por André Viana, Diretor Técnico do Idesam –
O contexto geopolítico global está em transformação, com disputas comerciais, descarbonização da economia e maior escrutínio sobre cadeias produtivas. Se o Brasil não se posicionar adequadamente, poderá ficar à margem das novas dinâmicas econômicas e perder investimentos essenciais para a transição da Amazônia para uma economia de menor impacto ambiental e inclusiva.
Historicamente, o desmatamento na região esteve atrelado à expansão de pastagens de baixa produtividade e à pressão do mercado de commodities. Em momentos anteriores, ações coordenadas entre governo, setor privado e sociedade civil conseguiram frear a tendência de crescimento do desmatamento e, até mesmo, reduzi-lo. Entretanto, a dinâmica atual é mais complexa, com a inserção de novos atores e desafios.
Não podemos deixar de mencionar o crime organizado, que tem sido um desses atores do desmatamento e vem expandindo sua influência sobre garimpos ilegais, ocupações clandestinas e extração ilegal de madeira. Essa atividade criminosa não apenas acelera a degradação ambiental, mas também agrava as condições sociais das populações tradicionais, aumentando a violência e a vulnerabilidade de comunidades ribeirinhas e indígenas.
Ainda, a maior frequência de efeitos climáticos extremos tem sido vivenciada pelas pessoas que residem na Amazônia ao sentirem impactos ambientais, sociais e econômicos. Dois anos seguidos do fenômeno El Niño, que resultou em recordes negativos nos níveis das calhas dos rios e impactou a qualidade de vida das populações ribeirinhas, ainda, elevou o tempo de transportes e custos de produtos para a população em geral.
Em 2024, o evento climático estava acompanhado de um padrão de desmatamento e queimadas diferente dos anos anteriores, o que demanda atenção, pois apesar da redução significativa no desmatamento, foi registrado aumento no número de focos de incêndios.
As ações de comando e controle se mostraram eficientes no curto prazo. Contudo, sem uma mudança na matriz econômica de forma que esta seja pautada por atividades sustentáveis, tais esforços de comando e controle permanecem sujeitos a oscilações econômicas e políticas.
Ao olharmos as janelas de oportunidades, o Brasil foi eficiente ao incluir a pauta da Bioeconomia durante sua presidência no G20. Em muitos países ainda não há uma visão de conservação ambiental, e principalmente da Amazônia, em função de atividades produtivas, que é a principal estratégia de longo prazo. Sediar a COP 30 nos dará uma nova oportunidade para reforçarmos essa estratégia.
É fundamental, portanto, considerar e aproveitar as oportunidades que surgem a partir da Bioeconomia – mesmo na ausência de atores-chave como os EUA. No entanto, para capitalizá-los plenamente, é necessária uma preparação estratégica e um esforço coordenado entre governos e sociedade. O trabalho já iniciado exige agora uma abordagem renovada, que seja capaz de se adaptar aos novos desafios e potencializar seus efeitos.
André Vianna – Diretor Técnico do Idesam é engenheiro Florestal ESALQ/USP e mestre em Ciências de Floretas Tropicais pelo INPA.