Ambiente

El Niño pressiona ainda mais a Amazônia e aumenta riscos de queimadas

Especialistas relacionam seca, desmatamentos, queimadas e mudanças climáticas para explicar os fenômenos recentes

A seca histórica que vem causando prejuízos às populações da Amazônia, além de riscos à biodiversidade, também potencializa as queimadas em todo o bioma. Na origem das condições climáticas adversas está o fenômeno El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas do oceano Pacífico equatorial. “A mancha na parte leste do Oceano Pacífico equatorial já está bem quente, ainda mais do que era durante o chamado El Niño “Godzilla” de 2015-2016. Esta mancha está se alargando, chegando à região central do Pacífico, que é a região que provoca El Niños do tipo que aconteceu em 1982-1983, que deixou um rastro mundial de destruição”, explica Philip Fearnside, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza e pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa).

O cientista afirma que o aquecimento no Pacífico afeta principalmente a parte norte da Amazônia, mas, ao mesmo tempo, provoca uma mancha de água quente no oceano Atlântico norte tropical, o que implica também em seca na parte sul da Amazônia, como aconteceu em 2005 e 2010. “Isso atrasa o início das chuvas e também pode resultar não só em uma vazante extrema este ano, mas também em níveis baixos em 2024. Tudo isso favorece incêndios florestais, matando uma enorme quantidade de árvores”, comenta Fearnside.

Philip Fearnside

O pesquisador, que há mais de 40 anos realiza pesquisas sobre a Amazônia, explica que a frequência de grandes El Niños tem aumentado nos últimos anos. “Se a temperatura média global seguir aumentando, o quadro deve piorar bastante. Se o aquecimento global fugir do controle humano, o que já está bem perto de acontecer, o Brasil seria uma das maiores vítimas, perdendo a floresta amazônica, a agricultura no Nordeste, que sustenta dezenas de milhões e pessoas, muito da produção de agronegócio do país inteiro, e a habitabilidade de muitos locais no país”, afirma.

A seca tem agravado a situação dos incêndios florestais na Amazônia. Setembro, com quase sete mil focos de queimadas, foi considerado o segundo pior mês para os incêndios no estado do Amazonas desde 1998, quando teve início a série histórica monitorada pelo Inpe. Ao considerar os nove estados que englobam a Amazônia legal, os alertas ainda são menores que os registrados em 2022; foram 25.414 focos em setembro, número abaixo da média para o mês, que é de 32.477.

Preocupação no Pantanal

Vitória Regia na Serra do Amolar

A seca também favorece os incêndios em outras regiões e bioma do país. Em todo o Pantanal, que ocupa o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul, mais de 1.400 focos de incêndio foram detectados em outubro, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O Parque Estadual Encontro das Águas, localizado no Mato Grosso, perdeu 21.825 hectares de vegetação somente neste mês, área que corresponde a cerca de 20% do seu território. O parque, que possui uma área de 108 mil hectares, é conhecido por abrigar a maior concentração de onças pintadas do mundo.

Sobre a Rede de Especialistas em Conservação da Natureza

A Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN) reúne cerca de 80 profissionais de todas as regiões do Brasil e alguns do exterior que trazem ao trabalho que desenvolvem a importância da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. São juristas, urbanistas, biólogos, engenheiros, ambientalistas, cientistas, professores universitários – de referência nacional e internacional – que se voluntariaram para serem porta-vozes da natureza, dando entrevistas, trazendo novas perspectivas, gerando conteúdo e enriquecendo informações de reportagens das mais diversas editorias. Criada em 2014, a Rede é uma iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Os pronunciamentos e artigos dos membros da Rede refletem exclusivamente a opinião dos respectivos autores. Acesse o Guia de Fontes em www.fundacaogrupoboticario.org.br

Sobre a Fundação Grupo Boticário

om 33 anos de história, a Fundação Grupo Boticário é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para proteger a natureza brasileira. A instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e em políticas públicas e apoia ações que aproximem diferentes atores e mecanismos em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou cerca de 1.600 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas áreas de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com mais de 1,2 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A Fundação é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial.

(Envolverde)