. Recomendo lerem o livro “A batalha do riozinho do Anfrízio”, um épico da nossa desconhecida Amazônia.
Voltei orgulhoso como engenheiro; cabisbaixo por ser paraense que mal conhece sua terra; “super-homem” por assistir domar, mudar, o curso do Xingu; envergonhado como cidadão ao ver nossos antepassados, os índios, sendo manipulados, transformados. S.O.S. Ministério Público e Funai: é preciso apurar quem autorizou construir-se casas em aldeias, reservas indígenas, em alvenaria e cobertas de telhas de amianto ( hoje condenadas por motivos de saúde em muitos países). O caminho para nosso crescimento energético deve ser do tipo Belo Monte? E as fontes alternativas? É ético comprar-se o índio, com amianto, telefone, cesta básica, com produtos industrializados e outros penduricalhos? Realidade?
É dito que a realidade é igual para todos, mas a maneira de a perceber e encarar muda de pessoa para pessoa. Os índios, como os gregos antigos, consideravam a natureza uma deusa, chamada por estes últimos de Gaia. Os gregos de hoje, viciados pelo oxi do “clube” financeiro internacional, vomitaram seu “OXI” (não) sinalizando que querem ser livres, que a mudança faz parte do viver da humanidade.
A lógica do dinheiro, o poder do dinheiro, tem limites? Deve o dinheiro mudar a cultura, o livre arbítrio do grego, do índio? O livre arbítrio é não só angústia mas também responsabilidade. O momento é de um repensar. Não ao colapso econômico. Não ao colapso ambiental.
O teólogo, Leonardo Boff, escreveu: “menos crescer”. Economistas, como o inglês T.Jack, em “Prosperidade sem crescimento”, e o canadense P.Victor , concordam em dizer que o aumento da dívida para financiar o consumo privado e público não é sustentável e terá que ser revisto. A tradicional economia, inclusive as dos “modernos”Krugman e Stiglitz, que pressupõem nossa Gaia como infinita, não mais são verdades. Sem crescimento? Não.
Crescimento sim, sem dúvida, mas o que for necessário e sustentável. Crescimento que seja produzido para aqueles que estão na exclusão social, na miséria. A desigualdade não deve mais ser agravada se quisermos que tenhamos descendentes vivendo neste micro cosmo, Terra. As políticas financeira e fiscal precisam ser revistas. O político precisa pensar diferente, tornar-se livre, independente, deixando de ser uma engrenagem (alguns escrevem excremento) do “clube”.
É momento de mudar. É hora de ouvir, divulgar, seguir quem fala diferente. O Papa, que demonstra ser livre de espírito, livre de injunções, de regras, de normas protocolares, solto dos símbolos do poder, que encoraja evoluções e provoca discussões em sua Igreja, um seguidor do seu interior, é o autêntico (alguns escrevem revolucionário) pensador que o mundo precisa. Ele pede: “Bota fé”; “Bota esperança”; “Bota amor”. Eu complemento: Bota verde.
Façamos de Jorge MarioBergoglio, formado em química, o Papa Verde. (#Envolverde)
* Valdemiro A. M. Gomes é engenheiro civil, escreveu 3 livros de crônicas ( sementes) publicados em jornais do Pará e outros. Seguidor do pensar do Mahatma Gandi.