Ambiente

Cúpula climática: falta de ambição pode transformar o Brasil em “saco de pancada”

por ClimaInfo – 

A expectativa em torno da participação brasileira na Cúpula Climática desta 5ª feira (22/4) é muito ruim: o país chega ao evento sem planos para combater o desmatamento e nem resultados positivos a apresentar, o que prejudica ainda mais a sua já parca credibilidade internacional na agenda ambiental. Como Thaís Oyama observou no UOL, Bolsonaro virou um easy target: “alguém fácil e bom de bater”.  “O Brasil nunca chegou numa reunião de cúpula do clima como vilão. Essa é a primeira vez”, destacou Míriam Leitão em sua coluna no jornal O Globo. “E ele está nessa situação de constrangimento pelo resultado do pior governo do Brasil para a área ambiental e climática”.  Até o ex-presidente Fernando Collor, supostamente aliado de Bolsonaro, se uniu ao coro alertando n’O Globo sobre o crescente isolamento internacional. Já o ex-chanceler Aloysio Nunes Ferreira ressaltou no Estadão que o vai-e-vem na retórica bolsonarista gera mais desconfiança sobre as reais intenções do governo nas discussões ambientais. Para ele, Bolsonaro “desdenhou de recursos do Fundo Amazônia e, quando Joe Biden se dispôs a ajudar, respondeu grosseiramente”. O Correio Braziliense também analisou as dificuldades que se acumulam no Palácio do Planalto para aplacar a frustração crescente de governos estrangeiros com a política ambiental brasileira. Sobre o Brasil conseguir dinheiro internacional para a Amazônia sem condicioná-lo a resultados efetivos no combate ao desmatamento, o embaixador Sérgio Amaral, ex-chefe da diplomacia brasileira nos EUA, afirmou que a chance disso acontecer é “próxima a zero”. O professor Eduardo Viola (UnB) vai na mesma linha em entrevista para O Globo, observando que a falta de credibilidade do país impossibilita qualquer resultado nesse sentido. Em encontro ontem (19) com Estados Unidos, Alemanha, Noruega, Reino Unido e a delegação da União Europeia no Brasil, representantes da sociedade civil destacaram pontos de atenção para um eventual acordo com o Brasil, segundo a Época.

Já antecipando o balde de água fria na questão do financiamento internacional, o vice-presidente Mourão tentou minimizar os problemas e afirmou que o Brasil não pode se comportar como um “mendigo” nas conversas internacionais sobre a Amazônia. Ele repetiu o discurso padrão do Planalto: de que o Brasil merece receber esses recursos externos pela preservação realizada nas últimas décadas e que a responsabilidade do país na questão climática é pequena em comparação com as grandes potências e as nações mais ricas – a despeito de o Brasil figurar atualmente entre os seis países com mais emissões de carbono do mundo. O falatório de Mourão foi repercutido por G1Metrópoles e Valor.

Pelo lado dos EUA, ainda que não haja um acordo formal com o Brasil nos próximos dias, o caminho segue sendo o das cobranças: segundo a Folha, a Casa Branca espera que Bolsonaro reforce em seu discurso na cúpula o compromisso feito na carta da semana passada, na qual ele prometeu zerar o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030. Ao mesmo tempo, informou o Estadão, os EUA também esperam que Bolsonaro apresente um compromisso político claro e pragmático, com um cronograma de redução gradual do desmatamento e uma meta climática mais ambiciosa sob o Acordo de Paris.

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