Por Leno F. Silva*
Às quintas-feiras atendo no Tribunal de Santana em sessões de Mediação de Conflito. São encontros intensos, com fortes cargas emocionais, e são muito valiosos pelo que podem produzir de resultados e de diálogos entres as partes, quando a solução é restabelecida de comum acordo pelos envolvidos. Mesmo em casos em que há desistência, o processo vale como aprendizado.
Na semana passada, voltando para casa depois de duas sessões tensas, fui presenteado quando uma senhora que aparentava mais de 80 anos me pediu ajuda para atravessar a Av. Angélica na faixa de pedestre, pois com a visão prejudicada ela tinha receio de percorrer o trajeto.
Concluído o percurso ela me agradeceu desejando que a minha vida fosse muito feliz. Fiquei honrado e entendi que a escolha que fiz de mudar o caminho de volta era para estender o meu braço para ela, que seguia em direção ao apartamento da cunhada para lhe prestar solidariedade na recuperação de um procedimento cirúrgico.
Em outro trajeto no sábado, na calçada da Av. Paulista, me deparei com algumas garotas da Anistia Internacional. Embora estivesse apressado, atendi ao pedido da Larissa, de 21 anos que, entusiasmada, me falou da importância de conscientizar as pessoas sobre os direitos humanos e outras injustiças com as quais nos deparamos diariamente e não percebemos que não percebemos.
Nesses dois encontros com mulheres de gerações completamente diferentes, experimentei a mesma gratidão. Embora vivamos tempos em que as relações digitais são imperativas, nada substitui os contatos ao vivo, ainda mais nessas situações inesperadas e só possíveis quando se circula a pé, e se permite atender aos chamados. Por aqui, fico. Até a próxima. (#Envolverde)
* Leno F. Silva escreve semanalmente para Envolverde. É sócio-diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. É diretor do IBD – Instituto Brasileiro da Diversidade, membro-fundador da Abraps – Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade, e da Kultafro – rede de empreendedores, artistas e produtores de cultura negra. Foi diretor executivo de sustentabilidade da ANEFAC – Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.