Recém lançada pelo Programa Papagaios do Brasil, proposta busca arrecadar recursos para construir ninhos artificiais que supram a falta de cavidades naturais utilizadas para reprodução das espécies. Cenário é resultado do avanço do desmatamento no Brasil
Já pensou em, neste Natal, ao invés de presentear familiares, amigos e funcionários de forma convencional, com brindes e produtos que, em pouco tempo, podem acabar descartados, direcionar a sua lembrança para contribuir com a conservação de papagaios brasileiros?
Essa é a proposta da campanha “Adote Um Ninho”, lançada pelo programa Papagaios do Brasil, e que convida pessoas físicas e jurídicas a contribuir financeiramente para a instalação, manutenção e monitoramento de ninhos de papagaios de quatro espécies brasileiras: papagaio-de-cara-roxa, papagaio-de-peito-roxo, papagaio-verdadeiro e papagaio-charão. Ela vai até março de 2022.
Para Elenise Sipinski, responsável técnica pelo programa, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) e coordenadora do projeto de conservação do papagaio-de-cara-roxa, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), a oportunidade de escolher ofertar recursos para a campanha ao invés de gastar com a compra de bens materiais representa a chance de a sociedade repensar prioridades. “Já é de conhecimento público que seguir o ritmo de produção e consumo que estamos vivendo é insustentável. A pandemia também reforçou o que nos é essencial e prioritário. Encerrar um ano tão desafiador como este, auxiliando espécies que precisam tanto do nosso olhar, é uma tremenda oportunidade que temos de reconhecer o valor do bem comum”, aponta.
Ninhos artificiais suprem falta de cavidades naturais
A campanha acontece durante o período reprodutivo dessas aves, que ocorre de agosto a fevereiro. Essa é a época em que as espécies demandam maior atenção dos projetos de conservação. “As espécies são monitoradas por especialistas há mais de duas décadas. Com muita pesquisa e conhecimento local, observamos que o desmatamento era uma das principais razões para a ausência de ocos adequados para a reprodução dos papagaios” relata Elenise. “Com isso, incentivamos a criação de Unidades de Conservação nas áreas de distribuição dos papagaios e também instalamos os ninhos artificiais para suprir a falta de cavidades naturais”, explica.
Os ninhos artificiais instalados em áreas ocupadas pelos papagaios auxiliam a suprir a carência de ninhos naturais, contribuindo com a manutenção e o aumento populacional das espécies. Essa tecnologia já é implementada há mais de uma década e tem se mostrado muito efetiva, estimulando o nascimento de centenas de filhotes de papagaios já registrados. Este é o primeiro ano que o Programa Papagaios do Brasil trabalha com uma campanha que vai possibilitar que pessoas de todos os lugares do mundo contribuam por meio da adoção dos ninhos.
Presente às atuais e futuras gerações
A primeira etapa para a adoção dos ninhos consiste em escolher para qual espécie de papagaio ou projeto de conservação a contribuição será destinada. Na sequência, são oferecidas informações sobre os biomas de ocorrência, quantidade de ninhos artificiais já instalados e outras curiosidades para que o adotante tenha certeza de sua escolha. Depois, são sugeridos valores de doação e também oferecidos benefícios que vão da categoria de amiga/amigo dos papagaios à madrinha/padrinho.
Com a doação efetivada, os projetos destinam os recursos arrecadados à produção de novos ninhos artificiais, para contratação de mão-de-obra-local para instalação, custeio das ações de monitoramento dos ninhos naturais e artificiais, continuidade das ações de pesquisa com as espécies e outras atividades que incluem a comunicação e a educação para a conservação dos papagaios em vida livre.
“Nós acreditamos muito no potencial de mobilização desta campanha. Os papagaios são espécies carismáticas e muito conhecidas pela população brasileira”, relata Nêmora Prestes, coordenadora do Programa Nacional de Conservação do Papagaio-de-peito-roxo e também integrante da RECN. “Cada vez mais a sociedade tem entendido seu papel cidadão na conservação da biodiversidade. Adotar um ninho precisa ser visto como uma ação que garante futuro, um presente à nossa e às futuras gerações” finaliza.
As adoção dos ninhos pode ser feita pelo site: http://papagaiosdobrasil.com.br/adote-um-ninho/
Programa Papagaios do Brasil
O Programa Papagaios do Brasil foi lançado em 2017 para a conservação de seis espécies de papagaios com diferentes graus de ameaça: papagaio-verdadeiro; papagaio-charão, papagaio-de-peito-roxo, papagaio-de-cara-roxa, papagaio-chauá e papagaio-moleiro, todas espécies contempladas pelo Plano de Ação Nacional (PAN) para a Conservação dos Papagaios e que sofrem com diferentes ameaças, como o tráfico e a redução de seus habitats naturais.
O Programa Papagaios do Brasil conta com a execução da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), e participação da Associação Amigos da Natureza, do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE) do Instituto Chico Mendes de Conservação à Biodiversidade (ICMBio), da Fundação Neotrópica, do Parque das Aves e da Fundação Grupo Boticário de Proteção da Natureza.
Sobre a SPVS
A SPVS desenvolve projetos inovadores na área da conservação da natureza, que visam permitir a expansão e replicabilidade de ações direcionadas à manutenção do patrimônio natural.
Com 37 anos de atuação em diferentes biomas brasileiros, a SPVS sempre em ações conjuntas com empresas, instituições públicas e do terceiro setor, visam influenciar políticas públicas. Suas ações buscam demonstrar o quanto a qualidade de vida, as atividades econômicas e o desenvolvimento são dependentes da existência de áreas naturais bem conservadas e da garantia da conservação da biodiversidade.
Por sua capacidade de inovação e criatividade, unida ao conhecimento científico e noção de prioridade, os projetos da SPVS têm correspondência com temas atuais e estão diretamente relacionados com assuntos que comprometem as atividades produtivas, a vida das pessoas e a sustentabilidade dos negócios.
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