Opinião

Qual o futuro da vida? 30 anos da ECO- 92

Por Liliana Peixinho * – 

Desde o ano de 1972 o mundo pauta, com preocupação, as  relações humanas com o Ambiente. Estocolmo, 1972 e Brasil, em 1992, foram sedes de grandes discussões mundiais. Na Eco- 92 muito se debateu, protocolou, avançou, acordou em propostas para o Bem- viver coletivo na Terra.
Mas o que, de fato, dos discursos tão bem elaborados foi colocado em prática?
Esta semana ouvi o Gabeira falar: “A destruição ambiental avança em um ritmo industrial, e a resistência em um ritmo artesal”.
Fato é que a vida está em agonia diariamente, planeta afora.
Esforços da Ciência, do conhecimento cotidiano, de  saberes de povos tradicionais, de experiências humanas, ao longo dos últimos 30 anos   têm sido exaustivamente expostas ao mundo. São alertas, comprovações, informações que poderiam estar à serviço da vida, negligenciada. E a morte segue,  banalizada!

O que observamos ao nosso redor?

Rios poluídos, mares cheios de plásticos,
florestas devastadas, manguezais como cemitérios de galhos, sem sustentação das fontes de alimentos,
Indígenas judicializados, fome alastrada,  insegurança alimentar, quilombolas sem acesso a água para plantios tradicionais, Mata Atlântica destruída, Caatinga em acelerada desertificação em ameaça à produção de alimentos e qualidade de vida. É risco, insegurança, doenças, miséria, injustiça, por todo canto.
A expressão “sustentabilidade”  virou greenwashing como instrumento político empresarial, para discurso marketeiro sujo, enganoso.
O Clima, como bem pautado, mudou seus ciclos, com a atuação criminosa humana nos sistemas naturais. As águas das chuvas,  antes de chegarem ao mares, aos rios, escorrem com força destruidora a devastar moradias, em áreas inseguranças. As mortes somam números assustadores, distantes das histórias de vidas, desumanizadas, Brasil, planeta afora.
O sonho do transporte limpo, como bicicletas, cresceu como Mercado/venda/ estímulo ao consumo, num ambiente que mata, e muito, em  trânsito caótico, sem estrutura, em espaço mal educado.
Animais invadem as casas, expulsos de seus habitats naturais. Assustados, incomodados, também assustam. As moradias avançaram espaços com força, sem planejamento, sem cuidados preventivos, em desarmonia com o Ambiente.
Ao longo dos últimos 50 anos, pelo menos, as grandes convenções sobre políticas de vida e uso de recursos naturais,  foram bem formalizadas, em leis, mas não cumpridas, praticadas, a contento.
Os aterros sanitáriaos, lixões, continuam por aí, a céu aberto, como Ambiente de sobrevivência de catadores, sem o devido valor como agentes sanitários ambientais.
Entre os Rs de Racionalizar, Recusar, Reduzir,  Repartir, Repensar, Reaproveitar, Recriar, prevaleceu o R de Reciclar, num ambiente de estímulo ao consumo, como plástico, alumínio..
Nesse mercado sem prática de política reversa o conceito de resíduo anda longe do conceito limpo e  “lixo” continua como  expressão suja.
A necessidade do consumo limpo, sem rastros sujos, para a construção de uma cadeia de produção, consumo e descarte harmoniosa de ponta a ponta, não tem espaço na pressa capital.
O agronegócio é commoditie para alimentar uma Economia suja, criminosa, venenosa. Doenças preveníveis se espalham, aos ventos.
As conferências internacionais da ONU pautam o Meio Ambiente e Desenvolvimento como urgência de se buscar um novo caminho para a humanidade. Mas o discurso continua longe da prática.
Protocolos como o de Quioto, em 1997,  o Acordo de Paris, em 2015, a Convenção da Diversidade Biológica, no Brasil, (base para o Protocolo de Nagoya)  “com regras claras e inéditas de proteção das mais diversas formas de vida”,  fazem barulho, sem mudança real.
Na Rio-92 direitos e legados de povos tradicionais, como  indígenas, reforçaram a necessidade de proteção das florestas. E a Terra Ianomâmi  foi homologada, como símbolo de garantia indígena contra invasões dos garimpeiros. Os fatos contrariam as intenções e o que estamos a observar são disputas mortais.
Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, os rumos da vida sinalizavam em duas importantes direções: a proteção ao ambiente e os direitos humanos. Ameaças de energia nuclear, uso do petróleo,  “desenvolvimento”  a qualquer custo, não parecia inteligente, sensato.
No entanto, a pandemia da Covid-19 deixa ricos mais ricos, pobres mais pobres.
A Guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, e que tem fontes de energia como  petróleo/gás, no cerne da disputa, além dos prejuízos humanos e históricos incalculáveis, somam prejuízos financeiros em cerca de 600 bilhões de dólares.
 A grande pergunta continua:
Qual o valor da vida?
*Liliana Peixinho – Jornalista, ativista socioambiental.
Especialista em pautas : Desigualdade,Fome, Mudanças Climáticas, Água, Saneamento, Desperdício,
Segurança Alimentar, Desmatamento, Comportamento Alimentar preventivo.
 Trabalha com Imersões Jornalísticas Comunitárias em territórios tradicionais (indígenas, quilombolas, pequenos agricultores familiares).
Especialização em Jornalismo Científico e Tecnológico; Mídia, Meio Ambiente, Responsabilidade Social; MBA em Hotelaria e Turismo Sustentável. Ativista direitos humanos.
Fundadora de mídias independentes: Movimento AMA- Amigos do Meio Ambiente, Mídia Orgânica, REAJA, Catadora de Sonhos, Cuidar do Cuidador, RAMA- Rede de Articulação e Mobilização Ambiental, O outro no Eu.
Alguns dos prêmios:
Jornalismo e Sustentabilidade – Série especial:
“Seca Sertão Adentro “- Mercado Ético
Shift – Transformador Social – Movimento AMA-Amigos do Meio Ambiente
Togheter TV Inglaterra – Desperdício Zero =Lixo Zero
#Envolverde