Desafio da região é buscar conexões entre a gestão sustentável da pesca, a conservação da biodiversidade e a manutenção dos modos de vida
Por WCS Brasil –
Conservação da Bacia Amazônica depende de manejo integrado
Análises científicas para ampliar as ações de conservação da Bacia Amazônica foram tema nesta terça-feira, 19, da conferência internacional “Águas Amazônicas: Escalas, Conexões e Desafios” em Manaus. A Wildlife Conservation Society (WCS Brasil) apresentou resultados de analises feitas nos últimos dois anos pela iniciativa Águas Amazônicas através da plataforma SNAP – Ciência para a Natureza e Gente. Cerca de 40 instituições – entre agências governamentais brasileiras e peruanas, ONGs, instituições de pesquisa, universidades, representações indígenas e de pescadores participaram da discussão.
O objetivo da conferência é ampliar a escala das ações conservacionistas na Amazônia, considerando a importância de suas águas, paisagens aquáticas e sua biodiversidade para a manutenção dos processos ecológicos que sustentam a vida silvestre e os modos de vida da região. O evento foi realizado ainda com o apoio da The Nature Conservancy (TNC) e do National Center for Ecological Analysis and Synthesis (NCEAS).
Hoje, só no Brasil, cerca de 50% da Bacia Amazônica está protegida em unidades de conservação, terras indígenas ou territórios quilombolas, percentual insuficiente para garantir a conservação da biodiversidade e dos modos de vida dos povos regionais. Para a manutenção do ciclo da água, das conexões ecológicas e dos serviços ecossistêmicos são necessárias ações de conservação e manejo que extrapolem os limites dessas áreas protegidas.
A ampliação das escalas de manejo representa um novo elemento para a agenda socioambiental da região pela possibilidade de agregar elementos que conservem águas, paisagens aquáticas e pesca. “Os processos ecológicos sustentam o modo de vida regional e são chaves para a manutenção da sociedade amazônica e sua diversidade cultural”, alerta Carlos Durigan, diretor da WCS Brasil.
Nos últimos dez anos, o a degradação florestal alcançou aproximadamente 20% da Amazônia e, ao lado do impacto do crescimento urbano desordenado, o aumento da demanda de recursos naturais e a exploração de commodities como a mineração, é uma grande ameaça. “Precisamos considerar o manejo integrado de bacias para o bem-estar humano e a conservação da biodiversidade da região amazônica”, explica Durigan.
Mais de uma centena de projetos de novas hidrelétricas estão previstos para a Amazônia, alguns já em fase de implementação, gerando uma série de impactos irreversíveis. Segundo o pesquisador e coordenador científico da WCS, Michael Goulding, caso seis barragens planejadas para a região andina sejam implementadas causariam impactos negativos no ecossistema amazônico por barrar fontes de sedimentos e nutrientes, áreas de reprodução, além de prejudicar as espécies migratórias de peixes, que representam até 90% da pesca comercial na região.
Somente no estado do Amazonas, o consumo de pescado é de 30 quilos por pessoa a cada ano. A pesca sustenta uma população heterogênea e atende desde populações ribeirinhas, passa pelas cidades e chega à exportação. Uma ação efetiva para o manejo pesqueiro passa pelo conhecimento da rota migratória dos peixes, das áreas de pesca e também da frota pesqueira.
“Três pilares devem sustentar a conservação da biodiversidade na Bacia Amazônica: a consolidação de áreas protegidas, a ampliação da geração e compartilhamento de conhecimento científico que deve ser usado como base para políticas públicas e a promoção do manejo integrado considerando todas as conexões possíveis”, resume Durigan.
Fundada em 1895, a WCS atua no Brasil desde a década de 70 em ações de conservação da vida silvestre e paisagens naturais, com foco nos Biomas Pantanal e Amazônia. (WCS/ #Envolverde)