Ambiente

Pisando suavemente no FOSPA, expandindo consciências e arrebatando corações

Por Patrícia Kalil, especial para Envolverde – 

Sábado de manhã, um respiro da correria do X Fórum Social Pan-Amazônico (FOSPA) para assistir à exibição especial de um recorte pré-lançamento do novo documentário “Pisar Suavemente na Terra”, Com filmagens no Peru, na Colômbia e no Brasil, incluindo as cidades de Santarém, Marabá e Tabatinga, o roteiro é assinado por Bruno Malheiro, geógrafo e professor da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, e Marcos Colón, professor da Universidade Estadual da Flórida e diretor de Beyond Fordlândia (2018). O filme nos leva a uma viagem poética de um dia para diferentes territórios indígenas pressionados e impactados por grandes empreendimentos da mineração, de hidrelétricas, do petróleo e do agronegócio na Amazônia: a Terra Indígena Mãe Maria, no Pará; o impacto no Rio Nanay em Iquitos, no Peru; a TI Munduruku no Lago do Maicá, em Santarém, no Pará; o território Krenak em Minas Gerais. Ao mesmo tempo que a realidade provoca tristeza porque a expansão capitalista provoca miséria por onde passa, as mensagens das lideranças mostram que um outro caminho é mais que possível, é necessário e urgente. 

“A Amazônia, esse lugar que nós estamos reivindicando como um lugar de sonho para a humanidade. No documentário, nós conseguimos fazer uma acusação, a rigor, dessas corporações que estão comendo a Terra. Não tem melhor ilustração. Pisar Suavemente é essa poética que mostra nosso querido irmão em um lugar onde sua paisagem está assolada pela fome e miséria projetada pelo capitalismo. Aquilo ali não é onde não deu certo, aquilo é onde ‘deu certo’ (para o capitalismo). Dá certo onde o capitalismo come a Terra; dá errado quando ele tem que nos encontrar pelo caminho. Encontrar como uma pedra, como diria o poema de Drummond. Então vamos ser uma boa pedra no caminho das corporações, reeducando a nós mesmos, reeducando as pessoas para os valores que são verdadeiros e proporcionam vida para todos nós. Para além de revelar toda essa falsa promessa que o filme consegue descrever de desenvolvimento e progresso, nós precisamos denunciar. Desenvolvimento e progresso não é mais o que o planeta Terra precisa, nós precisamos agora de envolvimento, de nos envolvermos uns com os outros e de nos envolvermos com a paisagem, com os territórios onde nós vivemos”, fala Aylton Krenak.

“Pepe” José Manuyama contou que a gravação do documentário foi uma montanha russa de emoções. Ele luta em Defesa da Água, no Peru, que sofre impactos tanto da atividade petroleira como do garimpo.

“O documentário traduziu a experiência de cada um de nós e comigo há muitos povos. Não me sinto diferente de nenhuma pessoa. Nesse momento do mundo, devemos nos importar com todos. O filme mostra um recorte de tudo que se passa na Amazônia, mas também desse drama mundial. Precisamos despertar nossa consciência humana e amazônica. Não devemos nos confundir com nosso pensamento momentâneo e esquecer que fazemos parte do universo. Somos o resultado de muitas outras vidas que vieram antes de nós. Se somos conscientes disso, não podemos nos sentir tristes, porque somos parte de algo muito grande, muito lindo, que temos que cuidar e proteger. Devemos converter nosso sofrimento em uma flor que nasce no pantano e embelezar toda vida e o mundo inteiro. Vamos buscar uma forma de estarmos todos felizes. Quanto mais as pessoas consomem, mais tristes elas são. Quanto mais dinheiro as pessoas têm, mais drogas necessitam.  Isso não é felicidade. Felicidade é amor, carinho, contemplação. Precisamos de espiritualidade para nutrir nossa luta política”. 

O filme será primeiro exibido em festivais internacionais de cinema e depois entrará em cartaz para o público. 

*Crédito da imagem destacada: O filósofo Aylton Krenak, o geógrafo e roteirista Bruno Malheiro, a cacica do povo Akrãtikatêjê Kátia Silene, o diretor e jornalista Marcos Cólon e a liderança espiritual indígena do povo Kukama do Peru José Manuyama, conhecido como Pepe.

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