por Gilberto Natalini –
As temperaturas elevadas registradas recentemente em diversas regiões do país ilustram a gravidade da situação: no Rio de Janeiro, os termômetros atingiram 44°C; no Rio Grande do Sul, marcas similares foram observadas; e na cidade de São Paulo, as temperaturas chegaram a 40°C. As ondas de calor são fenômenos atmosféricos caracterizados por períodos prolongados de temperaturas anormalmente elevadas, podendo provocar graves consequências para a saúde humana, especialmente entre populações vulneráveis, como idosos e crianças.
A exposição contínua da população ao calor extremo pode causar desidratação, insolação, agravamento de doenças cardiovasculares e respiratórias, além de aumento na taxa de mortalidade relacionada ao clima. É importante lembrarmos que o impacto das temperaturas extremas também se estende ao setor público. Servidores enfrentam dificuldades tanto em seus locais de trabalho quanto em deslocamentos e residências, muitas vezes sem infraestrutura adequada para mitigar os efeitos do calor.
Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC de 2022, um aquecimento de 1,5ºC exporia cerca de 350 milhões de pessoas no mundo à escassez de água devido a secas severas. Se o aquecimento chegasse a 2ºC, esse número subiria para 420 milhões. Em um cenário mais extremo, de 3ºC a 4ºC, países como Itália, Espanha e Grécia passariam a ter clima desértico. Com aquecimento de 5ºC a 6ºC, a frequência e a intensidade de furacões aumentariam em 37%, e a cobertura de gelo se reduziria em 75%. A comunidade científica tem alertado há décadas sobre esses impactos, mas a resposta global ainda é insuficiente. O cenário é preocupante.
Considerando tais cenários, é necessária a adoção de medidas individuais para se proteger das ondas de calor, como a hidratação frequente, a redução da exposição ao sol em horários de pico, o uso de vestimentas leves e ambientes climatizados sempre que possível. Já com a queda de temperaturas, também é preciso lembrar de manter o organismo hidratado, sendo que adultos precisam ingerir cerca de 2 litros de água por dia; além de evitar banhos muito quentes, manter o uso de protetor solar e evitar ficar em ambientes sem circulação de ar para minimizar quadros alérgicos, por exemplo. No entanto, como nem toda a população tem acesso a essas condições, é fundamental que políticas de adaptação e mitigação sejam adotadas para minimizar os danos causados por eventos climáticos extremos e cada vez mais constantes.
Nesse contexto, acordos internacionais, como o Acordo de Paris, desempenham um papel fundamental na definição de metas para a redução de emissões de gases de efeito estufa e no incentivo à transição para uma economia de baixo carbono. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), prevista para ocorrer no Brasil em 2025, será uma oportunidade crucial para que os países reforcem seus compromissos climáticos e avancem na implementação de estratégias globais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
O setor da saúde, por exemplo, necessita de maior preparo para lidar com os impactos do calor extremo. Hospitais e unidades de pronto atendimento precisam estar equipados para tratar complicações decorrentes das altas temperaturas. Além disso, estratégias de urbanização sustentável, como aumento da cobertura vegetal nas cidades, criação de espaços de sombra e melhoria da ventilação urbana, podem contribuir para a redução do estresse térmico.
O investimento em energias renováveis, a redução da emissão de gases de efeito estufa e a implementação de políticas ambientais rigorosas também são passos fundamentais no controle das alterações climáticas. Somado a isso, iniciativas como reflorestamento, conservação de biomas e incentivo a práticas agrícolas sustentáveis podem contribuir para reduzir as emissões e os consequentes impactos a longo prazo.
Dentro do cenário atual, observa-se que a velocidade com a qual os eventos climáticos extremos se intensificam supera as ações de mitigação e adaptação implementadas até o momento, sendo necessário ampliar os esforços para combater as causas e consequências do aquecimento global antes que seus efeitos se tornem irreversíveis.
Todos pelo clima!