Clima

O papel das comunidades tradicionais no enfrentamento das mudanças climáticas é debatido durante Congresso em MT

Com um aumento histórico dos focos de queimadas desde 2020 e a divulgação do último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, o ARI6, o protagonismo das comunidades tradicionais como aliadas da proteção dos biomas e das reservas da biosfera é apontada como caminho fundamental para um futuro comum.

Esse foi uma das conclusões do XIII Congresso Brasileiro de Etnobiologia e Etnoecologia, que acontece entre os dias 10 e 14 de julho de 2022, na Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Cáceres, Mato Grosso.

Na verdade, os povos tradicionais e indígenas não têm um caminho, eles possuem um modo de vida, um tipo de vier que ainda é integrado ao meio ambiente. Algo que se compreendemos e adaptarmos a nossa realidade, pode nos ajudar a encontrar soluções para problemas atuais que seguem se solução, como o uso irregular do fogo nas paisagens”, explica a professora Carolina Joana da Silva Nogueira, presidente do Congresso e professora da Unemat.

Fogo bom

Ozi Bambini, foi um dos palestrantes do congresso, representante da Startup 1,5 Graus, especializada em ações de combate às queimadas. O grupo faz estudos de riscos envolvendo clima, pressão antrópica, a localização de linhas de transmissão, monitoramento por satélites e câmeras para criar estratégias para um problema cada vez mais presente, os incêndios florestais. Apenas em 2020, o bioma Pantanal, por exemplo, teve quase 30% de sua área total atingida por queimadas.

Para Ozi Bambini as comunidades podem realmente serem benéficas para ações de enfrentamento a crise ambiental e do clima. “Sobretudo na transmissão de conhecimento sobre o uso consciente e positivo do fogo, com esse elemento sendo aplicado como um componente para se evitar os incêndios florestais. O grande caminho é isso, juntar a tecnologia com esses saberes tradicionais.”, diz.

Ele relembra que combater os incêndios florestais também é um caminho de enfrentamento das mudanças climáticas. A queima de florestas é o principal fator que coloca o Brasil como um dos maiores emissores no ranking mundial das queimadas.

“Apenas em 2020, o que foi queimado no Pantanal emitiu 150 milhões de toneladas de CO2 segundo o WRI. Combater os incêndios criminosos nos biomas é algo fundamental para o futuro”, diz Bambini. “O desafio é fazer o fogo que é o inimigo virar o aliado. Com as técnicas tradicionais, o manejo do fogo sempre aconteceu, e não existiam mega incêndios”.

Reservas da biosfera

O papel das comunidades tradicionais e povos indígenas como aliados da biodiversidade também foi debatido por representantes do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera do Pantanal.

As discussões durante o congresso foram focadas em como as pessoas estão se adaptando as mudanças na vegetação e recursos hídricos que já estão acontecendo em decorrência das crises do clima e ambiental.

No Pantanal, vemos que existe uma busca por poços. Desde a seca de 2021, o número de propriedades e comunidades que recorrem a essa solução aumenta cada vez mais. Porém são medidas paliativas e o problema maior segue sem debate”, explica Laércio Machado.

As Reservas da Biosfera são áreas territoriais representativas de valiosos ecossistemas terrestres, marinhos e costeiros, internacionalmente reconhecidas pela UNESCO, por meio do Programa “O Homem e a Biosfera” – MAB (sigla em inglês), por solicitação dos governos nacionais.

Essas áreas constituem lugares que proporcionam soluções locais para desafios globais. Atualmente (2021) existem no mundo 727 reservas da biosfera, em 131 países, sendo sete áreas no Brasil; Reserva da Biosfera da Mata Atlântica – RBMA, Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo – RBCV, Reserva da Biosfera do Cerrado – RBC, Reserva da Biosfera do Pantanal – RBP, Reserva da Biosfera da Caatinga – RBCA, Reserva da Biosfera da Amazônia Central – RBAC, Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço – RBSE, que em conjunto, abrangem 2.064. 161 km2, cerca de 24% do território brasileiro.

“Para conseguirmos criar adaptações a um futuro climático incerto, e que garantam equilíbrio desses territórios, temos que ouvir as pessoas que tradicionalmente sempre viveram nessas regiões”, conclui Laércio.

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