Eu faço parte de uma equipe de cientistas que recentemente revisou a situação dos elefantes africanos para a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Compilamos dados de mais de 400 locais em toda a África, abrangendo 50 anos de esforços de conservação – e nossos resultados foram sombrios.
O número de elefantes da savana africana – a maior subespécie de elefantes – diminuiu 60% desde 1990. E os elefantes da floresta, que a IUCN está tratando como uma espécie separada pela primeira vez, diminuíram em número em mais de 86%. Com base em nossa avaliação, a IUCN mudou sua lista com classificação “vulnerável” para todos os elefantes africanos: os elefantes da savana passaram a ser classificados como “em perigo”; e os elefantes da floresta receberam a classificação “criticamente em perigo”.
Ao separar os elefantes da savana africana e os elefantes da floresta em categorias independentes, nosso relatório revela o estado crítico dos elefantes da floresta mais esquivos, obscurecido em avaliações anteriores que agruparam todos os elefantes da África. Evidências científicas para separar as espécies foram se acumulando nas últimas duas décadas, e muitos taxonomistas achavam que esse reconhecimento já devia ser feito há muito tempo.
Ameaças globais, soluções globais
Cientistas acreditam que as populações de elefantes em toda a África realmente aumentaram durante o início do século 20, quando as nações estavam entrincheiradas em guerras globais e o consumo de marfim e outros itens de luxo diminuiu. Após a Segunda Guerra Mundial, no entanto, o consumo conspícuo aumentou. A caça descontrolada de marfim causou uma queda acentuada no número de elefantes nas décadas de 1970 e 1980.
Graças às redes de comércio global interconectadas, junto com fronteiras porosas e não regulamentadas em muitas partes da África, o aumento da demanda de marfim em uma parte do mundo rapidamente se traduz em preços mais altos no mercado negro de marfim na África. E esses preços mais altos levam à caça ilegal.
A remoção de elefantes de uma área pode abrir caminho para a conversão de florestas e pastagens em agricultura. Este ciclo levou ao esgotamento de grande parte da área de distribuição histórica dos elefantes africanos.
A perda de habitat também aproxima elefantes e humanos, levando a mais conflitos entre eles – esses confrontos levam à perda direta de elefantes. Essa aproximação também acaba tornando os elefantes um fardo para as comunidades locais (com disputa por alimentos e água), o que pode corroer o interesse e o apoio à conservação dos animais.
Embora a escala de declínio das populações de elefantes na África seja avassaladora, existem muitos exemplos de esforços de conservação bem-sucedidos em todo o continente. O esforço de Conservação Transfronteiriça KAZA (Kavango-Zambeze), liderado por Botswana, detém a maior população contígua de elefantes no continente, e essa população experimentou um forte crescimento nos últimos 50 anos. Este sucesso reflete a cooperação entre países vizinhos e o trabalho com as comunidades locais.
Os esforços internacionais conjuntos para reduzir o comércio ilegal de marfim estão aumentando a conscientização sobre os problemas com o consumo de marfim. A China proibiu o comércio doméstico de marfim em 2017 e, ao mesmo tempo, a caça ilegal de elefantes africanos diminuiu – favorecendo, inclusive, as maiores populações da Tanzânia e do Quênia, que estavam sob forte pressão 10 anos antes. A população central de elefantes da floresta no Gabão, que diminuiu 80% entre 2004 e 2014, estabilizou com o aumento do investimento governamental e redução da pressão da caça ilegal com foco no marfim.
O trabalho inovador com comunidades em países como Namíbia e Quênia para melhorar a subsistência das pessoas por meio do desenvolvimento de economias baseadas na natureza e na vida selvagem levou à proteção de enormes extensões de terras como áreas de conservação. E pesquisadores e conservacionistas estão trabalhando para encontrar soluções para os conflitos entre as atividades humanas e as necessidades dos elefantes que possam ser aplicadas em toda a África.
Ao destacar o estado precário das duas espécies de elefantes da África, meus colegas e eu esperamos que esta Avaliação da Lista Vermelha (a lista da IUCN de espécies ameaçadas) possa ajudar a motivar os países africanos com populações de elefantes e a comunidade internacional a investir em medidas que apoiem a conservação dos elefantes.
Os elefantes fornecem muito mais do que apenas benefícios estéticos. Estudos recentes mostram que os elefantes da floresta também desempenham um papel importante no combate às mudanças climáticas, aumentando o armazenamento de carbono nas florestas da África Central, uma das reservas de carbono mais importantes do planeta. Os elefantes dispersam sementes e desbastam as árvores jovens à medida que se alimentam, o que abre espaço para que árvores maiores prosperem.
Os elefantes também são a base da economia baseada na vida selvagem em toda a África. E os elefantes são considerados engenheiros do ecossistema que estruturam o equilíbrio entre as árvores e a grama nas savanas da África. Junto com muitos outros especialistas em conservação, vejo reverter seu declínio como um imperativo global que requer apoio global combinado.
George Wittemyer é professor de Vida Selvagem e Biologia da Conservação, da Universidade do Estado do Colorado (EUA) e integra o Grupo de Especialistas em Elefantes Africanos da IUCN