Por Beatriz Mattiuzzo*
A cidade de São Vicente, no litoral de São Paulo, deu um passo importante e essencial para a formação de todo ser humano. No início de junho, a Prefeitura sancionou uma lei para desenvolver a cultura oceânica nas escolas da Rede Municipal de Ensino, promovendo a educação, conscientização e valorização dos recursos marinhos. A iniciativa é pioneira e merece destaque, pois reconhece a importância de integrar o conhecimento sobre os mares ao currículo escolar, preparando as futuras gerações para lidar de forma responsável com esse ambiente tão fundamental para o planeta.
A cultura oceânica, do inglês Ocean Literacy, é o conjunto de processos que promove a alfabetização marinha, ou seja, a compreensão dos conceitos que permitem conhecer a influência do oceano em todo o ecossistema. Essa abordagem vai além do ensino tradicional de biologia, integrando o conhecimento sobre os mares a diferentes áreas da jornada escolar e promovendo uma visão interdisciplinar que conecta os seres humanos a esse ambiente vital. Ela não se limita à jornada escolar, mas se expande para fora da escola, promovendo uma educação ambiental mais ampla que incentiva uma compreensão mais profunda e uma relação mais responsável com os oceanos.
O Brasil possui uma extensa costa marítima que abrange uma vasta área conhecida como “Amazônia Azul”, com cerca de 5,7 milhões de quilômetros quadrados. Esta região é fundamental para a economia e segurança do país, pois mais de 95% do petróleo e 85% do gás natural produzidos no Brasil têm origem no mar. Além disso, a Amazônia Azul é rica em recursos vivos, como a pesca, e desempenha um papel crucial no transporte marítimo, ambos essenciais para diversos mercados e para o sustento de milhões de brasileiros.
Os oceanos e mares, que cobrem 70% do planeta, desempenham um papel vital na manutenção da vida na Terra. Eles fornecem mais da metade do oxigênio que respiramos e são responsáveis por regular o clima global, absorvendo dióxido de carbono da atmosfera e redistribuindo o calor ao redor do planeta. Os recifes de corais e manguezais, além de servirem como barreiras naturais que protegem zonas costeiras, são essenciais para a saúde e bem-estar das comunidades que vivem próximas ao mar. Dados da Organização das Nações Unidas apontam que mais de 3 bilhões de pessoas dependem direta ou indiretamente do mar para seu sustento, é crucial que cuidemos da saúde dos oceanos, que são a base da nossa alimentação, energia e muitas das nossas atividades econômicas.
No entanto, essa riqueza traz desafios e responsabilidades, pois a exploração sustentável requer um profundo entendimento dos ecossistemas oceânicos e o compromisso com a preservação do ambiente marinho. Esses contextos só podem ser compreendidos por meio de uma base educacional.
A iniciativa de São Vicente, de incorporar a cultura oceânica ao currículo escolar, é um motivador para a conscientização sobre a importância dos mares desde a infância. As escolas podem contribuir para formar cidadãos conscientes e engajados, capazes de atuar como defensores do meio ambiente em suas comunidades. A lei ainda está alinhada com os objetivos da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, proclamada pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), para o período de 2021 a 2030, com o intuito de incentivar a colaboração entre governos, instituições de pesquisa, setor privado e sociedade civil para enfrentar desafios relacionados aos recursos marinhos.
A promoção da cultura oceânica nas escolas vai além de cumprir metas globais; é um investimento direto no futuro do nosso planeta e na formação de uma “mentalidade marítima” entre os brasileiros. O conceito da “Amazônia Azul” representa mais do que uma vasta extensão geográfica; ele destaca a importância estratégica das águas brasileiras para a nossa vida cotidiana.
Integrar o conhecimento sobre os oceanos e mares na educação não só aumenta a conscientização sobre a importância desses recursos para a nossa economia e segurança, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais consciente e engajada na preservação ambiental. As escolas têm um papel crucial em fomentar esse entendimento, ajudando a moldar cidadãos que valorizam e cuidam da nossa rica herança marítima. Assim, estamos investindo na formação de uma geração que reconhecerá a relevância dos oceanos para a nossa saúde, segurança e bem-estar, promovendo um futuro mais sustentável para todos.
*Beatriz Mattiuzzo é oceanógrafa e fundadora da Marulho