Por Neuza Àrbocz, Especial para Envolverde –
Quando o Pantanal e a Amazônia ardem em chamas, os que observam a Natureza e seus ciclos sabem que enfrentaremos estiagem e seca em um curto espaço de tempo. Sem o fenômeno dos “rios voadores”, formados a partir da umidade e das partículas que as árvores soltam no ar, ficamos sem chuva.
Mesmo assim, desde 2020, o Brasil enfrenta um ritmo acelerado de desmatamento e o mais recente relatório do Map Biomas – que consolida dados de cinco sistemas de monitoramento – apurou um aumento na destruição das áreas naturais em todo o país, com a perda equivalente a 24 árvores por segundo.
As consequências já se fazem sentir e esta semana, o governo federal autorizou o plano de racionamento de energia para grandes consumidores e a Sabesp já colocou São Paulo em estado de alerta devido ao baixo nível de suas represas.
“Nós já estamos em uma crise hídrica. Os indicadores mostram uma redução significativa no volume de chuvas e no armazenamento de água ao longo dos meses deste ano. Hoje, nós temos 20% menos água do que o mesmo período em 2013, ano que antecedeu a crise”, avaliou Pedro Luiz Côrtes, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental no Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, em entrevista ao jornal da universidade.
Com reservatórios baixos, as hidrelétricas, responsáveis por cerca de 70% de toda energia do país, reduzem sua produção e acionam-se mais termelétricas, movidas à queima de gás, carvão ou biomassa. Medida que, ao longo do tempo, agrava o quadro por jogar mais poluentes na atmosfera e provocar ainda mais desequilíbrio. Um desafio que o Brasil ainda não resolve, pois parte de sua população acredita em “queimar o mato” – ou arrasá-lo com correntões e tratores, para colocar em seu lugar, boi e pasto. O país atingiu a marca de 215 milhões de cabeças de gado este ano, que serão, na sua maioria, devorados em inconsequentes churrascos, deixando um rastro de terras exauridas e improdutivas atrás de si, no decorrer do tempo.
Ao analisar 74.218 alertas de desmatamento, o Map Biomas detectou que 99% deles ocorrem na ilegalidade e sobre áreas protegidas. “Em mais de dois terços dos casos, é possível saber quem é o responsável. É preciso que os órgãos de controle autuem e embarguem as áreas desmatadas ilegalmente e as empresas eliminem essas áreas de suas cadeias de produção”, recomendou Tasso Azevedo, coordenador-geral do Map Biomas, em entrevista ao canal RBA. Um outro estudo da entidade, com a análise de imagens de satélite de todo o território nacional entre 1985 e 2020, descobriu que a superfície coberta por água no Brasil se reduziu em 15,7% desde o início dos anos 90.
Temos pouco tempo para agir. Felizmente, outra parcela da população, ciente desta realidade, trabalha para a restauração florestal e recomposição de APPs (áreas de preservação permanente) e reservas legais. Iniciativas como as agroflorestas, difundidas a partir do pioneiro Ernst Gostch, a agricultura regenerativa, como aplicada pela Renature, e os consórcios iLPF – Integração Lavoura, Pecuária e Florestas, incentivados pela Embrapa, abrem caminhos para a produção responsável de alimentos para a população humana, em equilíbrio com os ciclos naturais do planeta. É chegada a hora de todos tomarem partido neste embate e fazerem suas escolhas. Os hábitos de consumo de cada um são a ponta final de todas as boas ou más práticas no campo.
De que lado você está?
Imagem de destaque: Karen Nadine por Pixabay
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