“Agrotóxico mata”, o mote da Campanha Permanente contra Agrotóxicos e Pela Vida, é mais do que uma frase de impacto. Há diversas pesquisas nacionais e internacionais que abordam os malefícios para a saúde do consumo de produtos cultivados com agrotóxicos.
Segundo dado da Organização Mundial da Saúde (OMS), citado pelo pesquisador Leonardo Melgarejo, membro da Associação Brasileira de Agroecologia e coordenador da Campanha, apenas um de cada 50 casos de intoxicação por agrotóxico é notificado. Estima-se que cerca de 300 mil casos permaneçam ocultos. O assunto foi debatido nesta sexta-feira (5), durante a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, na capital paulista, no seminário “Agrotóxicos e Transgênicos: impactos sobre o alimentação, saúde e meio ambiente”.
Os casos notificados geralmente são decorrentes da intoxicação aguda, que rapidamente se agrava e pode levar ao óbito. A região Nordeste, por exemplo, foi cenário de 41,8% das mortes desse tipo. Porém, Melgarejo alerta que esses casos não são maioria. “A maior parte dos problemas com agrotóxicos são a longo prazo, vão aparecer em uma semana, um ano, dez anos e esses números não estão sendo identificados ou monitorados”, afirma.
Para a professora da Universidade Federal do Cariri, médica e pesquisadora do projeto interdisciplinar Trabalho, Meio Ambiente e Saúde (Tramas) Ada Cristina, os fetos e as crianças são os mais vulneráveis às ações nocivas dos agrotóxicos.
Segundo ela, os embriões quando estão nos primeiros trimestres de formação, passam por suscetíveis mudanças morfológicas que podem alterar a forma do feto e trazer disfunções no metabolismo. “Os agrotóxicos são substâncias que atuam no organismos das pessoas, simulam outros produtos que existem no corpo humano só que provocam consequência desastrosas”, diz ao citar o caso de uma criança que nasceu na comunidade sem os membros inferiores e posteriores.
Segundo dados da Anvisa de 2012, cada brasileiro consome cerca de cinco litros de agrotóxicos por ano.
Uma relação perigosa
A correlação entre commodities agrícolas geneticamente modificadas e agrotóxicos já foi explorada por diversos estudos de entidades internacionais e nacionais, a exemplo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
Notícia recente divulgada pela consultoria Céleres, afirmou que o plantio de transgênicos de soja, milho e algodão avança para 93,4% do total do Brasil. Melgarejo afirma que a alteração genética das plantas causa rebatimentos, consequências pouco estudadas. “Esses rebatimentos implicam em alteração na própria qualidade da planta. Por exemplo, a soja hoje temos menos proteína do que tinha há 30 anos quando era a soja não transgênica”. Ou seja, há menos benefícios e mais veneno.
Retrocessos
Nivea Regina da Silva, da direção do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ressalta o contexto de retrocesso trazido pelo governo golpista de Michel Temer no caso do agrotóxicos. “Há uma flexibilização do ponto de vista do monitoramento, da legislação e uma abertura para o maior impacto dos agrotóxicos na saúde humana como a questão do câncer por exemplo”.
Pautar a reforma agrária nesse contexto diz respeito também a prezar pela saúde do trabalhador do campo, também exposto à ação dos produtos nocivos. Para Neiva, é preciso “repensar uma outra forma de apropriação social ecológica e desta natureza e desta terra”
“A gente quer uma alimentação limpa não só de não ter veneno, mas no sentido de alcançar uma justiça ambiental também”
Regulamentação
A CNTBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) é uma estrutura subordinada à Diretoria Técnica, nomeada pela Presidência da República. É o órgão que decide sobre a liberação comercial do transgênicos e dos agrotóxicos no país. No entanto, os movimentos populares denunciam a falta de comprometimento com a pauta e a forte pressão que os membros sofrem de setores do agronegócio. Em 2016, a comissão fez 25 deliberações, ou seja, analisou um projeto a cada 2 minutos e meio. A maioria dos pedidos das empresas foi aprovado.
Edição: Anelize Moreira