Por Liliane Rocha*
O filme O Despertar da Força traz novamente à tona a discussão que tem permeado diversos meios nos últimos anos. Qual o papel da indústria de brinquedos frente ao tema de diversidade?
O VII filme da brilhante saga Star Wars inova ao trazer uma protagonista Jedi mulher e um protagonista negro. Somente este assunto já deu muita repercussão na mídia nos últimos dias e por isso não focarei nele aqui.
O fato é que grandes produções cinematográficas como está que tem em boa parte dos seus telespectadores o público infantil, tende a influenciar a indústria de brinquedos ao gerar toda uma linha de produtos inspirada nas principais personagens do filme. E é aí começa o nosso ponto de reflexão, o filme que teve quase dois milhões de telespectadores já no primeiro final de semana, certamente entre homens e mulheres, brancos e negros, adultos e crianças, ao lançar a linha de bonecos do filme.
Ao tentamos comprar a boneca da Rey, que já é particularmente difícil de ser encontrada, descobrimos que existem exatamente 4 brinquedos da Rey, dois deles são do speeder dela (ela é apenas um complemento) e só um deles não é um colecionável, porém todos custam mais de R$100. Enquanto isso existe uma linha de bonecos de 30cm do filme que custa em media R$70 e só possui 4 personagens: o Darth Vader, Kylo Ren, Finn e um Stormtropper, todos homens. Outra personagem feminina do filme também foi impactada, a Capitã Phasma virou Capitão Phasma.
E apesar de ter incluindo o boneco do personagem negro Finn, lançado junto aos outros 1 milhão de bonequinhos no período do Natal ficou estocado (ou melhor, encalhado) nas prateleiras. Gerando a polêmica, o que aconteceu? Porque a boneca da protagonista Rey nem sequer chegou a ser lançada e a do protagonista Finn não teve a mesma venda dos demais?
Infelizmente quando iniciamos nessa linha de reflexão, entramos em um caminho de perguntas sem fim. Porque não temos bonecos de pessoas gordas, pessoas com deficiência, entre outros? Aos poucos vemos pequenas iniciativas isoladas de pequenas empresas ou empreendedores individuais que lançam uma linha de bonecas negras, como as bonecas africanas, ou de bonecas de pessoas com deficiência, lançada na campanha Toy Like Me (“brinquedo como eu” em tradução livre).
Outra discussão que tem andando na pauta é se existem brinquedos para meninos e meninas. Temos a tradicional divisão na qual os brinquedos das meninas são rosa, os brinquedos dos meninos são azuis. Para eles ficam destinados carrinhos, bolas, bonecos de filmes de aventura, para elas miniaturas de geladeiras, fogões e bebês.
Sim podemos pensar que essa divisão de brinquedos para meninos e meninas já representou, espelhou a sociedade de uma época, mas se analisarmos a realidade de 2015 onde mulheres dirigem, pilotam, e homens também limpam suas casas, cozinham e compreendem e exercer cada vez mais a importância de ser pai diante da paternidade, a divisão de brinquedos não faz o menor sentido. Há muito tempo o mundo do trabalho não é somente destinado aos homens e o mundo do cuidado não é somente destinado as mulheres. Seres humanos são seres humanos, e mais rico será o seu processo de desenvolvimento dos seus filhos, quanto mais puderem desde a primeira infância utilizar brinquedos que ajudem a aprimorar todas as habilidades que serão necessárias para uma vida adulta saudável e feliz.
Além disso, temos uma representatividade demográfica na sociedade que deveria estar claramente expressa na indústria dos brinquedos, é de pequeno que se aprende que todos têm espaços iguais perante a sociedade e neste sentido brinquedos com pessoas brancas, negras, asiáticas, gordas, altas, homossexuais, de diferentes religiões, baixas, entre outros deveriam fazer parte do nosso mapa mental de crianças. Certamente ao chegarmos no mundo adulto teríamos menos estranhamento com relação a esta temática.
Por fim, resta o apelo final, se não por consciência ao menos que seja por negócios. Fico me perguntando quantas meninas, e meninos, assistiram Star Wars e teriam amado ganhar o box do filme, completo contendo a heroína, protagonista, nova Jedi que não está na caixa.
Aos leitores dessas palavras fica o convite. Inove! Dê ao seu filho e a sua filha a oportunidade de ampliar sua visão de mundo, sua consciência sua percepção da realidade e suas habilidades. No futuro ele ou ela agradecerá. (#Envolverde)
* Liliane Rocha é diretora Executiva da empresa Gestão Kairós (www.gestaokairos.com.br), mestranda em Políticas Públicas pela Fundação Getúlio Vargas, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Extensão de Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Gestora com 12 anos de experiência na área de Responsabilidade Social tendo trabalhado em empresas de grande porte – tais como Philips, Banco Real-Santander, Walmart e Grupo Votorantim. Escreve mensalmente para Envolverde sobre Diversidade.