por Auri Marçon, diretor executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET – ABIPET –
O 11º Censo da Reciclagem do PET no Brasil trouxe informações importantes sobre o setor, obtidas a partir da consulta realizada junto a 160 empresas, divididas entre recicladoras (22%); aplicadores, que são empresas que adquirem e utilizam o PET reciclado em seus produtos (70%); e integrados, que fazem a reciclagem e também utilizam o material na fabricação de itens que retornam ao mercado (8%).
Os detalhes e os indicadores desse amplo levantamento, referente a 2019, podem ser conferidos com a consulta do press release e do infográfico que seguem anexos a este documento.
Perspectiva para o PET Reciclado em 2020 – Os efeitos da Pandemia
Diante da pandemia de Covid-19, que impactou todos os mercados ao redor do mundo, a Associação Brasileira da Indústria do PET (ABIPET) decidiu complementar as informações já levantadas, com dados referentes aos cinco primeiros meses de 2020.
Para isso, foram consultados os grandes consumidores do PET reciclado, envolvendo aí empresários e principais executivos das empresas. Como o material é utilizado por diversos segmentos de mercado, com diferentes drives de tendência e de reações diante da pandemia, a análise é complexa e pode ser alterada de acordo com uma série de variáveis, explicadas a seguir.
É importante destacar, em primeiro lugar, que o desenvolvimento desse mercado diversificado, fruto de um trabalho de mais de 20 anos da indústria da reciclagem do PET, tem garantido, de alguma forma, a demanda pelo material reciclado. Isso contribui para atenuar, neste momento, o impacto causado pela crise que atinge todos os setores econômicos.
Apenas a título de esclarecimento, os principais mercados que utilizam o PET reciclado, conforme dados do Censo da Reciclagem, são: 1.) indústria de embalagens para líquidos; 2.) embalagens para sólidos; 3.) indústria têxtil; e 4.) indústria química.
Principais usos do PET Reciclado |
Total de PET Reciclado em 2019 = 311 mil tons |
Cada segmento de mercado está tendo uma reação diferente durante esse período de quarentena e apresentamos abaixo uma análise dos principais setores:
- Embalagens para Líquidos: esse é o segmento que nos últimos anos vinha crescendo a passos largos no uso do PET Reciclado, utilizado para a produção de garrafas para refrigerantes, produtos de limpeza, água e itens de beleza.
O mercado de refrigerantes, que sofreu no início do período de isolamento, devido ao fechamento de bares, restaurantes, lanchonetes etc, teve seu portfólio de produtos alterado, pois, a permanência dentro das residências levou os consumidores a comprarem mais refrigerantes tamanho família e, portanto, em embalagens maiores. Isso faz com que se distribua mais líquidos utilizando menos material para fabricação da embalagem, fazendo com que a demanda por PET e PET Reciclado recuasse em patamares superiores a 15% nos meses de abril e maio.
Como estamos nos aproximando do inverno (menor consumo de líquidos), já era esperada uma redução nos níveis de estoque entre março e junho, e uma diminuição na demanda durante essa estação do ano.
Por outro lado, como tivemos um verão 19/20 muito bom para o setor e alguns segmentos como óleo comestível e água apresentaram demanda acima do ano anterior nos primeiros meses de 2020. Contamos, ainda, com o crescimento de produtos de higienização como álcool-gel e desinfetantes durante a crise. Com isso, não devemos notar uma queda acentuada na venda de embalagens para esse mercado. A previsão é que ocorra uma queda anual próxima a 5%.
- Embalagens para Sólidos: aquelas bandejinhas, que no jargão do mercado chamamos de termoformados, são usadas para embalar uma ampla gama de produtos, desde alimentos como frios, ovos, massas, castanhas, doces, até blisters para ferramentas, brinquedos e inúmeras outras utilidades.
No início da crise, detectou-se uma retração no mercado da ordem de 15 a 20%, mas já em maio notou-se um movimento de retomada. Interpretamos essa breve queda como sendo um ajuste do estoque da cadeia produtiva, com receio do impacto da crise, mas o consumo de alimentos dentro do lar passou a movimentar a demanda positivamente, e a expectativa é que a demanda possa ser levemente superior a 2019.
Mercado Têxtil: também nesse setor são inúmeras as aplicações do PET reciclado (fibras para carpete, forrações automotivas, cerdas para escovas, mantas para edredons, travesseiros, não tecidos (TNT), calçados, geotêxtis etc). Talvez tenha sido o setor com maior impacto na crise, onde várias empresas aproveitaram para dar férias aos seus funcionários e também suspenderam o contrato de trabalho. Nesses meses de crise, esse setor chegou a paralisar mais de 40% de suas atividades. A mais forte redução da demanda veio do mercado automotivo, que quase parou suas compras desse setor.
Mercado Químico: esse segmento utiliza o PET reciclado em formulações químicas para a produção de tintas, vernizes, resinas estruturais utilizadas com a fibra de vidro, para a produção de piscinas, peças automotivas para caminhões, ônibus, tratores, banheiras, caixas d’água e vários outros utensílios industriais e domésticos. Esses produtos tiveram suas demandas afetadas de forma diferenciada, mas em média, as estimativas apontam para uma queda anual próxima de 18%.
Existem ainda dois efeitos macroeconômicos que são o câmbio e o preço do petróleo. Agindo sobre as matérias-primas plásticas virgens, criam referencias para o preço de venda do material reciclado, o que gera impasses na escolha de uma ou outra resina nos diversos segmentos.
Considerações / Projeções finais para 2020:
É importante lembrar que as projeções realizadas neste documento podem ser alteradas diante das especulações sobre uma segunda onda de Covid-19 (ou 20) e sobre a possibilidade de lockdown em algumas regiões. Por esta razão, as estimativas deverão ser revistas no início do próximo trimestre.
Mas, no momento, nossas estimativas caminham no sentido de uma redução de volume no uso do PET reciclado da ordem de 7% para 2020. Essa estimativa, diante das variáveis já expostas, será reavaliada no início do próximo trimestre.
Em 2019 o mercado total de PET como um todo faturou R$ 10,1 bilhões. O PET reciclado colaborou com cerca de 36% desse total, ou seja, atingiu um faturamento da ordem de R$ 3,6 bilhões.
Como o dólar se manteve alto por quase todo o 1º semestre, se a demanda se recuperar no segundo semestre, podemos estimar que, em 2020, a reciclagem de PET será afetada no volume, mas, em relação ao faturamento em Reais, o impacto deve ser menor, quando comparado a 2019.
Como a etapa da coleta das garrafas descartadas pela população, também conhecida como Logística Reversa, é uma atividade com muita informalidade, existe o risco de que catadores, cooperativas e outros agentes de coleta precisem ser protegidos pela vulnerabilidade, e isso possa causar um desabastecimento no setor.
Até o momento, isso não está acontecendo, pois como o período crítico de redução na demanda coincide com a quarentena, não temos notado impacto ou ruptura no supply chain. Este cenário, porém, continua sendo monitorado e analisado conforme a mudança nas variáveis apresentadas.
Torcemos por dias melhores para todos.