Anualmente, estima-se que 640 mil toneladas de equipamentos de pesca são largadas nos oceanos, afetando mais de 25 milhões de animais marinhos no Brasil. Espécies como baleias, tartarugas marinhas, toninhas (um dos golfinhos mais ameaçados do Atlântico Sul) e até pinguins são atingidos. Segundo a World Animal Protection, 45% dos mamíferos marinhos na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas já foram atingidos pela pesca fantasma. As redes perdidas ou abandonadas fragmentam-se em microplásticos que contaminam o ecossistema.
Esse problema não só fere e mata os animais, como também transforma o oceano em uma verdadeira armadilha. Redes de pesca, que podem levar até 600 anos para se degradar, continuam a capturar indefinidamente, afetando também a biodiversidade costeira e prejudicando os oceanos. “Combater a pesca fantasma é uma prioridade se quisermos salvar nossos mares e a vida marinha. O fenômeno só tende a expandir, caso ações não sejam tomadas”, explica Samara Oliveira, oceanógrafa e gestora comercial e de marketing da Marulho.
Como parte dos esforços para combater esse problema, a Marulho é um negócio dedicado à transformação de redes de pesca abandonadas em produtos como bolsas, mochilas, sacolas e fruteiras. Além de beneficiar o ecossistema, utilizando materiais que antes serviam apenas para poluir os mares, a organização auxilia famílias litorâneas na geração de renda. “São momentos como este que mostram que, realmente, podemos fazer do limão uma limonada. Com esforço e inovação, é possível reverter um cenário preocupante em uma oportunidade de ajuda coletiva”, ressalta Oliveira.
Perigos da prática
O Brasil é um país com mais de 7 mil quilômetros de litoral, onde diariamente são introduzidos cerca de 580 kg de redes nas águas. Considerando que uma parcela desagradável de redes permanece no mar mesmo depois da atividade de pesca, isso coloca em perigo a saúde dos ecossistemas oceânicos em longo prazo. As ações da Marulho são um exemplo concreto de como é possível reverter essa situação.
“Acreditamos que a conscientização e a cooperação são fundamentais para enfrentar esse desafio e proteger a vida marinha. Por mais que essa responsabilidade seja, muitas vezes, atrelada a órgãos oficiais, organizações de todos os segmentos e até mesmo pessoas físicas podem ser agentes da transformação”, destaca a gestora.