A primeira foto realizada na superfície da Lua mostrou em detalhes um saco de lixo; desde então, 96 sacos contendo diversos tipos resíduos e excrementos foram deixados pelos astronautas durante as missões Apollo e ainda estão na Lua. Os cientistas agora estão interessados nesses detritos para estudar as condições de sobrevivência das bactérias no espaço.
Às 20h17 (UTC) do dia 20 de Julho de 1969, Neil Armstrong estava pronto para deixar o “Eagle”, como foi batizado o módulo lunar e dar o histórico primeiro passo de um ser humano na superfície da Lua. Naquele momento, segundo o diário registrado pela NASA com as gravações dos diálogos da missão, Armstrong ouviu a voz do seu companheiro Edwin “Buzz” Aldrin avisando que ia lhe passar uma sacola cheia de lixo.
Armstrong balançou a sacola e a jogou pra fora. Só então começou a descer pela escada e clicou a sua primeira foto da superfície lunar: um saco de lixo iluminado pela luz do módulo numa paisagem extraordinária.
Em Agosto de 2007, a NASA divulgou o diário “Apollo Lunar Surface Journal” *(1) no qual se mostra a primeira foto captada por Armstrong após pisar o solo lunar no Mar da Tranquilidade. Nela se vê um saco de resíduos (jettison bag ou jett bag) que o comandante da Apollo 11 acabava de jogar ao chão.
O site “Working on the Moon” *(2), informa em detalhe como retiraram a sacola do módulo Eagle: “O Comandante estava na porta do módulo; uma vez aberta a escotilha, Aldrin empurrou a sacola com o pé ainda dentro do “Eagle”. Neil Armstrong pegou a sacola e a lançou pra fora, ao lado da escada do módulo”.
A bolsa continha 30 kg com excrementos e outros resíduos de pequeno tamanho que foram acumulados durante a viagem de ida até a Lua. Segundo o inventário “Lunar Legacy Project” esse foi um dos 191 objetos abandonados pela tripulação da histórica missão Apolo 11.
Os 12 astronautas de outras missões Apollo deixaram mais 95 sacolas com rejeitos fisiológicos, fezes, vômitos e urina. São mais de 180 toneladas de materiais e objetos de todo tipo, desde peças dos módulos espaciais a uma pena de falcão. Entre os rejeitos se encontram sacolas com baterias, pentes, câmeras, lentes, filtros de oxigênio, bandeiras, bolas de golfe, controles remotos, um dardo, casacos, botas, toalhas, cestas, medalhas, fotografias, martelos, entre outros objetos listados *(3). Mas, também deixaram aparelhos espaciais que funcionam até hoje como, por exemplo, um refletor de raio laser com 100 espelhos que permite medir a distância entre a Terra e a Lua.
A razão pela qual os astronautas deixaram todos esses objetos na Lua, segundo a NASA, foi para trazer rochas e outros materiais que seriam analisados na Terra; para isso tinham que se desfazer do peso morto com o objetivo de poupar combustível. Objetos como martelo e a pena de falcão, estão na Lua porque o Comandante da Apolo 15, David Scott, em 1971, queria comprovar a Teoria da Gravidade de Galileu, demostrando que na ausência de ar, ao deixar cair os dois objetos, sem considerar a sua diferença de massa, cairiam na mesma velocidade. A Lei, conhecida como Teoria Mecânica do Cosmo foi revista por Isaac Newton e Albert Einstein.
Durante as 76 horas que levaram para percorrer os 386.242 km que separam a Lua da Terra, Armstrong e seus colegas, Buzz Aldrin e Michael Collins, viajaram numa cabine extremamente reduzida sem banheiro nem ventilação. O cheiro e o ar pesado provocaram neles ânsia de vômitos e um incômodo que atingiu o limite da capacidade humana. Por isso Buzz Aldrin quis se livrar do saco de lixo o mais rapidamente possível. Em seus trajes espaciais, os astronautas têm camadas absorventes para se aliviarem. Mas ao viajar, eles têm sacos especiais de plástico transparente que aderem às nádegas e permitem fazer suas necessidades na ausência de peso.
Os sacos de fezes são empilhados numa “sacola descartável” de lixo de 1 metro por 70 cm contendo todos os resíduos acumulados durante a missão. Esses vestígios despertam o interesse dos cientistas. Mesmo 50 anos depois, se perguntam: haverá bactérias vivas nos excrementos? Em teoria, a radiação solar na superfície deveria ter eliminado todo vestígio de vida.
“Eu ficaria extremamente surpreso se alguma coisa tivesse sobrevivido”, confirma o astronauta Charlie Duke, o décimo homem a caminhar na Lua. Andrew Schuerger, pesquisador da Universidade da Flórida, publicou em 2019 um estudo sobre a probabilidade de sobrevivência dos micróbios na Lua, simulando as condições de radiação, de vácuo e de temperatura no qual os ionizados restos humanos foram expostos.
“É improvável que a superfície externa, fora da espaçonave, ainda contenha esporos viáveis após um único dia lunar”, diz o autor em sua conclusão. As bactérias fecais, no entanto, poderiam estar mais preservadas em seus sacos de lixo à prova de vazamentos. No caso de que as altas temperaturas logrem evaporar toda a umidade, certamente os micróbios estariam mortos. A NASA pensa seriamente numa missão encarregada de coletar essas amostras para analisá-las na Terra.
Os astronautas norte-americanos não foram os únicos a poluir o espaço. Durante seus 15 anos de serviço entre Julho de 1986 e Março de 2001, a estação espacial soviética MIR rejeitou centenas de sacos contendo resíduos. “O ônibus espacial que a partir de 1995 levou os astronautas estadunidenses para a estação, várias vezes teve que realizar manobras evasivas na esteira da MIR”, dizem os pesquisadores Jean-Pierre Edin e Jacky Bonnemain. A Lua não é o único lugar a ter rejeitos: centenas de sacos foram lançados ao espaço por outros astronautas. Embora a maioria seja destruída ao descer para a atmosfera, muitos rejeitos ainda estão circulando em torno da Terra, como parte do chamado “lixo espacial”. Esses rejeitos interessam aos cientistas para conhecer as condições de sobrevivência dos micróbios em condições extremas. (ECO21/#Envolverde)