Opinião

Pessoas novas para um mundo novo

Vendas de armas, por país, no ano de 2013.
Vendas de armas, por país, no ano de 2013.

Por Liliane Rocha*

Vangloriamo-nos de estar no auge da civilização, da tecnologia e dos avanços, mas a verdade é que juntos construímos um mundo no qual 1% da população detém metade da riqueza do planeta. No qual em 2012 as 100 maiores indústrias armamentistas do mundo totalizou uma venda de 395 bilhões de dólares.

No qual os mesmos países que vendem quase a totalidade de armas produzidas no planeta, ameaçam declarar guerra pela paz. Quão conveniente. Estamos vivendo em um mundo no qual mais de 900 milhões de pessoas ainda vivem na extrema pobreza. Um mundo no qual as pessoas falam sobre Adam Smith e Karl Marx sem nunca ter lido, de fato, os autores para poder formar opinião. E quem sabe achar o que há de bom em cada um deles para planejar sistemas coletivos viáveis.

Estamos todos desejosos em ter um mundo novo, mas precisamos estar todos comprometidos em fazer um mundo novo. Para isso, cada um de nós precisará realmente se comprometer em mudar hábitos, atitudes, postura social.

As reflexões sobre Sustentabilidade (Ambiental e Social) precisarão extrapolar o meio dos estudiosos do tema e se impregnar de forma sólida e consistente no cotidiano de cada cidadão. A mudança passa por refletir como os seus hábitos de consumo de eletrônicos impacta a indústria da mineração, o quanto seus hábitos de descarte de lixo impactam a geração de resíduo. Em 2015 estimou-se que 1,247 mil toneladas de resíduos eletrônicos foram descartados. É preciso refletir qual a história do produto antes de chegar na sua casa e qual a história dele quando sai dela.

Mudando de setor, na indústria têxtil, quem de nós está disposto a simplesmente parar de consumir produtos que notoriamente são fabricados por trabalhadores em situação análoga ao trabalho escravo?  Por vezes por crianças em trabalhos análogos ao escravo?

Ainda, é preciso entender que conviver com a diferença, de toda e qualquer tipo é essencial. E que em tempos de globalização e internet, mais do que nunca a discriminação que se pratica aqui pode repercutir do outro lado mundo.

O lado bom dessa história é que as informações estão disponíveis. Basta transformá-las em conhecimento, sabedoria e mudança de atitude. Não há mais margem para que um grande contingente de pessoas seja conduzido como massa de manobra, a não ser, que haja uma grande parte da população conivente.

Não há vilões, nem na empresa nem no governo. Há uma sociedade que precisa urgentemente mudar os parâmentos de relacionamento com a informação, com as pessoas e com o meio ambiente. Há uma sociedade que só fará sentindo quando assegurar padrões mínimos de qualidade para os cerca de 7 bilhões de habitantes do planeta. E este tempo é hoje, não há mais possibilidade de esperar. Não estamos no auge civilizatório, mas certamente um dia, em breve, espero, possamos estar. (#Envolverde)

* Liliane Rocha é diretora Executiva da empresa Gestão Kairós (www.gestaokairos.com.br), mestranda em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Extensão de Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Gestora com 11 anos de experiência na área de Responsabilidade Social tendo trabalhado em empresas de grande porte – tais como Philips, Banco Real-Santander, Walmart e Grupo Votorantim. Escreve mensalmente para Envolverde sobre Diversidade.