Clima

COP28: Energia, educação e direitos humanos: as pautas da juventude

Por Dal Marcondes, especial para a Synergia Socioambiental*- 

Engajamundo é uma organização que reúne uma enorme diversidade de jovens e mantém uma rede de ativismo que nunca desiste do futuro.

Uma das organizações com maior ativismo nas COPs climáticas que acontecem ao redor do mundo é o Engajamundo, uma associação de jovens com um histórico de intervenções impactantes em diversas conferências. Uma das mais emblemáticas foi a fala da ex-coordenadora da ong, Raquel Rosenberg, na COP de Paris. Oito anos atrás ela afirmou: “Na minha geração, a mudança do clima foi da ciência à realidade, impactando diretamente a vida das pessoas, especialmente os mais pobres e marginalizados”.

Na COP28, em Dubai, os jovens do Engajamundo continuam sua luta, sabendo que os adultos de hoje, aqueles que detêm o poder de transformar a realidade, não estão fazendo o suficiente. Coube agora ao jovem Endrew Machado de Almeida, estudante de Direito na Universidade Federal Fluminense e fundador do coletivo Lentes Pretas (@lentespretas_), o papel de levantar a voz pelos direitos das futuras gerações.

Ele queixa-se da lentidão na tomada de decisões, que se contrapõe à velocidade da emergência climática e das necessidades das populações mais carentes e desassistidas, que vivem nos países mais vulneráveis e nas áreas pobres de muitos países entre os mais ricos. E, nesta COP, aponta a transição energética como a principal demanda, mas sem muita confiança em uma decisão coerente com o futuro. 

O petróleo e as energias limpas parecem ser o centro das preocupações na COP28, seja para acelerar ou para adiar o fim dos combustíveis fósseis.

E.M.A.: A questão é fazer uma transição energética justa em um tempo adequado para manter a meta climática de 1,5 ºC. É preciso que a gente fale em uma transição da matriz energética acessível a todos que precisam de energia, no Brasil e no mundo. No entanto, esse é um tema que está sendo colocado de lado nesta COP.

Uma das formas de se conseguir a ação política costuma ser a pressão da sociedade. Como aumentar e melhorar essa pressão?

E.M.A.: O Engajamundo vem propondo e trabalhando para que haja educação climática nas escolas, para que os professores recebam capacitação sobre as mudanças climáticas e desenvolvam atividades de educação climática coerentes com cada etapa de ensino, em todos os níveis.

O Engajamundo também tem um trabalho relacionado à segurança dos ativistas.

E.M.A.: É verdade, a proteção dos defensores do meio ambiente é fundamental, e o Brasil é onde mais se mata ativistas e protetores do meio ambiente, pessoas que atuam na defesa de comunidades e de povos indígenas. É muito importante que o Congresso brasileiro ratifique o Acordo de Escazú, adotado em Escazú, Costa Rica, em 4 de março de 2018, e que inclui a defesa dos direitos humanos de ativistas sociais e ambientais. O presidente Lula já assinou, agora é com o Congresso.

O Engajamundo veio para esta COP com três pautas principais. Quais são elas?

E.M.A.: Sim, para nós existem três prioridades entre as centenas de demandas que surgem nesses encontros:

  • Transição energética justa – acesso a energia limpa e de qualidade para todos;
  • Educação climática nas escolas – preparar estudantes para o enfrentamento da emergência climática e capacitar professores para trabalhar a educação e a prevenção climática;
  • Direitos dos ativistas – comprometer o governo brasileiro com as pautas do Acordo de Escazú e ampliar as garantias de proteção para ativistas socioambientais em todo o país.

Você acredita que os participantes e negociadores desta COP estão atentos às demandas dos jovens?

E.M.A.: Acho que a gente está conseguido atenção sim. Eu vejo que muitos dos tomadores de decisão param para ouvir a gente, num sinal de respeito e de igualdade. Não há mais a reação pejorativa de que “são só jovens”. Na minha perspectiva, tem melhorado a relação com a sociedade civil, especificamente dos jovens com os tomadores de decisão. Há uma percepção mais favorável das propostas dos jovens para melhorar a vida no futuro. Eu acredito que a gente está conseguindo influenciar nas decisões, ganhar cada vez mais espaço e conversar cada vez mais com mais atores.

Outro grupo importante nesta COP é a representação indígena, inclusive com uma militante importante, Txai Suruí, que também é integrante do Engajamundo.

E.M.A.: Os povos indígenas têm articulado bastante. Acho que são um dos maiores grupos de articuladores do país contra os crimes sociais e ambientais. Acredito que eles estejam ganhando protagonismo e incidindo cada vez mais nas decisões do país. Há, ainda, o movimento negro, que agora também está conseguindo um diálogo muito aberto com a sociedade civil, depois de muito tempo tentando conquistar espaço. No entanto, tanto para indígenas como para negros, ainda não é suficiente. Nem todas as vozes estão sendo ouvidas e nem todos são protagonistas, como, por exemplo, as comunidades quilombolas.

Como você vê o legado da COP28?

E.M.A.: Essa COP de Dubai ofereceu a oportunidade de ampliar o protagonismo de comunidades, mas ainda há muito a ser feito, especialmente em relação a comunidades quilombolas, ainda sub-representadas. Há algumas coisas a serem comemoradas, como o Fundo de Perdas e Danos, aprovado no primeiro dia da conferência, muitas articulações entre movimentos sociais de todo o mundo e um olhar para o amanhã.

Muitos jovens estão ansiosos, esperando ações mais rápidas, mas tudo vai acontecer em um movimento diário, se continuarmos a fazer a militância e olhar para cada ação do dia a dia para mudar aquilo que precisa ser mudado. Se sou otimista? Não. Mas também não sou pessimista. Acredito que os jovens de hoje têm de se comprometer com os jovens de amanhã, que serão nossos filhos e netos. Precisamos agir para melhorar o que está no nosso entorno, fazer sempre o que está ao nosso alcance, e não desistir nunca.

Imagem de destaque: Endrew Machado de Almeida

 *Synergia Socioambiental e Envolverde na cobertura da COP28.