Chuvas em excesso e secas extremas

Por Alba Wodianer, especial para a Envolverde –

O Rio Grande do Sul vive uma de suas piores tragédias climáticas. A chuva persistente que assola o estado deve continuar por mais alguns dias, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), e até o momento já é responsável por 24 mortos, 21 desaparecidos e mais de 8 mil pessoas estão desalojadas.

Especialistas em clima e ecologia do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático (PIK) alertam para os impactos cada vez mais drásticos das mudanças climáticas. De acordo com o estudo publicado no “Journal of Climate” em dezembro de 2023, as descobertas indicam que as precipitações extremas podem aumentar mais rapidamente do que a maioria dos modelos climáticos sugerem.

“O nosso estudo confirma que a intensidade e a frequência dos extremos de chuvas intensas estão aumentando exponencialmente com cada incremento do aquecimento global”, explica Max Kotz, autor principal do estudo.

Nos últimos anos o Brasil já vem enfrentando chuvas em excesso e enchentes que, em 2023 foram responsáveis por 132 mortes, além de deixarem centenas de milhares desalojados.

Pesquisas do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas mostram que, no Sul e Sudeste, regiões que sofrem com enchentes e deslizamentos, as chuvas se tornarão mais fortes e mais frequentes. Já no Nordeste do país, a tendência é oposta. A região mais castigada pela seca enfrentará grande redução da quantidade de chuvas, e as secas, que já são comuns, ficarão mais frequentes.

A Caatinga, por exemplo, é um dos biomas do país que tem sofrido com a mudança nos padrões de chuva. “A Caatinga tem uma tendência de diminuição de precipitação muito intensa, e o aumento da temperatura poderá chegar a 5,5ºC até o final do século. Isso é realmente impactante”, diz Tércio Ambrizzi, professor da USP e um dos autores do Relatório de Avaliação Nacional, organizado pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).

Já a Amazônia experimentou em 2023 uma das piores secas de sua história. Docentes e discentes do Programa de Pós-graduação em Desastres Naturais, que é uma parceria entre o Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de São José dos Campos, e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), publicaram um estudo em que discutem dois fatores que contribuíram de perto para essa seca: aquecimento global e desmatamento.

“O artigo não chega a fazer prospecções de cenários futuros. Porém, lamentavelmente, se esses dois fatores não forem controlados, a tendência é que cresçam com o tempo. E muitas publicações que analisam cenários futuros sugerem que as condições mais secas e mais quentes, por volta do ano 2050, se tornem algo normal na Amazônia”, diz Jhan-Carlo Espinoza, climatologista e coordenador do estudo.

Além das perdas humanas e ambientais, as catástrofes climáticas geraram, também em 2023, prejuízos econômicos cujo valor chega perto dos R$ 25 bilhões, somadas as áreas pública e privada. E, de acordo com outro estudo publicado na revista Nature, também realizado pelo PIK, as perdas econômicas mundiais, projetadas para 2050 como consequências do aumento da temperatura e mudanças nos regimes de chuvas, chegam a 25% da renda per capita nas regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil.

Os países mais pobres serão os mais afetados, estando o Brasil entre eles, evidenciando que os impactos econômicos podem agravar os efeitos da injustiça climática; e essa desigualdade tende a se intensificar depois de 2050 caso não haja corte significativo e acelerado nas emissões de gases de efeito estufa.

“Cabe a nós decidir: uma mudança estrutural em direção a um sistema de energia renovável é necessária para nossa segurança e nos economizará dinheiro. Permanecer no caminho atual nos levará a consequências catastróficas. A temperatura do planeta só pode ser estabilizada se pararmos de queimar petróleo, gás e carvão”, avalia Anders Levermann, coautor do estudo.

Ao mesmo tempo, as autoridades brasileiras precisam se mobilizar para criar e implementar estratégias de adaptação e mitigação dos impactos de eventos extremos.
Regina Alvalá, diretora do Cemaden, exemplifica que “é muito importante que os municípios fortaleçam as estruturas de defesa civil para que tenham condições de agir preventivamente e atuar rapidamente ante a iminência de um alerta recebido. Planos de contingência, mapeamento das áreas de riscos atualizados, informações sobre as populações mais vulneráveis – se há idosos, pessoas com deficiências, dificuldades de locomoção ou problemas de saúde, entre outros aspectos, a preparação de abrigos, rotas de fuga que considerem as distâncias que precisam ser percorridas são cruciais em ações de respostas.”

Diante de tragédias e dados tão alarmantes, a comunidade internacional precisa começar a agir de forma decisiva para enfrentar a crise climática e proteger os recursos naturais essenciais para a sobrevivência humana.

Envolverde