As recomendações para descarbonização da economia brasileira incluem a preservação dos biomas do país, a redução das emissões do setor elétrico e investimento em tecnologia
O CDP América Latina, organização internacional que mede o impacto ambiental de empresas e governos em todo o mundo, e o Laboratório Cenergia do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apresentam um novo estudo com orientações para a trajetória de neutralidade climática[1] do Brasil até 2050. O relatório faz o mapeamento das mudanças estruturais necessárias para os setores de energia, transportes, indústria, resíduos e agropecuária, florestas e outros usos do solo (AFOLU — sigla em inglês).
Segundo as conclusões do estudo, para o Brasil alcançar um cenário NetZero até a segunda metade do século, será necessário evitar que cerca de 21 bilhões de toneladas de CO2 equivalente sejam lançadas na atmosfera. Para isso, o setor AFOLU será responsável por compensar 79,5% dos gases emitidos por outros setores.
De acordo com as projeções, a partir de 2040 o setor AFOLU contribuirá negativamente para as emissões com a captura de CO2 da atmosfera. Para chegar nesse estágio, o relatório recomenda a adoção de medidas de mitigação, como a recuperação de pastagens, aumento de 3,6 milhões de hectares de florestas plantadas e expansão de sistemas integrados ou agroflorestais, de 17.5 milhões de hectares em 2020 para quase 36 milhões de hectares em 2050.
Há outros setores que serão fundamentais para o Brasil atingir a neutralidade climática, como o energético, que deve alcançar emissões negativas após 2035, quando a participação de fontes de energia renováveis nacionais deve saltar de 48% da capacidade atual para 73%, até 2050. Isso se dará, principalmente, por meio da captura e armazenamento de CO2, que devem ser inseridos nos processos de produção de biocombustíveis avançados.
O setor de transportes também tem um papel fundamental para o país atingir o objetivo da neutralidade climática e deve reduzir em 36% as suas emissões até 2050. Isso, a partir da substituição de combustíveis fósseis por biocombustíveis avançados, majoritariamente produzidos a partir da biomassa, e da sutil eletrificação da frota de veículos leves — em especial para atender a demanda do transporte rodoviário.
Apesar de ser pouco expressivo no quadro geral de emissões, o setor de resíduos também é um agente de mudanças para o Brasil NetZero. Segundo as análises, é necessário investir no tratamento de resíduos sólidos a partir da eliminação de aterros sanitários e de aterros controlados, para serem substituídos por aterros com flare. Além da queima em flare, as estimativas demonstram que a reciclagem será responsável por tratar aproximadamente 20% dos resíduos sólidos em 2050.
“A trajetória de descarbonização do Brasil não só será como é um grande desafio, visto que somos um país continental e temos uma ampla diversidade ambiental e climática para explorar, além de sermos o sexto maior emissor do mundo. Nossa estratégia foi traçar um cenário que contribua para embasar a formulação de políticas públicas que insiram, definitivamente, o Brasil na trajetória de neutralidade climática, apoiando o desenvolvimento econômico e social do país”, afirma Miriam Garcia, gerente de políticas públicas do CDP.
Os três principais pontos de atenção para que o Brasil consiga construir uma trajetória de descarbonização bem-sucedida consistem em: preservação e valorização dos biomas, redução drástica das emissões no setor elétrico e necessidade de inovações tecnológicas em todos os setores.
“Iniciamos o nosso estudo com a análise de diferentes cenários globais para evolução de emissões de gases de efeito estufa, conforme uma base sólida e diversa, que também inclui os resultados do modelo global do nosso laboratório. Na sequência, realizamos o tratamento dessas informações e verificamos os resultados do Brasil dentro dos resultados globais”, explica o professor Roberto Schaeffer da Coppe/UFRJ. De acordo com ele, após um longo período de análises foi possível filtrar informações que possibilitaram entender como o clima se comportará no futuro, segundo diferentes trajetórias de mitigação de emissões de gases de efeito estufa. “Foi um trabalho árduo, mas com conclusões muito pertinentes ao senso de urgência que devemos ter já antes de 2025” conclui Roberto.
A metodologia utilizada para as projeções de transição do Brasil para o NetZero foi desenvolvida a partir da integração de dois modelos, um econômico e um tecnológico. A modelagem econômica é feita pelo EFES (Economic Forecasting Equilibrium System), um modelo de equilíbrio geral computável baseado em matrizes insumo-produto, enquanto a modelagem tecnológica, por sua vez, é realizada principalmente pelo BLUES (Brazilian Land-Use and Energy System model), um modelo de avaliação integrada para o Brasil, que tem por objetivo atender a demanda por serviços energéticos do país com o menor custo possível. O relatório completo está disponível no site do CDP.
Sobre o CDP
O CDP é uma organização global sem fins lucrativos que administra o sistema mundial de divulgação ambiental para empresas, cidades, estados e regiões. Fundado em 2000 e trabalhando com mais de 590 investidores com mais de US$ 110 trilhões em ativos, o CDP foi pioneiro no uso de mercados de capitais e compras corporativas para motivar as empresas a divulgar seus impactos ambientais e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, gerenciar os recursos hídricos e proteger as florestas. Mais de 14.000 organizações em todo o mundo divulgaram dados por meio do CDP em 2021, incluindo mais de 13.000 empresas que valem mais de 64% da capitalização de mercado global e mais de 1.200 cidades, estados e regiões. O CDP é membro fundador da iniciativa Science Based Targets, We Mean Business Coalition, The Investor Agenda e da iniciativa Net Zero Asset Managers. Visite o site ou siga @CDPLatinAmerica nas redes sociais para saber mais.
[1] Nesse estudo, o termo neutralidade climática e o cenário NetZero, consideram uma trajetória visando emissões líquidas zeradas de GEE em 2050.
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