por Samyra Crespo, especial para a Envolverde –
Desde o lançamento da Encíclica Laudato Si (2015) sabemos que a Igreja Católica Apostólica Romana, com milhões de fiéis espalhados pelo mundo, tomou uma posição institucional, oficial portanto, sobre o problema que aflige a humanidade neste século: a crise ecológica.
Quem estranha a manifestação do Pontífice – mandatário mor da Igreja – e a convocação do Sínodo (que se deu em maio de 2017) marcado para começar domingo e terminar dia 27, precisa entender o significado e o alcance deste encontro.
Primeiro, é preciso ter em conta que a Igreja tem seus próprios mecanismos de criação de consensos internos, de ajuste de sua doutrina, antes que ela se torne pastoral, isto é, transmitida em larga escala a todos os fiéis.
Quando um assunto é controverso, em geral o Think-Tank católico – A Academia de Ciências do Vaticano se debruça sobre assunto. Pode durar anos. São convocados cientistas, especialistas e teólogos.
Quando um tema – como a preocupação com a crise ecológica e as mudanças climáticas – é contemplado numa Encíclica, isto não é um rompante de um Papa caprichoso ou poético. Houve discussão cuidadosa e muito investimento intelectual envolvido. E articulação política.
O Sínodo – palavra que deriva do grego Synodos, significa reunião e em geral é convocado para que a Igreja ( leia seus hierarcas e fiéis) caminhe unida.
Sabe-se contudo que Francisco não é unanimidade em sua própria Casa e também é visto – pela direita conservadora – como “progressista demais”.
A mídia vive alertando sobre campanhas difamatórias contra o Papa.
Há também um pano de fundo que é a disputa das almas entre evangélicos, neopentecostais e católicos.
Do Sínodo participarão os bispos das conferências episcopais latino-americanos. No caso do Brasil a CNBB. E convidados, uma galeria de personalidades e lideranças que atuam nas agendas de combate à pobreza, direitos humanos e meio ambiente.
É uma assembleia especial da Região Pan-Amazônica, sendo assim não sobre o Brasil somente.
Mas sabemos que o Brasil é ponto nevrálgico nessa história e nós ambientalistas depositamos muitas expectativas nesta reunião.
O Governo brasileiro já deu voto de desconfiança ao Sínodo. Talvez considere o Papa um “globalista”. Vê com maus olhos a presença de padres e freiras nos movimentos contestarios da Região.
Na Amazônia brasileira o Governo trava uma batalha ideológica de graves consequências nas três agendas papais: fere o direito dos indígenas, destrói em nome de um projeto de desenvolvimento extemporâneo o maior remanescente de floresta do mundo e nega nossa responsabilidade climática.
São agendas antagônicas. O embate é inevitável.
E a máquina de fake news já está afiada. Fiquemos atentos.
Para nós ambientalistas, o Papa Francisco é uma liderança progressista importante e respeitada. Um aliado estratégico e uma voz profética.
Suas declarações públicas reconhecendo a urgência climática e suas convocações pastorais para que os líderes mundiais atentem para a grave crise ecológica atual não deixa dúvidas.
O Sínodo será palco de uma importante batalha de alinhamentos.
Dele resultará o fortalecimento da esperança de muitos.
Especialmente daquelas populações mais vulneráveis que habitam a Amazônia.
Domingo começa. Outubro promete.
Que vença a consciência amorosa de Francisco e a sua visão de que não podemos mais fazer de conta que a crise climática não existe.
Como cristã que sou, vou orar por ele e por nossa Amazônia tão ameaçada.
Que prevaleça o bom senso.
Samyra Crespo é cientista social, ambientalista e pesquisadora sênior do Museu de Astronomia e Ciências Afins e coordenou durante 20 anos o estudo “O que os Brasileiros pensam do Meio Ambiente”.
(#Envolverde)