Por Sucena Shkrada Resk –
O ator e ativista ambiental Marcos Palmeira é hoje o entrevistado do Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk. Conheça sua trajetória que o liga a causas indígenas e à defesa socioambiental da Mata Atlântica à Amazônia. Mas uma das decisões mais “significativas” em sua vida, segundo ele, é decidir ser um proprietário de duas Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN) e produtor orgânico certificado, na região serrana do Rio de Janeiro. Como destaca neste depoimento – “Eu não consigo diferenciar o meu dia a dia do meu trabalho. Sou um ator ambientalista, uma pessoa muito ligada às questões ambientais porque isso me motiva. Eu acredito nessa integração do homem com a natureza”.
Boa Leitura!
Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk: Marcos, conte para a gente o que te motivou a se tornar um defensor ambiental e da produção orgânica? Como foi este processo?
Marcos Palmeira: Desde o meu contato com os indígenas, na década de 80, eu passei a ter um olhar mais atento para a natureza e para a necessidade de a gente ter um equilíbrio, já que nós fazemos parte de tudo isso também. Acho que a relação com os índios traz muito esse olhar. E quando eu comecei a produzir alimentos, basicamente descobri que as pessoas não comiam aquilo que elas estavam plantando, porque usavam agrotóxicos sem saber. Muitas vezes o agrotóxico era usado, porque consideravam que o mesmo era um remédio, uma espécie de fortificante para a planta e para o solo. Na hora que eu descobri que elas não comiam o que plantavam, eu resolvi estudar a agricultura orgânica, a agricultura biodinâmica, a permacultura, a agrofloresta…Fui aos poucos desenvolvendo este trabalho no Vale das Palmeiras, até chegar a este ponto que tenho hoje: uma fazenda onde a sua produção é 100% orgânica.
Blog Cidadãos do Mundo: Atualmente você é proprietário de duas RPPNs (a mais recente em 2019), que somam 40 hectares, em Teresópolis, no RJ, no bioma da Mata Atlântica. Por que decidiu transformar estas áreas em unidades de conservação e que tipo de atividades desenvolve nas mesmas?
Marcos Palmeira: A questão da RPPN nasceu com a intenção de formar um corredor ecológico na região onde está a fazenda, junto com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e o Parque Estadual de Três Picos, que faz parte do Mosaico Mico Leão Dourado. A fazenda está localizada entre esses dois parques e a adquiri em 1997. Então, a RPPN foi uma forma de deixar alguma coisa para a humanidade e garantir que nenhuma geração que venha depois de mim possa interferir nesse controle ambiental.
Blog Cidadãos do Mundo: Como você analisa o atual cenário da gestão ambiental no Brasil? Você participa de alguma instância de gestão participativa na área, ou em campanhas?
Marcos Palmeira: O cenário ambiental atual é muito preocupante. Temos um ministro do Meio Ambiente que demonstra estar desconectado do meio ambiente. Uma pessoa que já afirmou desprezar Chico Mendes. Ele está mais próximo do universo da exploração do solo. Eu participo de uma ONG chamada “Uma Gota no Oceano”, É um portal no qual mostramos o que está sendo feito no Brasil com relação aos indígenas; e eu faço a minha parte, na minha vida. Como ator também, no meu dia a dia, o que eu procuro é ter esse respeito pela natureza e pelas pessoas.
Blog Cidadãos do Mundo: Qual a importância do bioma da Mata Atlântica, na sua opinião? O que tem aprendido com esta vivência?
Marcos Palmeira: O bioma da Mata Atlântica é fundamental ao equilíbrio do Brasil. Nós falamos muito da Amazônia porque acabamos com o bioma da Mata Atlântica. O que resta atualmente é muito pouco. Eu sou filiado também a SOS Mata Atlântica, que faz um trabalho incrível de recuperação por lá. Eu estou dentro do bioma e o que eu procuro fazer é exatamente regenerar essa mata que já existiu por aqui, tão exuberante e que hoje está tão pelada. A Mata Atlântica é muito importante nesse equilíbrio, pois ajuda, inclusive, a preservar o Cerrado e outros biomas.
Blog Cidadãos do Mundo: Você milita a favor da causa indígena há muitos anos. Qual é a tua motivação neste recorte de justiça socioambiental e direitos humanos?
Marcos Palmeira: Eu morei com os indígenas durante muito tempo. Fiz vários trabalhos com eles…trabalhei no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, durante um período no início da década de 80. Participei da Frente de Atração Arara, dos Índios Arara no Pará, sob a batuta do indigenista e etnógrafo Sydney Possuelo (hoje com 80 anos), um homem muito respeitado, que já foi presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e presidente do Museu do Índio também. Nessa minha relação com os indígenas, eu entendi que eles também precisam de preservação, precisam preservar as suas culturas e suas crenças. Eu acredito que justiça socioambiental e direitos humanos são os caminhos para um mundo melhor. Acho que não tenho nenhum tipo de radicalismo. Eu consigo enxergar os dois lados. Considero que devemos ter um olhar muito especial para a questão indígena no Brasil, pois eles são os verdadeiros guardiões da floresta.
Blog Cidadãos do Mundo: Você leva o “ambientalista” também para o seu desempenho como artista? Como os “dois” se dialogam?
Marcos Palmeira: A questão ambientalista no meu trabalho como ator vai um pouco de cada personagem. Eu fiz uma personagem bastante significativa em relação a esse homem do campo, seja em Pantanal, seja em Renascer ou em Porto dos Milagres, onde fiz um pescador. Já fiz uma peça interpretando o Lampião…Então, eu estou sempre ligado nesse homem do campo. Para mim, a melhor cara do Brasil está no campo. Eu acho que a gente precisa fazer um trabalho forte no campo para a gente poder ter um êxodo das cidades, para as pessoas voltarem à área rural. Talvez com essa pandemia, isso esteja começando a acontecer. As pessoas enxergarem que você não precisa ocupar tanto as cidades. Eu não consigo diferenciar o meu dia a dia do meu trabalho. Sou um ator ambientalista, uma pessoa muito ligada às questões ambientais porque isso me motiva. Eu acredito nesta integração do homem com a natureza.
- Esta entrevista foi respondida por Marcos Palmeira ao Blog Cidadãos do Mundo – jornalista Sucena Shkrada Resk por email.
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