Por Júlio Ottoboni*
Os cientistas estão novamente preocupados com a nova onda de calor e o prenúncio de se alcançar um recorde de calor em abril. O consumo de água, apesar do verão ter garantido uma retomada dos níveis dos reservatórios paulistas, ainda aponta para grandes desperdícios que foram, novamente, negligenciados pela concessionária, pelo governo do Estado e por parte da população.
A empresa Climatempo, que tem um centro de pesquisas climáticas no Parque Tecnológico de São José dos Campos, informou que o calor de abril de 2016 em São Paulo já chegou bem perto do recorde absoluto. E isso deve trazer de volta a nova realidade climática do Sudeste, na qual há secas e estiagens prolongadas e um regime de chuvas totalmente irregular. Tudo permeado por ondas de calor de grande magnitude.
No dia 9 de abril, a capital paulista ferveu em pleno outono com a temperatura máxima alcançando 32,9° centígrados. Essa é a segunda marca mais elevada em abril desde 1943, quando o Instituto Nacional de Meteorologia iniciou as medições regulares no Mirante de Santana, que não está exatamente no centro da ilha de calor da cidade, situado mais na região central.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, a maior média de temperatura máxima em um mês de abril, desde o inicio das medições foi de 28,7 graus, isso no ano de 2002. A Sabesp já prepara um novo aumento no preço da água distribuída nas cidades onde presta seus serviços. O temor é uma nova explosão de consumo e em enfretamento de novos racionamentos.
Nos primeiros 14 dias do mês, a temperatura baixou de 29 graus apenas uma vez, mesmo assim foram ínfimos dois décimos logo no começo do mês, no dia 4, ainda sob influência maior do El Niño que perde rapidamente sua força e perderá muito sua influência climática já no final desde mês. A madrugada de abril mais fresca até agora teve temperatura mínima de 18,0°c.
Segundo a Climatempo, as temperaturas mínimas e máximas registradas na primeira quinzena de abril ficaram muito acima da média. As mínimas superaram cerca de 3 graus o valor de referência e as máximas têm estado 5 graus acima do valor médio climatológica.
Pelas medições do Instituto Nacional de Meteorologia, a atual média das temperaturas máximas registradas de 1 a 14 de abril foi de 30,7 graus. Algo muito superior a média máxima já registrada em abril desde 1943. Ela foi em 2015 e chegou a marca de 25,6 graus, mais de 5 graus abaixo da atual.
Numa comparação feita pela empresa de climatologia, a média das temperaturas mínimas em 14 dias de abril foi de 19,6 graus, embora a referência histórica seja de 16,3 graus. Já as tardes de São Paulo estão 5,4° graus mais quentes do que deveriam e suas madrugadas, 3,5°C mais quentes.
Pelas previsões da Climatempo, as chances de chover são muito baixas até 24 de abril. Nenhuma entrada de ar frio de origem polar que provoque chuvas deverá acontecer. Além disso, com a tendência de baixa umidade do ar, toda a grande São Paulo e seus entornos passarão os próximos 10 dias com poucas nuvens e muitas horas de Sol intenso.
Os pesquisadores ainda não afirmam categoricamente, mas novamente o sudeste do país enfrenta uma forte onda de calor que tem se intensificado, tanto na frequência como em suas altas temperaturas, por causa do degelo do Polo Ártico que ampliou o volume de água doce no Oceano Atlântico Norte, o que causa um desequilíbrio na salinidade e na densidade das águas oceânicas.
Esse fenômeno gera uma mudança nas correntes marítimas, que bloqueiam a subida das correntes oceânicas mais quentes do Atlântico Sul. Sem a migração dessas águas, a costa leste dos Estados Unidos passa a ter menos chuvas e a circulação das grandes correntes marítimas são alteradas interferindo nas temperaturas e nos regimes de chuvas influenciando o clima também na Europa e na África.
A consequência no sul do continente americano é um acréscimo térmico imenso na Temperatura da Superfície do Mar (TSM) e a consequente formação de grandes ondas de calor que migram para dentro dos continentes americano e africano. A consequência imediata disto é a formação de períodos de estiagem e secas prolongadas. (#Envolverde)
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, pós graduado em jornalismo científico. Tem 30 anos de profissão, atuou na AE, Estadão, GZM, JB entre outros veículos. Tem diversos cursos na área de meio ambiente, tema ao qual se dedica atualmente.