Clima

Investidores buscam empresas que identificam riscos nas cadeias de valor e são resilientes

por Caroline Ligório, da Envolverde, especial para o CDP – 

O portfólio de empresas que articulam e utilizam cadeias de valor sólidas é um atrativo para grandes investidores que desejam reduzir os riscos de investimento. Esses agentes que concentram trilhões de dólares antes de escolher onde investir consideram quais são os riscos que estão assumindo, como é a empresa em que estão investindo e como suas cadeias de valor estão conectadas. Portanto, empresas que fazem gerenciamento de riscos e agem para a mitigação destes atraem o interesse dos investidores.

A mitigação dos riscos climáticos requer agilidade e flexibilidade. “A atmosfera é o que você coloca em uma banheira. Está transbordando, muito carvão, petróleo, gás e desmatamento. A única maneira que podemos diminuir e evitar que a água transborde é removendo o carbono da atmosfera”, aponta Gabriel Thoumi, diretor de riscos climáticos e mercados de capitais da Climate Advisers. Ele explica que, ao entender melhor sua cadeia de valor, empresas podem encontrar vantagens competitivas e ajudar nessa redução de CO2.

Parte do interesse dos investidores em saber se empresas estão cientes dos riscos é devido a conversão em riscos materiais, o que pode implicar em impactos positivos e negativos. Em 2016, a BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, identificou o desmatamento como risco material para cadeia de valor. De 2015 a 2017, o comprometimento corporativo de desmatamento zero aumentou rapidamente, saltando de 174% para 760%.

No evento CDP Supply Chain 2018, Gabriel Thoumi exemplificou tanto os impactos positivos, quantos os negativos, por meio de gerenciamentos de risco efetivos e outros mal-sucedidos. A prática ilegal da empresa peruana United Cacao de desmatar 11 000 hectares ocasionou uma série de efeitos colaterais que culminou no fechamento da empresa. A United Cacao foi expulsa da bolsa de valores de Londres, teve perda de todos os ativos e perda de um valor de 42 milhões de dólares. Além de gerar a demissão de 300 funcionários.

A IOI Corporation, voltada para produção de óleo de palma, foi identificada causando o desmatamento de áreas de floresta preservada. A empresa foi suspensa da Roundtable on Sustainable Palm Oil (RSPO), perdendo certificação. Thoumi alerta que assim que se soube da prática ilegal, o risco foi divulgado em Wall Street, levando queda do preço de compra em 20% em seis semanas. A perda foi de 800 milhões de dólares e de 27 compradores corporativos.

No sentindo oposto, a Unilever se destacou como um caso bem-sucedido. Em 2017, a empresa decidiu vender a divisão de margarinas por sete bilhões de dólares. Foi solicitado a Unilever para que efetuasse a venda para uma empresa comprometida com uma cadeia de valor sustentável. A medida fez com que o valor da venda de sete bilhões de dólares, saltasse para oito bilhões. A negociação não sucedida da Kraft Heinz, empresa que fez uma proposta de compra em fevereiro de 2017, levou-a a investir em março o valor de 200 milhões de dólares para deixar sua cadeia de valor mais verde.

Dentro deste contexto, o CDP desenvolveu o programa Supply Chain Forest com o apoio do governo Norueguês para ajudar grandes compradores a entender como seus fornecedores estão gerindo o risco de desmatamento nas suas cadeias de valor.

A transparência no relacionamento entre a governança corporativa e os investidores estimula o aumento no valor de investimento, pois percebem a redução em seus riscos esperados, medida que pode ser feita por meio do gerenciamento de risco das cadeias de valor. (CDP/#Envolverde)