Foz do Iguaçu recebeu, de 15 a 17 de setembro, o Encontro de Experiências Pioneiras e Inovadoras de Iniciativas Sociais na Gestão da Água – Criando uma Rede Global.
Por Elisa Homem de Mello, da Envolverde –
Frente à crise que assola o Planeta, e num momento onde todos parecem ter despertado para a necessidade da preservação hídrica, Victor Viñual, da ECODES (Economía y Desarollo) Espanha, disse que “conhecer as dificuldades dos sistemas hídricos ajudam a fortalecer as boas práticas”.
Na visão do diretor presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu Guillo, o que vemos ainda é uma falta da consciência de economia da água, principalmente nos Estados onde a cultura da abundância hídrica ainda é impregnada na população, e o padrão de consumo ultrapassa 250 litros/habitantes/dia. Há pouco mais de 10 anos, um habitante da Região Metropolitana de São Paulo/SP, por exemplo, gastava em média 150 litros de água/dia, 65 litros a mais do que o recomendado pela ONU (Organização das Nações Unidas). A média de consumo de água no Brasil é de 300 litros/habitante/dia, 50 litros acima do padrão da ONU. “Mesmo no semiárido brasileiro, a primeira coisa que a chuva leva é a memória da seca”, afirmou,ao mesmo tempo em que assumiu a responsabilidade acerca do tema junto à Constituição e o apoio à criação da Rede Global.
A Itaipu Binacional, por meio do Programa Cultivando Água Boa, junto com a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), vai apoiar a implantação desta rede internacional de boas práticas da gestão dos recursos hídricos com participação social.
Os números da crise
Em termos globais, o Relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),apresentado durante o evento, mostra que há no mundo água suficiente para suprir as necessidades de crescimento do consumo, “mas não sem uma mudança dramática no uso, gerenciamento e compartilhamento”. De acordo com o documento, a crise global hídrica é de governança, muito mais do que de disponibilidade do recurso, e um padrão de consumo mundial sustentável ainda está distante.
Para Blanca Jiménez-Cisneros, diretora da divisão de Ciências da Água da UNESCO, 85% da população mundial vive em regiões consideradas áridas ou semiáridas e, portanto, a ciência deve estar à disposição para melhorar o conhecimento sobre tais regiões, bem como os desafios enfrentados frente às mudanças de clima, além de ajudar na tomada de decisões e no desenvolvimento da capacidade humana.
De acordo com a organização, nas últimas décadas o consumo de água cresceu duas vezes mais do que a população e a estimativa é que a demanda cresça ainda 55% até 2050. Mantendo os atuais padrões de consumo, em 2030 o mundo enfrentará um déficit no abastecimento de água de 40%. Os dados estão no Relatório Mundial das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento de Recursos Hídricos 2015 – Água para um Mundo Sustentável.
Em 2003, durante o III Fórum Mundial da Água, realizado em Kyoto, no Japão, o então presidente da ANA, Jerson Kelman, recebeu o PRÊMIO MUNDIAL DA ÁGUA. Este é o maior prêmio internacional do setor e deveu-se aos significativos avanços realizados pelo Brasil nos últimos anos na gestão das águas, inclusive com a criação da própria ANA. Naquela época, os dados mundiais divulgados, chamados NUMEROS DA CRISE, apontavam que 70% das internações hospitalares no Brasil se davam por doenças de veiculação hídrica e que 12 mil km3 de água poluída fluíam pelos rios do Mundo.
Números da crise no Brasil
- 3,11% dos óbitos infantis em 2007 estavam relacionados à falta de saneamento (DATASUS);
- 9,35% das internações na região Norte em 2009 foram relacionadas à falta de saneamento (DATASUS);
- 277 pessoas morreram no país por infecções gastrointestinais em 2009 (Trata Brasil).
Fonte: Estudo elaborado e desenvolvido em conjunto pela LCA e entidades do setor ABCE, ABCON, ABDIB, ABRELPE, AESBE, ASFAMAS, SELURB, SINAENCO e SINDESAM.
Em 2018, será a vez do Brasil sediar o XVIII Fórum Mundial da Água. Espera-se que até lá, algumas das metas do milênio tenham sido atingidas, em termos de Brasil e mundo. Dentre alguns dos bons exemplos de boas práticas está o Programa Cultivando Água Boa (CAB), vencedor do Prêmio ONU-Água às Melhores Práticas “Água, fonte de vida”, 5ª Edição – Água e desenvolvimento sustentável, Categoria 1.
Itaipu Binacional e CAB: um movimento pela sustentabilidade
A maior hidrelétrica do mundo em geração de energia é também a promotora do mais abrangente programa de cuidado com as águas em desenvolvimento no setor elétrico brasileiro. O Cultivando Água Boa é uma ampla iniciativa socioambiental concebida a partir da mudança na missão institucional da Itaipu Binacional, promovida em 2003.
O CAB, como é conhecido, parte do reconhecimento da água como recurso universal e, portanto, um bem pertencente a todos. Trata-se de uma estratégia local para o enfrentamento de uma das mais graves crises com as quais a humanidade já se defrontou: as mudanças climáticas, que põem em risco a sobrevivência humana e estão diretamente relacionadas com a água e seus usos múltiplos (a produção de alimentos e de energia, o abastecimento público, o lazer e o turismo).
Para prevenir essas alterações no clima, o programa estabelece uma verdadeira rede de proteção dos recursos da Bacia Hidrográfica do Paraná 3 (BP3), localizada no oeste do Paraná, na confluência dos rios Paraná e Iguaçu. A região tem cerca de um milhão de habitantes em 800 mil hectares.
Atualmente, são desenvolvidos 20 programas e 65 ações fundamentadas nos principais documentos planetários, emanados dos mais importantes fóruns de debates a respeito da problemática socioambiental. As ações vão desde a recuperação de micro bacias e a proteção das matas ciliares e da biodiversidade, até a disseminação de valores e saberes que contribuem para a formação de cidadãos dentro da concepção da ética do cuidado e do respeito com o meio ambiente.
Mais do que um projeto ambiental, o CAB é um movimento de participação permanente, que envolve a atuação de aproximadamente 2 mil parceiros, dentre órgãos governamentais, ONGs, instituições de ensino, cooperativas, associações comunitárias e empresas.
Em 2005, o reconhecimento mundial do Cultivando Água Boa foi comprovado com a conquista do prêmio Carta da Terra (Earth Charter + 5), entregue em Amsterdã, Holanda. De lá pra cá, o programa tem se firmado como um exemplo a ser seguido no que se refere ao desenvolvimento sustentável e à gestão participativa em projetos socioambientais, tendo avançado em aproximadamente 30% dos800 mil hectares e contando com 260 microbacias hidrográficas em recuperação. Uma iniciativa que prova que é possível compatibilizar desenvolvimento econômico com produção de energia e preservação do meio ambiente.
Conheça aqui a fundo o CAB, um movimento pela sustentabilidade. (Envolverde)