Com o fim da COP29, em novembro, termina uma espécie de calendário que a grande imprensa segue para tratar da questão climática. Se não houver outro evento extremo até o fim do ano (chuvas, secas, queimadas etc.), as notícias ambientais voltam para um espaço reduzido no noticiário.
A imprensa especializada continua atenta. Dela, sabemos que a Amazônia e seus povos continuam ameaçados; que a política e a economia seguem definindo o destino do ambiente; e que as pessoas marginalizadas são as mais afetadas; e que a união entre empresas, ciência e sociedade civil aumenta nossas chances na luta contra as mudanças climáticas.
Já nas redes sociais, a ordem da informação é outra. Por elas, fico sabendo que Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, ganhou o Prêmio Campeões da Terra. Ela é uma das seis pessoas do planeta que a ONU reconhece como defensora do planeta.
Achei que o assunto teria potencial para romper a bolha dos interessados na pauta ambiental. Afinal, é uma brasileira, empoderada e reconhecida pela sociedade. Mas a lógica no debate digital é outra, e os usuários das redes elegeram outra mulher para ser tema de debate: a que não cedeu sua cadeira para uma criança em um avião.
Algoritmos, views e cliques embarcam no interesse autêntico das pessoas e empurram conteúdo relacionado, tela abaixo dos usuários de redes. A viralização digital do tema convence a grande imprensa a tratar do caso. As mulheres envolvidas se tornam vítima e heroína, esta última com mais de um milhão de seguidores adquiridos em dias.
É um verdadeiro case de comunicação. Além da proximidade do incidente com a vida cotidiana ser muito grande, a vontade de se posicionar no debate online é movida por emoções. Greta Thunberg conseguiu efeito semelhante anos atrás, tornando a pauta climática um debate moral. O desafio do jornalismo ambiental é tornar uma campeã do planeta uma campeã de interesse.
- Rafael Moro Marins. Recordes de incêndio na Amazônia são obra de grileiros e pecuaristas, mas poucos são presos. Sumaúma (2024). Disponível em: https://sumauma.com/recordes-de-incendio-na-amazonia-sao-obra-de-grileiros-e-pecuaristas-mas-poucos-sao-presos/
- Débora Pinto. Supressão de área verde para construção de complexo viário gera conflito entre prefeitura e sociedade civil em São Paulo. O Eco (2024).. Disponível em: https://oeco.org.br/reportagens/supressao-de-area-verde-para-construcao-de-complexo-viario-gera-conflito-entre-prefeitura-e-sociedade-civil-em-sao-paulo/
- Cristiane Prizibisczki. Mato Grosso aprova norma que limita criação de unidades de conservação no estado. O Eco (2024).. Disponível em: https://oeco.org.br/noticias/mato-grosso-aprova-norma-que-limita-criacao-de-unidades-de-conservacao-no-estado/
- Gabriel Gama. Escolas negras são maioria em áreas de risco nas capitais. Agência Pública (2024) . Disponível em: https://apublica.org/2024/12/escolas-negras-sao-maioria-em-areas-de-risco-nas-capitais/
- Sérgio Rocha. Queimadas e desperdício de alimentos reforçam urgência de tecnologia para práticas agrícolas sustentáveis. Envolverde (2024). Disponível em: https://envolverde.com.br/governanca/queimadas-e-desperdicio-de-alimentos-reforcam-urgencia-de-tecnologia-para-praticas-agricolas-sustentaveis/
- Fabíola Sinimbú. Ministra Sonia Guajajara recebe da ONU o Prêmio Campeões da Terra. Terra (2024). Disponível em: https://www.terra.com.br/nos/ministra-sonia-guajajara-recebe-da-onu-o-premio-campeoes-da-terra,ca087bd74389aa420d902e22fb3211a2a793j04t.html