ODS 15

Cerrado já teve perto de 11 mil focos de queimadas em 2024, sendo mais da metade no Matopiba

Desde o início de 2024, o Cerrado já teve 10.647 focos de queimadas, um aumento de 31% em comparação ao mesmo período no ano passado, quando foram registrados 8.157 focos entre 1 de janeiro e 17 de junho

Cerrado já teve perto de 11 mil focos de queimadas em 2024, sendo mais da metade no Matopiba

Desde o início de 2024, o Cerrado já teve 10.647 focos de queimadas, um aumento de 31% em comparação ao mesmo período no ano passado, quando foram registrados 8.157 focos entre 1 de janeiro e 17 de junho. Nesse período, 52,3% das queimadas detectadas no bioma ocorreram nos quatro estados do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), onde se situa atualmente a principal fronteira de expansão agrícola do país.

A situação é especialmente crítica no Tocantins, atingido por 2.707 focos de queimadas desde o início do ano no bioma, um aumento de 48% em comparação ao mesmo período em 2023, quando foram registrados 1.823 focos.

Todos os estados do Matopiba tiveram aumento do número de focos de incêndios no Cerrado em comparação às médias do mesmo período nos quatro anos anteriores: +47% no Maranhão (1.615 focos), +57% no Tocantins (2.707 focos), +43% no Piauí (483 focos) e +16% na Bahia (771 focos).

De acordo com Bianca Nakamato, especialista de Conservação do WWF-Brasil, as queimadas no Matopiba estão associadas ao processo de desmatamento para a expansão agrícola, que tem cada vez mais expulsado os povos tradicionais de seus territórios e lares. A especialista explica que o fogo funciona como uma etapa de limpeza da área que foi anteriormente desmatada, a fim de preparar o solo para a futura plantação, geralmente pasto de braquiária ou soja.

Nakamoto alerta que essa dinâmica de desmatamento e queimadas emite CO2 para a atmosfera, aumentando o aquecimento do planeta, além de causar perda de habitat, morte de animais e afetar a qualidade do solo, a produção das águas e até mesmo o ciclo de chuvas que depende do bioma amazônico, mas também do Cerrado. O impacto é ambiental e social, pois as pessoas locais são afetadas não só pela pressão na disputa de terras, mas também pela ameaça ao seu direito de ter um ambiente saudável e equilibrado.

“Essas violações ambientais e de direitos humanos seriam coibidas se houvesse um sistema de proteção e rastreabilidade eficaz nessas áreas do Matopiba. Já existem ferramentas capazes de monitorar a origem de produtos de áreas desmatadas, no entanto, é preciso aperfeiçoar os controles de rastreabilidade e monitoramento de forma a atender as demandas dos mercados internos e externos”, afirmou.

Segundo ela, é indispensável um compromisso claro do setor agrícola. “Este é um momento crucial para separar o joio do trigo e posicionar o Brasil numa agenda de compromisso ambiental, implementando ações efetivas de controle de seus produtos – o que certamente beneficiará a balança comercial do nosso país.”

Embora os estados do Matopiba tenham liderado o desmatamento e sofram expressivamente com as queimadas, as poucas ferramentas de controle têm sido questionadas, colocando em risco a já incipiente proteção do Cerrado, de acordo com Daniel Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

“É preciso fortalecer as ferramentas que garantam o Cerrado em pé. Sem proteção, quem perde são todos os brasileiros. Os mais diretamente atingidos são os povos tradicionais do bioma e os agricultores que precisam de ciclos de chuva, mas também há graves impactos para os grandes centros urbanos que se beneficiam com os serviços dos ecossistemas protegidos, como a regularidade da chuva que enche os grandes reservatórios urbanos”, declarou.

Envolverde